Já falei ano passado sobre o quanto eu acho uma palhaçada essa história de não comemorar Natal porque é "festa pagã".
Sabe o que eu digo esse ano, em adição ao passado?
Armem suas árvores, comprem suas cidras (ou até bebidas alcoólicas, ora essa!), enfeitem a sua casa, cumprimentem todos com um "Feliz Natal" bem sonoro, sorriam e sejam cordiais. Comprem seus presentes para quem vocês quiserem, embalem tudo em bonitos papéis temáticos vermelho-verde. Cantarolem cantigas (não esqueçam da Noite Feliz, e tb O Holy Night)! Sejam natalinos, pelo amor de Deus!
Ah, o que me lembra: Feliz Natal pra todos!
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
#FaloMermo
O que a venda de água benta do Waldomiro Santiago (a.k.a Igreja Mundial do Poder de Deus), a oração da propina, as inúmeras denúncias de retorno à magia que pesam sobre a IURD, o tal do "paipóstolo", as prosperidades e unções de sucesso (financeiro, sobretudo - ei, amor, felicidade e coisas assim, virou mercadoria pessoas!) têm em comum?
Nelas Deus é capacho, objeto de troca, barganhador, um mesquinho que não se importa de verdade com o que cria. Só ajuda porque recebe algo em troca, o tal "sacrifício".
Sabem por que a corte é necessária? Porque é mais fácil proibir isso e aquilo que mudar a forma que homens e mulheres vêm a si mesmos e o Outro. O Cristianismo atual falha em modificar caráter, em converter (metanoia - mudança de direção, de rumo) o crente; animalzinho de rebanho balindo seus pedidos de bênçãos, ignorando que dele é requerido um caminho mais alto.
Sabem por que vemos "crentes" fazendo coisas frontalmente contra a Palavra - roubando, matando, expulsando filh@ de casa, engravidando mulheres e sumindo, estuprando, colocando dinheiro, cônjuge, namorad@, posses materiais/ideais na frente Dele "em nome de Deus"?
Porque não convertemos ninguém. Nós mudamos seus hábitos, seus trejeitos, suas roupas, linguagem, visão de mundo, sentimentos. Não elas mesmas.
E nem poderíamos.
Somente Ele faz isso. E olha que desconfio que Ele está preferindo trabalhar onde Lhe apraz: nos bastidores, longe dos holofotes das grandes reuniões/cruzadas/shows.
#falomermo
Nelas Deus é capacho, objeto de troca, barganhador, um mesquinho que não se importa de verdade com o que cria. Só ajuda porque recebe algo em troca, o tal "sacrifício".
Sabem por que a corte é necessária? Porque é mais fácil proibir isso e aquilo que mudar a forma que homens e mulheres vêm a si mesmos e o Outro. O Cristianismo atual falha em modificar caráter, em converter (metanoia - mudança de direção, de rumo) o crente; animalzinho de rebanho balindo seus pedidos de bênçãos, ignorando que dele é requerido um caminho mais alto.
Sabem por que vemos "crentes" fazendo coisas frontalmente contra a Palavra - roubando, matando, expulsando filh@ de casa, engravidando mulheres e sumindo, estuprando, colocando dinheiro, cônjuge, namorad@, posses materiais/ideais na frente Dele "em nome de Deus"?
Porque não convertemos ninguém. Nós mudamos seus hábitos, seus trejeitos, suas roupas, linguagem, visão de mundo, sentimentos. Não elas mesmas.
E nem poderíamos.
Somente Ele faz isso. E olha que desconfio que Ele está preferindo trabalhar onde Lhe apraz: nos bastidores, longe dos holofotes das grandes reuniões/cruzadas/shows.
#falomermo
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Ocupado
Estou ocupado demais com o fim do semestre na universidade pra me ocupar com pensamentos profundos; para vociferar danação à destruição do Sagrado pela técnica de marketing (ou qualquer outra); para estabelecer limites à minha auto-investigação semi-paranóide; para ultrapassar estes mesmos limites, sublimando impulsos e dando ouvidos àquelas esferas de mim que (quase) nunca têm voz no meu fórum privado; para inventar palavras e orquestrar maravilhosamente sentenças que dizem muito (pouco?) sobre qualquer assunto que seja; para acreditar que depois dessas chuvas o sol vai esquentar o asfalto de novo; para olhar para o "eterno retorno" e não desesperar. Enfim, ocupado demais para fazer qualquer outra coisa que não seja estar ocupado demais.
É fim de semestre. Mas nunca, nunca mesmo, é o fim de estudo. Prossigo crendo. Prossigo descrendo. Prossigo enganando e desenganando. No fim, é só isso que posso fazer.
Até o próximo semestre.
É fim de semestre. Mas nunca, nunca mesmo, é o fim de estudo. Prossigo crendo. Prossigo descrendo. Prossigo enganando e desenganando. No fim, é só isso que posso fazer.
Até o próximo semestre.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Excurso: Sobre o Tino de Chimeia
Você nunca está certo e nunca vai entender alguma coisa de verdade sobre a sociologia. Você vai ficando louco quando começa a achar que entende... São na verdade só os bons lampejo que você aproveita para si mesmo, mas vai sobreviver de fato dos enganos que atinge ao tentar acertar o que não está afim de estar.
Gostaram?
É dum blog de um amigo meu, que voltou à ativa. E realmente resume o que sinto, não só em relação ao que compartilho com ele em matéria de conhecimento e ethos, i.e., a sociologia, mas também o que sinto em relação ao que não compartilho com ele, a fé cristã.
Ou melhor, o que sinto em relação à vivência da fé cristã dentro de uma instituição humana que carrega o Seu nome historicamente, e carrega-O meio desajeitadamente, num carro de boi qualquer.
Eu tenho a nítida impressão que vivo de enganar os outros, por amor a eles mesmos.
Acward, not?
sábado, 28 de novembro de 2009
O que chamar de "Gospel" ?
Eu precisava atualizar com algum texto, e esse parece bom. Resume, da maneira conturbada que já parece peculiar pros olhos de vocês, o meu problema com o termo gospel e tudo o que ele significa/depreende/simboliza.
Vale um esclarecimento. Não acredito que a solução para o gospel seja uma "volta às raízes" qualquer (coloque aqui a corte stricto sensu, o povo da "Igreja nas casas sem templo" ou qualquer outra mitologia alimentada do tal "Cristianismo apostólico/primitivo") negadora do tempo atual ou abraçar irrestritivamente tudo que é "novo" (pois não é novo, é pastiche). Acredito no caminho do meio, no sujeito, no Espírito que habita individualmente os que crêem.
Talvez seja por isso que a Aline Ramos sumiu? Não se preocupe amiga, até eu me confundo às vezes...
De qualquer forma, esta aí o texto. Meu problema com o gospel.
O movimento gospel se caracteriza, no Brasil, por essa apropriação de músicas, vestimentas e outros aspectos da vida moderna para fins evangelísticos, no final das contas. Basicamente, é isso. O problema é que, como tantas outras coisas, já não é só isso.
O gospel é o pensamento ascético, (in)consciente de sua contradição e ávido por novos pupilos que aceita deixar parte de suas características externas e normas objetivas a fim de trazer o mundo de coisas para si, moldá-lo à sua imagem e semelhança.
Cabe o questionamento: até onde deve ir essa apropriação das coisas “do mundo”, mesmo que os propósitos subjacentes a esta ação sejam “estritamente evangelísticos” ("até onde" como pergunta que é feita em referência à manutenção do sistema de pensamento religioso como tal; segregador e dicotômico. Também pode ser vista da seguinte forma: quais são os limites da apropriação e modelamento que o gospel é capaz de efetuar sem degenerar-se em alguma outra forma de religiosidade, mesmo a não-religiosidade?)?
O gospel apropria-se, molda e transforma, porém mantêm e de fato celebra a dicotomia segregadora do pensamento religioso como tal. O gsopel, que aparece como um “novo modo de ser igreja”, na realiade é apenas outra manifestação do ascetismo pentecostal, do “farisaísmo” — na realidade, é sua consagração a outro nível de força e superioridade simbólica. Aqui, não são somente os líderes eclesiais impondo-se. Também há uma submissão voluntária dos membros, tamanho é o poder simbólico presente na relação mediatizada, pastichizada, entre os membros e seus líderes (“apóstolos”, “pastores”, “bispos”…); o “us and them” incrivelmente retratado com tintas fiéis. Tal poder sempre existiu, melhor dizendo, existiu desde o princípio da religião instituída, contudo é nesta conjuntura em particular — o gospel brasileiro, o neopentecostalismo lato sensu — que ele se mostra mais nítido .
PS: tenho Twitter agora. E blogueio noutro lugar, falando do que me vier na cabeça, só que um foco maior na cultura pop, "nerdismo" e coisas relacionadas.
Vale um esclarecimento. Não acredito que a solução para o gospel seja uma "volta às raízes" qualquer (coloque aqui a corte stricto sensu, o povo da "Igreja nas casas sem templo" ou qualquer outra mitologia alimentada do tal "Cristianismo apostólico/primitivo") negadora do tempo atual ou abraçar irrestritivamente tudo que é "novo" (pois não é novo, é pastiche). Acredito no caminho do meio, no sujeito, no Espírito que habita individualmente os que crêem.
Talvez seja por isso que a Aline Ramos sumiu? Não se preocupe amiga, até eu me confundo às vezes...
De qualquer forma, esta aí o texto. Meu problema com o gospel.
O movimento gospel se caracteriza, no Brasil, por essa apropriação de músicas, vestimentas e outros aspectos da vida moderna para fins evangelísticos, no final das contas. Basicamente, é isso. O problema é que, como tantas outras coisas, já não é só isso.
O gospel é o pensamento ascético, (in)consciente de sua contradição e ávido por novos pupilos que aceita deixar parte de suas características externas e normas objetivas a fim de trazer o mundo de coisas para si, moldá-lo à sua imagem e semelhança.
Cabe o questionamento: até onde deve ir essa apropriação das coisas “do mundo”, mesmo que os propósitos subjacentes a esta ação sejam “estritamente evangelísticos” ("até onde" como pergunta que é feita em referência à manutenção do sistema de pensamento religioso como tal; segregador e dicotômico. Também pode ser vista da seguinte forma: quais são os limites da apropriação e modelamento que o gospel é capaz de efetuar sem degenerar-se em alguma outra forma de religiosidade, mesmo a não-religiosidade?)?
O gospel apropria-se, molda e transforma, porém mantêm e de fato celebra a dicotomia segregadora do pensamento religioso como tal. O gsopel, que aparece como um “novo modo de ser igreja”, na realiade é apenas outra manifestação do ascetismo pentecostal, do “farisaísmo” — na realidade, é sua consagração a outro nível de força e superioridade simbólica. Aqui, não são somente os líderes eclesiais impondo-se. Também há uma submissão voluntária dos membros, tamanho é o poder simbólico presente na relação mediatizada, pastichizada, entre os membros e seus líderes (“apóstolos”, “pastores”, “bispos”…); o “us and them” incrivelmente retratado com tintas fiéis. Tal poder sempre existiu, melhor dizendo, existiu desde o princípio da religião instituída, contudo é nesta conjuntura em particular — o gospel brasileiro, o neopentecostalismo lato sensu — que ele se mostra mais nítido .
PS: tenho Twitter agora. E blogueio noutro lugar, falando do que me vier na cabeça, só que um foco maior na cultura pop, "nerdismo" e coisas relacionadas.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Altitude
Quando quero pensar em algo eu vou pra um lugar alto. Não sei exatamente por qual razão. Acho que tem a ver com distanciar-se de um problema pra resolvê-lo, fuga da tensão do momento, desejos infantis reprimidos. Eu sei lá. O que importa é que eu subo. Nem precisa ser tão alto. Basta minha perna não tocar no chão. Uma vista da cidade ajuda.
Isolamento.
É essa a palavra que talvez descreva melhor o que eu sinto quando subo num lugar desse. E, ao contrário que nossa tendência gregária brasileira faz parecer, é bom ficar só. Às vezes, obviamente - calma mulheres, eu gosto de vocês também - afinal, até Adão reclamou! Mas esse não é o ponto. Não são (necessariamente) mulheres (ou a falta dela) que me "afligem" nesses dias.
Queria subir pra algum lugar e ficar lá até ter uma iluminação entende? Alguma coisa qualquer que me mostrasse "tá aí tonto, é isso que você deveria estar fazendo". Mas é claro que o Alto não trabalha de supetão assim, então...
Leva-me à Rocha mais alta que eu, já que estou aqui vivo ainda. Acredito nos meninos e meninas e nos trevos de quatro folhas.
Cansei. Juro que ia tentar fazer algo engraçado e totalmente (in)voluntário, como meu texto sobre a corte que por alguma razão acharam über-engraçado. Mas hoje não dá não. Sorry. Vem aí um outro texto "Tirando Leite da Pedra" conforme anunciei antes nesse prólogo aí linkado.
Isolamento.
É essa a palavra que talvez descreva melhor o que eu sinto quando subo num lugar desse. E, ao contrário que nossa tendência gregária brasileira faz parecer, é bom ficar só. Às vezes, obviamente - calma mulheres, eu gosto de vocês também - afinal, até Adão reclamou! Mas esse não é o ponto. Não são (necessariamente) mulheres (ou a falta dela) que me "afligem" nesses dias.
Queria subir pra algum lugar e ficar lá até ter uma iluminação entende? Alguma coisa qualquer que me mostrasse "tá aí tonto, é isso que você deveria estar fazendo". Mas é claro que o Alto não trabalha de supetão assim, então...
Leva-me à Rocha mais alta que eu, já que estou aqui vivo ainda. Acredito nos meninos e meninas e nos trevos de quatro folhas.
Cansei. Juro que ia tentar fazer algo engraçado e totalmente (in)voluntário, como meu texto sobre a corte que por alguma razão acharam über-engraçado. Mas hoje não dá não. Sorry. Vem aí um outro texto "Tirando Leite da Pedra" conforme anunciei antes nesse prólogo aí linkado.
sábado, 24 de outubro de 2009
RE: As crianças bruxas estão à solta...
Li isso no blog do pr. Márcio de Sousa
Ele leu isso no blog da Nani. E eu estou repassando.
Me reservo o direito de repassar com as palavras da Nani, blogueira que, embora eu não conheça pessoalmente, respeito muito pela opinião equilibrada e pelo domínio da Palavra. O vídeo tá aí. O texto que vem abaixo é da Nani. De mim, leiam apenas silêncio. Por enquanto.
texto retirado do blog da Nani:
Tendo em vista que alguns destes profeteiros de resultados não tem respeito pela vida, esses rituais podem chegar aqui de forma alterada. Vejamos uma possível linha de pensamento:
Você pode dizer que estou sendo dramática, mas os filhos das trevas são bem espertos. A prática pode vir alterada, mas a justificativa da quantidade é a mesma praga que vemos tantos profeteiros e seus defensores propagando em blogs, no Youtube e na televisão.
Devemos matar o mal pela raiz: precisamos parar com a teologia do cristianismo de popularidade! Aprovação popular não quer dizer conformidade com a vontade de Deus. Precisamos parar com a mentalidade do "Se eu engano muita gente, então eu sou cristão".
Devemos combater o que acontece na África e tentar ajudar essas crianças. Devemos também estar atentos para que isso não aconteça de forma velada ou similar em nosso país.
Ele leu isso no blog da Nani. E eu estou repassando.
Me reservo o direito de repassar com as palavras da Nani, blogueira que, embora eu não conheça pessoalmente, respeito muito pela opinião equilibrada e pelo domínio da Palavra. O vídeo tá aí. O texto que vem abaixo é da Nani. De mim, leiam apenas silêncio. Por enquanto.
texto retirado do blog da Nani:
"Se eu fosse um mentiroso, ele responde, você não veria tanta gente aqui. Isso prova que eu não sou um charlatão."Se a acusação de bruxaria contra crianças está longe de nossa realidade, o argumento usado para legitimar esse fato nos é muito familiar. Infelizmente, em nosso país, muitos se dizem ungidos porque levam milhares de pessoas a uma fé não validada pela Bíblia.
Tendo em vista que alguns destes profeteiros de resultados não tem respeito pela vida, esses rituais podem chegar aqui de forma alterada. Vejamos uma possível linha de pensamento:
- se o líder diz que o aborto é permitido porque as crianças não são geradas pela vontade de Deus,
- então por que fazer com que pais sustentem crianças que não queriam ter?
- Vamos dar uma alternativa a esses pais para se livrarem dessas crianças que já nasceram.
- No Brasil, bruxaria não tem tanto efeito. Vamos amenizar a coisa... Podemos criar as "crianças encostos". Encosto todo brasileiro conhece e muitos acreditam!
Você pode dizer que estou sendo dramática, mas os filhos das trevas são bem espertos. A prática pode vir alterada, mas a justificativa da quantidade é a mesma praga que vemos tantos profeteiros e seus defensores propagando em blogs, no Youtube e na televisão.
Devemos matar o mal pela raiz: precisamos parar com a teologia do cristianismo de popularidade! Aprovação popular não quer dizer conformidade com a vontade de Deus. Precisamos parar com a mentalidade do "Se eu engano muita gente, então eu sou cristão".
Devemos combater o que acontece na África e tentar ajudar essas crianças. Devemos também estar atentos para que isso não aconteça de forma velada ou similar em nosso país.
sábado, 17 de outubro de 2009
"Para que todos sejam um"
Essa foi, como se diz, a oração do Senhor que ainda não foi cumprida - agradeça a Tommy Tenney e seu God's Dreamteam por essa exegese não-tão-ortodoxa-assim. Aqui tem alguns livros pra download.
E se o sonho Dele for nos transformar em parte de Sua inteligência coletiva?
Por que não? Não deveríamos colaborar mais com os nossos, construir conhecimento, vida, propósito e ideias próprias e locais, gerando soluções nossas para os nossos problemas? As igrejas na África possuem um auto-governo invejável pra nós das Américas e Europa. Tão perdidos estamos, sem pai nem mãe, enquanto eles se viram sozinhos, mesmo órfãos. Mas nosso gosto pela hierarquia, autoritarismo e outras doenças como essas - esse BDSM do espírito - nos inclinam pra baixo.
Não temos nós mestres? Não temos nós pastores? Não há óleo aqui em Gileade? Por que recorrer ao outrem para resolver nossos problemas?
PS: Mais um artigo da Série Tirando Leite da Pedra tá chegando. O outro foi aqui.
E se o sonho Dele for nos transformar em parte de Sua inteligência coletiva?
Por que não? Não deveríamos colaborar mais com os nossos, construir conhecimento, vida, propósito e ideias próprias e locais, gerando soluções nossas para os nossos problemas? As igrejas na África possuem um auto-governo invejável pra nós das Américas e Europa. Tão perdidos estamos, sem pai nem mãe, enquanto eles se viram sozinhos, mesmo órfãos. Mas nosso gosto pela hierarquia, autoritarismo e outras doenças como essas - esse BDSM do espírito - nos inclinam pra baixo.
Não temos nós mestres? Não temos nós pastores? Não há óleo aqui em Gileade? Por que recorrer ao outrem para resolver nossos problemas?
PS: Mais um artigo da Série Tirando Leite da Pedra tá chegando. O outro foi aqui.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Cortes e Recortes - ULTIMATE VERSION
Esse texto já teve um prólogo e uma introdução (para os desinformados sobre o que raios é a corte).
Acredito que essa seja minha terceira versão deste texto. Ele já foi uma carta aberta, um manifesto, um desabafo. Só não foi um poema porque não sou tão bom assim. Pois bem, argumentemos então. Só quero lembrar que vou transitar entre um panorama geral e o caso específico da IBMA. Ah, Aline, li os seus textos sobre corte, e me ajudaram bastante!
Qual é meu problema com a corte? É o fato de ela ser uma regra. Não só uma regra na IBMA, mas ela em si é regra, norma, mandamento. Para mim, por mais que bem intencionada, ela desrespeita a individualidade do ser humano que crê em Deus e conta com Ele para regular a sua ética e moral.
Na IBMA pratica-se o "beijo só no altar". Tenho ENORMES problemas com isso (e não pensem que é porque eu tenha um desejo oculto, luxúria indomada ardendo no meu espírito). Quero dizer, não há verdadeiro fundamento bíblico para a proibição do beijo na boca. Todas as argumentações que ouço trabalham com apriorismos extra-bíblicos (como o fato que o beijo na boca é sexo oral - RIDÍCULO! Por definição, o sexo oral é a estimulação da zona erógena masculina ou feminina. E não tem essa de "meu corpo todo é erógeno". Zona erógena é aonde está seus órgãos genitais. Acabou. Você pode sentir prazer em ser tocada(o) em outras partes do corpo, mas zona erógena só tem uma) ou puro senso-comum - geralmente negando ao rapaz/moça qualquer controle sobre suas pulsões sexuais. Por favor, se fôssemos tão descontrolados assim, ninguém chegaria aos 12 anos virgem.
Vamos parar um pouco nessa de não conseguir se controlar. Alguém acha realmente que proibir o casal de se beijar vai bastar pra mitigar o desejo sexual? Pensei que DEUS tivesse dado isso pro homem e pra mulher. Como outros dons Dele, precisa ser administrado, mas não suprimido. Isso porque existem cortes mais radicais, onde até pegar na mão é proibido (ou fortemente desestimulado). Da maneira que vejo, esquece-se o papel do Espírito Santo como agente vivo e eficaz que opera nossa salvação. Sem Ele pra nos santificar, não vale de nada qualquer coisa que façamos... imagina a corte!
Embora eu compreenda os pressupostos e as boas intenções dos propagadores da corte, eu realmente não consigo engolir isso tudo. Entendo que a relativização e subjetivação da ética e moral aparece de maneira assustadora para olhos tradicionais (resisto em dizer "modernos", em referência às coisas que escrevo aqui; a dicotomia moderno/pós-moderno que celebro e ataco na mesma frase) e esse tipo de resposta bem "volta às origens" - lembro de Fredric Jameson e suas palavras sobre o presente perpétuo do sujeito contemporâneo - é totalmente compreensível, embora eu a reprove.
Calma. Respire e, se precisar, releia o último parágrafo (acho que eu mesmo vou fazer isso). Vamos voltar? O presente perpétuo, ou a minha leitura dele, é essa vontade de voltar aos "antigos fundamentos", à "antiga forma", baseados nessa crença estúpida que antigamente as coisas eram melhores... como se a tendência do ser humano não fosse a decadência e a podridão - apesar dos chamados avanços e progressos em várias áreas do conhecimento; tudo às expensas de exploração e destruição de si e do Outro.
A imaginação, o abraçar com todas as nossas forças a subjetividade[1], configuram-se para mim nas grandes armas contra o-que-quer-que-seja-que-estejamos-lutando-contra. Não se pode quebrar escudos de ferros com lanças de madeira e pedra. Não podemos achar que Deus se prenderá numa cultura que não é a nossa por qualquer motivo que seja.
Agora, se com "corte", se quer dizer "relacionamento amoroso com ausência de intercurso sexual e carícias pré-coito (as chamadas preliminares) entre dois cristãos compromissados entre si e sua comunidade de fé com vistas a casarem-se"; bem, não é isso que "namoro cristão", uma expressão bem mais conhecida e antiga, que dizer disso? Por que mudar as palavras em primeiro lugar? Porque acharam que elas não traduziam a força de um compromisso diante da maré pós-moderna? Acharam que mudando o nome iria-se magicamente mudar o pensamento de todos e torná-los subitamente mais parecidos com o modelo de hombridade/feminilidade que se queria[2]? Pois pra mim a falácia desse esforço fica evidente.
Meu ponto: A imposição da corte como "A" alternativa a toda a carnalidade e todo mal é mentirosa. Não é a corte. É o Espírito. Sim, agora vocês concordam comigo. Mas me digam se, lá no fundo, não existe uma confiança no sistema religioso que construiu a noção da corte? Vocês também se sentem atraídos pelo medievalismo, pelo aparente cavalherismo disso tudo? Não se enganem, TUDO que a corte alega inaugurar já existia. Ela é pastiche, decaupagé, papéis-machê colados para formar uma estátua gigantesca. Ela própria é sintoma desses tempos sem Pai e sem Mãe.
A solução não é o resgate de um pretenso modelo cultural e historicamente condicionado, nem o falar com outra linguagem as mesmas palavras, nem normatizar a conduta dos cristãos sob o jugo da nova "Lei Mosaica". A solução é tornar cada um responsável por sua própria vida perante o Eterno e pararmos de jogar a culpa por nossos erros no diabo, no sistema ou no Outro.
Não sou eu que vou dizer a quem quer que me leia o que fazer. Sou um ser humano. Posso até recorrer à ética, à tal "Lei natural" do século XVII-XIX, aos imperativos categóricos kantianos. Mas não posso condicionar ninguém à Palavra. Ao que Ela significa para o que a ouve. Todo o foco é o Indivíduo. É Deus, o Absoluto, o Absurdo (porque não-racionalizável), em relação dialética com o Indivíduo[3]. Não sou legitimado como autoridade eclesiástica, não possuo o corpus doutrinário apropriado, não sou velho o suficiente pra apelar para a sabedoria das cãs, nem sou novo o suficiente para ser desculpado de possíveis heresias. Em resumo, tô ferrado!
Agora, eu sei que vai chover pedra após este texto, e quero mais jogar beisebol com elas!
Por favor, critiquem, analisem, concordem, discordem...
E eu sei, tá confuso pra caramba. Desculpem por isso.
_______________
[1] Subjetivo, aqui, é o oposto ao objetivo, isto é, relativo ao sujeito, à pessoa e não no sentido comum e incorreto de "relativo" (as oposições são relativo/absoluto e subjetivo/objetivo e não, elas não são a mesma coisa).
[2]Que é um modelo medievalista e conservador dos papéis de gênero consagrados no Ocidente, homem dominador e mulher dominada.
[3] Vide Kierkegaard em Temor e Tremor para a noção de Absurdo, Rudolph Otto sobre a irracionalidade do Sagrado (que ele chamava de caráter numinoso) e Karl Barth em Church Dogmatics sobre a dialética entre Deus e o homem. Ou você pode buscar na Wikipedia, eles tem boas introduções sobre esses autores. Se você colocar em inglês, acho até melhor, mesmo que os artigos em português não sejam tão maus assim.
Acredito que essa seja minha terceira versão deste texto. Ele já foi uma carta aberta, um manifesto, um desabafo. Só não foi um poema porque não sou tão bom assim. Pois bem, argumentemos então. Só quero lembrar que vou transitar entre um panorama geral e o caso específico da IBMA. Ah, Aline, li os seus textos sobre corte, e me ajudaram bastante!
Qual é meu problema com a corte? É o fato de ela ser uma regra. Não só uma regra na IBMA, mas ela em si é regra, norma, mandamento. Para mim, por mais que bem intencionada, ela desrespeita a individualidade do ser humano que crê em Deus e conta com Ele para regular a sua ética e moral.
Na IBMA pratica-se o "beijo só no altar". Tenho ENORMES problemas com isso (e não pensem que é porque eu tenha um desejo oculto, luxúria indomada ardendo no meu espírito). Quero dizer, não há verdadeiro fundamento bíblico para a proibição do beijo na boca. Todas as argumentações que ouço trabalham com apriorismos extra-bíblicos (como o fato que o beijo na boca é sexo oral - RIDÍCULO! Por definição, o sexo oral é a estimulação da zona erógena masculina ou feminina. E não tem essa de "meu corpo todo é erógeno". Zona erógena é aonde está seus órgãos genitais. Acabou. Você pode sentir prazer em ser tocada(o) em outras partes do corpo, mas zona erógena só tem uma) ou puro senso-comum - geralmente negando ao rapaz/moça qualquer controle sobre suas pulsões sexuais. Por favor, se fôssemos tão descontrolados assim, ninguém chegaria aos 12 anos virgem.
Vamos parar um pouco nessa de não conseguir se controlar. Alguém acha realmente que proibir o casal de se beijar vai bastar pra mitigar o desejo sexual? Pensei que DEUS tivesse dado isso pro homem e pra mulher. Como outros dons Dele, precisa ser administrado, mas não suprimido. Isso porque existem cortes mais radicais, onde até pegar na mão é proibido (ou fortemente desestimulado). Da maneira que vejo, esquece-se o papel do Espírito Santo como agente vivo e eficaz que opera nossa salvação. Sem Ele pra nos santificar, não vale de nada qualquer coisa que façamos... imagina a corte!
Embora eu compreenda os pressupostos e as boas intenções dos propagadores da corte, eu realmente não consigo engolir isso tudo. Entendo que a relativização e subjetivação da ética e moral aparece de maneira assustadora para olhos tradicionais (resisto em dizer "modernos", em referência às coisas que escrevo aqui; a dicotomia moderno/pós-moderno que celebro e ataco na mesma frase) e esse tipo de resposta bem "volta às origens" - lembro de Fredric Jameson e suas palavras sobre o presente perpétuo do sujeito contemporâneo - é totalmente compreensível, embora eu a reprove.
Calma. Respire e, se precisar, releia o último parágrafo (acho que eu mesmo vou fazer isso). Vamos voltar? O presente perpétuo, ou a minha leitura dele, é essa vontade de voltar aos "antigos fundamentos", à "antiga forma", baseados nessa crença estúpida que antigamente as coisas eram melhores... como se a tendência do ser humano não fosse a decadência e a podridão - apesar dos chamados avanços e progressos em várias áreas do conhecimento; tudo às expensas de exploração e destruição de si e do Outro.
A imaginação, o abraçar com todas as nossas forças a subjetividade[1], configuram-se para mim nas grandes armas contra o-que-quer-que-seja-que-estejamos-lutando-contra. Não se pode quebrar escudos de ferros com lanças de madeira e pedra. Não podemos achar que Deus se prenderá numa cultura que não é a nossa por qualquer motivo que seja.
Agora, se com "corte", se quer dizer "relacionamento amoroso com ausência de intercurso sexual e carícias pré-coito (as chamadas preliminares) entre dois cristãos compromissados entre si e sua comunidade de fé com vistas a casarem-se"; bem, não é isso que "namoro cristão", uma expressão bem mais conhecida e antiga, que dizer disso? Por que mudar as palavras em primeiro lugar? Porque acharam que elas não traduziam a força de um compromisso diante da maré pós-moderna? Acharam que mudando o nome iria-se magicamente mudar o pensamento de todos e torná-los subitamente mais parecidos com o modelo de hombridade/feminilidade que se queria[2]? Pois pra mim a falácia desse esforço fica evidente.
Meu ponto: A imposição da corte como "A" alternativa a toda a carnalidade e todo mal é mentirosa. Não é a corte. É o Espírito. Sim, agora vocês concordam comigo. Mas me digam se, lá no fundo, não existe uma confiança no sistema religioso que construiu a noção da corte? Vocês também se sentem atraídos pelo medievalismo, pelo aparente cavalherismo disso tudo? Não se enganem, TUDO que a corte alega inaugurar já existia. Ela é pastiche, decaupagé, papéis-machê colados para formar uma estátua gigantesca. Ela própria é sintoma desses tempos sem Pai e sem Mãe.
A solução não é o resgate de um pretenso modelo cultural e historicamente condicionado, nem o falar com outra linguagem as mesmas palavras, nem normatizar a conduta dos cristãos sob o jugo da nova "Lei Mosaica". A solução é tornar cada um responsável por sua própria vida perante o Eterno e pararmos de jogar a culpa por nossos erros no diabo, no sistema ou no Outro.
Não sou eu que vou dizer a quem quer que me leia o que fazer. Sou um ser humano. Posso até recorrer à ética, à tal "Lei natural" do século XVII-XIX, aos imperativos categóricos kantianos. Mas não posso condicionar ninguém à Palavra. Ao que Ela significa para o que a ouve. Todo o foco é o Indivíduo. É Deus, o Absoluto, o Absurdo (porque não-racionalizável), em relação dialética com o Indivíduo[3]. Não sou legitimado como autoridade eclesiástica, não possuo o corpus doutrinário apropriado, não sou velho o suficiente pra apelar para a sabedoria das cãs, nem sou novo o suficiente para ser desculpado de possíveis heresias. Em resumo, tô ferrado!
Agora, eu sei que vai chover pedra após este texto, e quero mais jogar beisebol com elas!
Por favor, critiquem, analisem, concordem, discordem...
E eu sei, tá confuso pra caramba. Desculpem por isso.
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[1] Subjetivo, aqui, é o oposto ao objetivo, isto é, relativo ao sujeito, à pessoa e não no sentido comum e incorreto de "relativo" (as oposições são relativo/absoluto e subjetivo/objetivo e não, elas não são a mesma coisa).
[2]Que é um modelo medievalista e conservador dos papéis de gênero consagrados no Ocidente, homem dominador e mulher dominada.
[3] Vide Kierkegaard em Temor e Tremor para a noção de Absurdo, Rudolph Otto sobre a irracionalidade do Sagrado (que ele chamava de caráter numinoso) e Karl Barth em Church Dogmatics sobre a dialética entre Deus e o homem. Ou você pode buscar na Wikipedia, eles tem boas introduções sobre esses autores. Se você colocar em inglês, acho até melhor, mesmo que os artigos em português não sejam tão maus assim.
sábado, 26 de setembro de 2009
Aim mãe, posso não botar título?
TIrando a poeira digital e atualizando as coisas pros meus fiéis leitores.
Mudou o endereço do blog onde eu postava minhas coisas, virou um wordpress. Algumas lambadas e reformulações nas dinâmicas internas aconteceram por ali também. Meus grupos sociais continuam gravitando na velocidade normal, cada um em sua órbita. Preciso averiguar se as mudanças no meu inner circle são permanentes ou temporárias. Tenho feito mais devocionais. Tenho estudado mais. Surtado menos. Falado menos. Segurado as pontas de várias situações. Dialogado com as duas instâncias psíquicas internas a mim com mais frequência. Fiz o Twitter do ministério Comunicar lá da IBMA. Amigos meus encontraram equilíbrio em certas coisas, e outros ainda não.
Também não fiz umas outras coisas.
Não escrevi e nem postei meu texto prometido sobre o que penso da praga da corte. A verdade é que perdi a liga de argumentar sobre isso. O meio cristão é sectário demais pra aceitar debates. A máquina não parou de rolar por causa de mim e nem vai. A Academia não fica tão atrás, é verdade, porém pelo menos "do lado de lá" as pessoas ainda fingem que escutam.
Enfim, fiz e não fiz muitas coisas. Como todos nós. O cristianismo contemporâneo nos acusaria de fracasso por isso. Afinal, temos que ser "constantes" e "firmes". Sempre que nos propormos a algo, terminemos! A desistência, o cansaço e a fadiga não são admitidos. Afinal, somos mais que vencedores! Nada de humanidade aqui, por favor!
Tenho vontade de perguntar pra essas pessoas se elas não se cansam de serem perfeitas. Você não tem?
"Lost on my senses / Emotionally numb / Blinded!"
(Evergrey - Blinded)
Mudou o endereço do blog onde eu postava minhas coisas, virou um wordpress. Algumas lambadas e reformulações nas dinâmicas internas aconteceram por ali também. Meus grupos sociais continuam gravitando na velocidade normal, cada um em sua órbita. Preciso averiguar se as mudanças no meu inner circle são permanentes ou temporárias. Tenho feito mais devocionais. Tenho estudado mais. Surtado menos. Falado menos. Segurado as pontas de várias situações. Dialogado com as duas instâncias psíquicas internas a mim com mais frequência. Fiz o Twitter do ministério Comunicar lá da IBMA. Amigos meus encontraram equilíbrio em certas coisas, e outros ainda não.
Também não fiz umas outras coisas.
Não escrevi e nem postei meu texto prometido sobre o que penso da praga da corte. A verdade é que perdi a liga de argumentar sobre isso. O meio cristão é sectário demais pra aceitar debates. A máquina não parou de rolar por causa de mim e nem vai. A Academia não fica tão atrás, é verdade, porém pelo menos "do lado de lá" as pessoas ainda fingem que escutam.
Enfim, fiz e não fiz muitas coisas. Como todos nós. O cristianismo contemporâneo nos acusaria de fracasso por isso. Afinal, temos que ser "constantes" e "firmes". Sempre que nos propormos a algo, terminemos! A desistência, o cansaço e a fadiga não são admitidos. Afinal, somos mais que vencedores! Nada de humanidade aqui, por favor!
Tenho vontade de perguntar pra essas pessoas se elas não se cansam de serem perfeitas. Você não tem?
"Lost on my senses / Emotionally numb / Blinded!"
(Evergrey - Blinded)
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Brainstorms e dissidências
Clarificação: o que é brainstorm e dissidência.
E lá estava eu, no culto de domingo à tarde na minha igreja (que aliás é televisionado, querendo assistir pela curiosidade de o que alguém como eu faz ali, clique aqui - propaganda mode OFF), com uma amiga que não vejo com muita frequência. Estávamos ali há horas, com reuniões e coisas assim pra fazer, e outras ainda para se estar após aquele culto, quando nós dois fomos surpreendidos pela frase bombástica:
Pasmado procurei a partir daí prestar bastante atenção no que era dito pelo pastor - já que o que ele diz se tornou progressivamente (muito) mais importante do que a Bíblia diz. Melhor ainda, no que a ortodoxia diz que ela diz. Ou dizia, porque a ortodoxia perdeu muito da sua proeminência nestes tempos pós-modernos lyotardianos onde a performance e a rapidez da informação que passa entre o input e output é a verdadeira estrela do conhecimento ético, moral e estético.
O importante é que uma mensagem que prometia muito entregou momentos marcantes, permeados naquela cobertura de palavras de sempre. Entretanto, foi mais do que muito que eu esperava, e isso já é muita coisa. Falou comigo. Basta.
Penso que esse discurso subversivo de hierarquia eclesiástica (não necessariamente pastor-membros, antes todas as relações de autoridade dentro de uma igreja "M12") está fadado a permanecer isto: um discurso. Por razões que ainda não sou capaz de formular inteiramente, acredito que a decadência e a "mornidão espiritual" sejam absolutamente consequências necessárias da Igreja atual, com causas provindas dela mesma. Somos nosso próprio diabo, por assim dizer. O Avivamento (com maiúscula mesmo) é necessariamente interior e subjetivo e daí se manifesta no exterior, e é necessário que seja desta forma (como efetivamente foi no evento prototípico de Atos 2), afinal, o Absurdo não é em si algo totalmente outro?
A discrepância, a contradição, o conflito entre o sagrado e o profano, esses dois titãs aparentes criadores e destruidores da vida humana! Não é por nada que Shiva e o maniqueísmo (aqui tem um estudo psicanalítico interessante, ainda nisso) surgiram. Não parece ao humano moderno por estar imerso em desencantamento e racionalidade instrumental, mas a vida É terrivel, fascinante e suplantadora de nós. Daí o temor ao Divino, não a barganha que se institui no arraial evangélico.
O "Antigo Testamento", tão venerado nesses tempos de M12 e profecias mais abundantes que brigadeiro em festa de criança, aponta claramente esse caráter outro e por isso horrible (como Calvino diria acerca da predestinação - links contra e a favor) do Divino usando o simbolismo da época - fumaça, fogo, luz cegante... Ele recorreu a estes símbolos na sua "conversa infantil" (Calvino) pra que nós entendéssemos este fundamento: Ele é além de nós.
Por isso Jesus se torna o Mediador, o que liga lá e cá, que junta este mundo e o porvir em Si mesmo e todas as coisas reúne em Si mesmo. Não há "mundo exterior", um "mundo" na acepção comum do crente, esse lugar onde Deus ou Sua influência não está. Existem locais na rede social que a Igreja não atua de forma proeminente. A prática cristã (e SEMPRE é ela a culpada!) nega este postulado, mesmo intelectualmente concordando com ele, ao prescrever o tabu, a proibição, o maldito "não toques, não proves, não manuseies" que Paulo tanto falou contra (cl 2:16-23)! Pois é isto, o tabu com aparência de santidade, que nega o poder do querigma de Cristo - sois livres.
Não é isto o gospel? O esforço de criar uma bolha cultural para que todos vejam como somos diferentes? Não é posar para as fotos do "mundo" (argh!) com um sorriso largo e artificial nos lábios? Afinal, todos somos poderosos e capazes não é? Todos temos todo o controle e coisas como crises existenciais, depressões e problemas afins não nos afetam! Pois temos Deus em nosso coração! Bendita panacéia contra todo o mal! E isso nos basta.
I wonder... will that be?
O gospel mascara, melhor, cimenta a máscara social que chamamos "testemunho cristão" (pontuei isso uma vez) e massacra nossa individualidade dada por Ele (veja aqui). Violenta-nos e gostamos disso, pois achamos que esta dor é cura para os ossos. Dançando condenados, alegremente condenados.
Cesso o mindstorming por aqui.
E lá estava eu, no culto de domingo à tarde na minha igreja (que aliás é televisionado, querendo assistir pela curiosidade de o que alguém como eu faz ali, clique aqui - propaganda mode OFF), com uma amiga que não vejo com muita frequência. Estávamos ali há horas, com reuniões e coisas assim pra fazer, e outras ainda para se estar após aquele culto, quando nós dois fomos surpreendidos pela frase bombástica:
"Precisamos transformar regras e normas em relacionamentos".
Pasmado procurei a partir daí prestar bastante atenção no que era dito pelo pastor - já que o que ele diz se tornou progressivamente (muito) mais importante do que a Bíblia diz. Melhor ainda, no que a ortodoxia diz que ela diz. Ou dizia, porque a ortodoxia perdeu muito da sua proeminência nestes tempos pós-modernos lyotardianos onde a performance e a rapidez da informação que passa entre o input e output é a verdadeira estrela do conhecimento ético, moral e estético.
O importante é que uma mensagem que prometia muito entregou momentos marcantes, permeados naquela cobertura de palavras de sempre. Entretanto, foi mais do que muito que eu esperava, e isso já é muita coisa. Falou comigo. Basta.
Penso que esse discurso subversivo de hierarquia eclesiástica (não necessariamente pastor-membros, antes todas as relações de autoridade dentro de uma igreja "M12") está fadado a permanecer isto: um discurso. Por razões que ainda não sou capaz de formular inteiramente, acredito que a decadência e a "mornidão espiritual" sejam absolutamente consequências necessárias da Igreja atual, com causas provindas dela mesma. Somos nosso próprio diabo, por assim dizer. O Avivamento (com maiúscula mesmo) é necessariamente interior e subjetivo e daí se manifesta no exterior, e é necessário que seja desta forma (como efetivamente foi no evento prototípico de Atos 2), afinal, o Absurdo não é em si algo totalmente outro?
A discrepância, a contradição, o conflito entre o sagrado e o profano, esses dois titãs aparentes criadores e destruidores da vida humana! Não é por nada que Shiva e o maniqueísmo (aqui tem um estudo psicanalítico interessante, ainda nisso) surgiram. Não parece ao humano moderno por estar imerso em desencantamento e racionalidade instrumental, mas a vida É terrivel, fascinante e suplantadora de nós. Daí o temor ao Divino, não a barganha que se institui no arraial evangélico.
O "Antigo Testamento", tão venerado nesses tempos de M12 e profecias mais abundantes que brigadeiro em festa de criança, aponta claramente esse caráter outro e por isso horrible (como Calvino diria acerca da predestinação - links contra e a favor) do Divino usando o simbolismo da época - fumaça, fogo, luz cegante... Ele recorreu a estes símbolos na sua "conversa infantil" (Calvino) pra que nós entendéssemos este fundamento: Ele é além de nós.
Por isso Jesus se torna o Mediador, o que liga lá e cá, que junta este mundo e o porvir em Si mesmo e todas as coisas reúne em Si mesmo. Não há "mundo exterior", um "mundo" na acepção comum do crente, esse lugar onde Deus ou Sua influência não está. Existem locais na rede social que a Igreja não atua de forma proeminente. A prática cristã (e SEMPRE é ela a culpada!) nega este postulado, mesmo intelectualmente concordando com ele, ao prescrever o tabu, a proibição, o maldito "não toques, não proves, não manuseies" que Paulo tanto falou contra (cl 2:16-23)! Pois é isto, o tabu com aparência de santidade, que nega o poder do querigma de Cristo - sois livres.
Não é isto o gospel? O esforço de criar uma bolha cultural para que todos vejam como somos diferentes? Não é posar para as fotos do "mundo" (argh!) com um sorriso largo e artificial nos lábios? Afinal, todos somos poderosos e capazes não é? Todos temos todo o controle e coisas como crises existenciais, depressões e problemas afins não nos afetam! Pois temos Deus em nosso coração! Bendita panacéia contra todo o mal! E isso nos basta.
I wonder... will that be?
O gospel mascara, melhor, cimenta a máscara social que chamamos "testemunho cristão" (pontuei isso uma vez) e massacra nossa individualidade dada por Ele (veja aqui). Violenta-nos e gostamos disso, pois achamos que esta dor é cura para os ossos. Dançando condenados, alegremente condenados.
Cesso o mindstorming por aqui.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Excurso de pessoalidade
(publiquei isso antes, mas realmente acho necessário voltar a esse assunto, ou à falta dele)
É verdade que nunca quis conquistar o mundo. Especialmente quando esses sonhos megalômanos, não tão obviamente formulados, ocultos em frases como "conquistaremos esta terra", tomaram conta das igrejas evangélicas belenenses.
Não sou contra sonhos grandes. O próprio Cristianismo é, de certa forma, um sonho. Pense comigo isso: somos tão além-do-mundo (ou assim deveríamos ser...) que tudo o que cremos é sonho, reformulando, pois como é necessário fazer esta constante reforma e retificação; o fundamental das nossas crenças está baseado no sonho, no não-racional, na fé.
É verdade que nunca quis conquistar o mundo. Especialmente quando esses sonhos megalômanos, não tão obviamente formulados, ocultos em frases como "conquistaremos esta terra", tomaram conta das igrejas evangélicas belenenses.
Não sou contra sonhos grandes. O próprio Cristianismo é, de certa forma, um sonho. Pense comigo isso: somos tão além-do-mundo (ou assim deveríamos ser...) que tudo o que cremos é sonho, reformulando, pois como é necessário fazer esta constante reforma e retificação; o fundamental das nossas crenças está baseado no sonho, no não-racional, na fé.
Todos que têm certa afinidade com a doutrina cristã sabem disso, que Deus está "além de nós", nisto os católicos o sentem mais que os protestantes, ao menos alguns deles (isso vale pros dois lados) deduzo. O próprio "Deus é fiel", "Deus é grande" e outros bordões repetidos em tom de graça, devoção ou pura troça conotam essa qualidade transcendente Dele, como que dizendo, seja para o (nosso) bem ou mal, "ei Você que tá aí em cima, me ouve seu...".
Talvez o problema esteja no exagero. "Não sejas demasiadamente santo,nem demasiadamente sábio, porque te destruirias a ti mesmo?" (Ec 7:16), parte rejeitada de um livro esquecido. Quem sabe por que não convém a estes sonhadores enfastiados com seu banquete do espírito, quem sabe por que os tempos atuais desprezem a frugalidade ou ainda por outro fator que me escapa agora.
Ultimamente, contudo, tenho sentido uma compulsão para voltar a sonhar. Calma, nada de chavões gospéis nem esse discurso reducionista que equipara o projeto humano ao Divino - quer prova maior do que "Deus satisfará os desejos do teu coração", citando Sl 37:4-6, esquecendo-se (que conveniente!) de que é o desejo do justo que Ele satisfaz. E nada de "somos justificados por Cristo" aqui. Justiça é santidade pessoal, ética e moral cristãs aqui, não outra coisa. Sou forçado a esses excursos...
O sonho é a manifestação do inconsciente, do arquétipo primário, escolha sua escola psicológica. Mas é algo humano, um desejo de ter qualquer-coisa-que-não-seja-esta, poder entrar num prédio onde (teoricamente) todos são irmãos e sentir-se verdadeiramente assim, não apenas massa, fundo de uma figura patética que só sabe "clamar por mais" sem saber que "mais" é este, e pra quê fazer isso. Algo que não me faça sentir culpado por saber demais, por favor? Existirá outra fé que não esta, diferente não em objeto de culto, mas em prática e cosmovisão? Existirá fé como esta, que reconhece que Deus está em todos os lugares e que nós somos a esplêndida realidade?
Alguém me responde essa? Recorra à subjetividade, ao movimento da igreja emergente, à própria pós-modernidade, à tradição dos pais, a qualquer coisa, mas fale algo! Fale algo.
Alguém? Ou é mais um eco no vazio?
*Dramaticidade pretendida*
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Vai Marinaaaaaa !!!!!
Desde de manhã, acompanho os desdobramentos da decisão da senadora acreana Marina da Silva de sair do PT e (provavelmente) integrar o PV.
Como a Salete Lemos acabou de dizer no Jornal da CNT, é um alívio para os que, como eu, se indiginam com o rodízio de masssas em Brasília, saber que existe alguém que possui honra pra sair de um lugar que não mais a representa enquanto pessoa pública.
Eu realmente espero que essa articulação com o PV dê certo para a carreira política dela. Sou MUITO simpático às bandeiras históricas do Partido Verde e da própria Marina (como cidadão e cristão sensível à questão ambiental e pasmo de saber que muitas pessoas "religiosas" não concordam comigo) e votaria nela caso ela se lançasse como candidata à Presidência - e desta vez não seria simplesmente pela minha tendência de votar em "azarões políticos", mas por real afinidade política/ideológica.
Ainda nisso, achei interessantíssimo que nenhum telejornal citou (e provavelmente não o fará, queira Deus) o fato que a senadora Marina da Silva é evangélica, membra da Assembléia de Deus, se não me falha a memória. Outro motivo pelo qual me animo com sua possível candidatura - calma! Não é por esse papo-furado de "irmão vota em irmão" ou "tomar posse da terra", "converter essa nação"! Credo! Essa espiritualização da política simplemente não me cabe, e acredito que não faça parte do Cristianismo primitivo (leia os negritos da citação que fiz). Gosto da ideia de uma cristã no pleito presidencial porque ela não faz questão de transformar isso em plataforma política, e duvido muito que ela o faria.
Tem também a questão de "pagar pra ver" pra essa teoria que prega que a solução do Brasil é um presidente crente.
Pois bem, veremos.
Como a Salete Lemos acabou de dizer no Jornal da CNT, é um alívio para os que, como eu, se indiginam com o rodízio de masssas em Brasília, saber que existe alguém que possui honra pra sair de um lugar que não mais a representa enquanto pessoa pública.
Eu realmente espero que essa articulação com o PV dê certo para a carreira política dela. Sou MUITO simpático às bandeiras históricas do Partido Verde e da própria Marina (como cidadão e cristão sensível à questão ambiental e pasmo de saber que muitas pessoas "religiosas" não concordam comigo) e votaria nela caso ela se lançasse como candidata à Presidência - e desta vez não seria simplesmente pela minha tendência de votar em "azarões políticos", mas por real afinidade política/ideológica.
Ainda nisso, achei interessantíssimo que nenhum telejornal citou (e provavelmente não o fará, queira Deus) o fato que a senadora Marina da Silva é evangélica, membra da Assembléia de Deus, se não me falha a memória. Outro motivo pelo qual me animo com sua possível candidatura - calma! Não é por esse papo-furado de "irmão vota em irmão" ou "tomar posse da terra", "converter essa nação"! Credo! Essa espiritualização da política simplemente não me cabe, e acredito que não faça parte do Cristianismo primitivo (leia os negritos da citação que fiz). Gosto da ideia de uma cristã no pleito presidencial porque ela não faz questão de transformar isso em plataforma política, e duvido muito que ela o faria.
Tem também a questão de "pagar pra ver" pra essa teoria que prega que a solução do Brasil é um presidente crente.
Pois bem, veremos.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Espantando moscas!
Semana agitadinha essa que passou né? Ao menos pra mim.
Para o resto do Brasil, vai começar agora com essa história de guerrinha Globo vs. Record. Vi hoje o Jornal da Record, e mais cedo o Jornal Hoje e o noticiário local daqui de belém (não sei o nome) e agora sentei e vi outras coisas na net. 2009 não é 1999, muita coisa aconteceu de lá pra cá. Tanto a Globo como a Record não são o que eram e sinceramente acho que isso vai dar muita areia na cara de "neguinho" (gíria daqui tá? Nada de racismo!) por aí. Vamos ver né?
Eu que não vou dar uma de Malafaia e comparar o Macedo com Lúcifer pré-queda (sério, olha aqui). Tenho ENORMES reservas a tudo que a IURD, Macedo ou Record representam - e olha que estou sendo supergentil hoje, os que me lêem a mais tempo sabem disso - mas isso do Malafaia é demais também. Aliás, também não tenho muita simpatia com ele, nem com o Feliciano, Rodovalho ou seja lá quem mais desse povo "do fogo" (prefiro o nome real de neopentecostal, obrigado). Mas isso é outra história. Basta dizer que "fogo" dentro de um contexto escrituralista, tem mais a ver com purificação e vida correta perante a sociedade do que esse "re-tê-tê" barato aí.
Sei que hoje tá bem curto, mas prometo coisa mais focada nessa semana. Talvez (finalmente!) o texto sobre a corte, um outro que tenho sobre a arte e o Evangelho (esse daria mais trabalho) ou alguma outra coisa. Desculpem pelo twitter daí de cima e comentem tá?
PS: Carla, já estou te seguindo, alias, bons textos, sinceros como tem que ser as coisas por aqui na blogosfera. Mas poxa, habilita os comentários né?
Para o resto do Brasil, vai começar agora com essa história de guerrinha Globo vs. Record. Vi hoje o Jornal da Record, e mais cedo o Jornal Hoje e o noticiário local daqui de belém (não sei o nome) e agora sentei e vi outras coisas na net. 2009 não é 1999, muita coisa aconteceu de lá pra cá. Tanto a Globo como a Record não são o que eram e sinceramente acho que isso vai dar muita areia na cara de "neguinho" (gíria daqui tá? Nada de racismo!) por aí. Vamos ver né?
Eu que não vou dar uma de Malafaia e comparar o Macedo com Lúcifer pré-queda (sério, olha aqui). Tenho ENORMES reservas a tudo que a IURD, Macedo ou Record representam - e olha que estou sendo supergentil hoje, os que me lêem a mais tempo sabem disso - mas isso do Malafaia é demais também. Aliás, também não tenho muita simpatia com ele, nem com o Feliciano, Rodovalho ou seja lá quem mais desse povo "do fogo" (prefiro o nome real de neopentecostal, obrigado). Mas isso é outra história. Basta dizer que "fogo" dentro de um contexto escrituralista, tem mais a ver com purificação e vida correta perante a sociedade do que esse "re-tê-tê" barato aí.
Sei que hoje tá bem curto, mas prometo coisa mais focada nessa semana. Talvez (finalmente!) o texto sobre a corte, um outro que tenho sobre a arte e o Evangelho (esse daria mais trabalho) ou alguma outra coisa. Desculpem pelo twitter daí de cima e comentem tá?
PS: Carla, já estou te seguindo, alias, bons textos, sinceros como tem que ser as coisas por aqui na blogosfera. Mas poxa, habilita os comentários né?
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Resenhando uma amiga...
...espero que ela não se importe. =]
Como já disse antes, agora sou editor de um outro blog, mais voltado para um Cristianismo mais "institucional" ou o quanto isso é possível tendo alguém como eu na frente disso. Não estou sozinho nessa, tem pessoas maravilhosas andando comigo e Deus queira que haja muitas outras. Mas não é sobre isso que quero falar agora.
Uma dessas pessoas, a Alynne, escreveu um texto neste blog, no qual ela fala contra a nossa tendência de separar vida espiritual de vida secular (uma diferença apenas didática que, como tantas outras didaquês, acabamos tomando como "a" regra), coisa que eu também tenho levantado minha pena virtual e minha língua (às vezes) ferina.
A divisão entre sagrado e profano é MUITO antiga, talvez inscrita mesmo na própria ordem das coisas (penso em Is 45:7 e Gn 1:4), mas não é por isso que devo achar que tudo está ótimo do jeito que está e que toda essa neve em Nárnia é uma coisa natural. Quero dizer, sagrado é uma coisa e o profano é sua negação, tudo bem, mas quem diz o que é isto e aquilo? A Bíblia, correto? Mas ela precisa ser interpretada pelo sujeito e esse axioma que é a base de toda a merda que se conhece - ouça-se a multiplicidade de denominações cristãs, cada uma dizendo-se "a" igreja (e não me venham com besteira e dizer que elas não o fazem. É a sua afirmação, negar o outro). Não é "tudo culpa de Lutero", como digo de brincadeira, mas suas ações tiveram essa consequência, ele querendo ou não. Acontece, ora essa. As coisas saem do controle.
Jesus, por outro lado, dizia "ouviste o que disseram os antigos (...) mas Eu vos digo", em um claro discurso de superioridade e controle sobre suas palavras e ações, aliás, Ele é o único que poderia afirmar tais coisas (Ele podia tornar cabelos brancos e pretos...) e ainda ser inculpável. Jesus era ascético, não nos enganemos nisso, mas não na forma exterior, limpando copos por fora e evitando membros de outra etnia. Ele o era enquanto verdadeiro asceta, pregando Sua supremacia interior, a supremacia de Suas palavras, sobre qualquer outra coisa/pessoa/tempo que existiu ou viesse a existir. O tal do querigma suprahistórico de Rudolph Bultmann(em inglês) poderia até se aplicar nisso, eu acho. Mas o ponto ainda não é esse.
Então temos que a divisão sagrado/profano é um fato histórico e social recorrente nas sociedades humanas (e talvez inscrito na própria estrutura do mundo) e vamos tomá-la por certo. Jesus reforça essa concepção, mas diz ao mesmo tempo que certas coisas consideradas santas em seu tempo não eram tão santas assim. Certo. E agora?
A questão que a Alynne não levanta, acho que por falta de espaço mesmo, é justamente essa: Jesus é o exemplo de vida para o cristão. Logo, se Ele não separava em compartimentos estanques as áreas de sua vida (trabalho| igreja| faculdade| família | etc.) por que fazermos isso? Alynne diz para não o fazermos, e aponta para Jesus como representante desse caminho melhor, da devoção total e completa (os "100% em tudo" do texto), algo bem pietista mesmo. Mas o por quê de não conseguirmos seguir o exemplo do Mestre nesse particular fica intocado. É tudo correto, porém incompleto (crítica construtiva tá legal amiga?). Se tenho algumas teorias a respeito? Ei, você não lê o blog? Convido você a fazer isso...
Tô lendo um livro, A Igreja na Cultura Emergente, uma coletânea de artigos reunidos por Leonard Sweet sobre justamente as repercussões da nossa tal cultura pós-moderna (ou ultramoderna, ou supermoderna, ou contemporânea...) no Evangelho, ou melhor, no modo como a Igreja tem vivido e apresentado o Evangelho às pessoas - meio que o assunto deste blog também, só que eu faço isso de um prisma pessoal e propositalmente não-institucional. As novas tecnologias de informação (vídeo-conferências, disseminação da Internet, datashows substituindo retroprojetores, carros/motos/trens/aviões supervelozes e por aí vai) são apontadas por alguns dos escritores como umas das grandes responsáveis pelo emburrecimento do povo cristão na atualidade e a consequente falta de discernimento da relação sagrado/profano.
Não sei se concordo 100% com essas afirmações (um dia vou falar mais sobre esse ponto; a tecnologia no culto e serviço cristão e possíveis implicações disso, mas talvez demore um pouco. Teria que terminar Pierre Lévy, esse livro do Sweet e outras 3 ou 5 leituras), assim como não sei como concordo 100% com coisa alguma a não ser o "Siga-Me" que uma vez me foi sussurado em ouvidos pré-adolescentes.
O fato permanece contudo: somos um bando de emburrados e embrutecidos pela falta de percepção da sutileza da vida atual e cegos para as consequências da decisão consciente por Cristo, portanto incapazes de dizermos a diferença entre o sagrado e o profano, o puro e impuro, o Deus e o anti-Deus. Talvez não em nível pessoal, seja pela inconsciência ou pelo seu extremo oposto, porém em nível institucional/relacional, isto é, nós enquanto "classe", "clã", "tribo", escolha sua metáfora.
Este é todo o problema né? O Homem lato sensu, o cristão pós-moderno dançando em meio á guerra... ou será que essa guerra existe somente na minha cabeça?
Go figure it out.
Como já disse antes, agora sou editor de um outro blog, mais voltado para um Cristianismo mais "institucional" ou o quanto isso é possível tendo alguém como eu na frente disso. Não estou sozinho nessa, tem pessoas maravilhosas andando comigo e Deus queira que haja muitas outras. Mas não é sobre isso que quero falar agora.
Uma dessas pessoas, a Alynne, escreveu um texto neste blog, no qual ela fala contra a nossa tendência de separar vida espiritual de vida secular (uma diferença apenas didática que, como tantas outras didaquês, acabamos tomando como "a" regra), coisa que eu também tenho levantado minha pena virtual e minha língua (às vezes) ferina.
A divisão entre sagrado e profano é MUITO antiga, talvez inscrita mesmo na própria ordem das coisas (penso em Is 45:7 e Gn 1:4), mas não é por isso que devo achar que tudo está ótimo do jeito que está e que toda essa neve em Nárnia é uma coisa natural. Quero dizer, sagrado é uma coisa e o profano é sua negação, tudo bem, mas quem diz o que é isto e aquilo? A Bíblia, correto? Mas ela precisa ser interpretada pelo sujeito e esse axioma que é a base de toda a merda que se conhece - ouça-se a multiplicidade de denominações cristãs, cada uma dizendo-se "a" igreja (e não me venham com besteira e dizer que elas não o fazem. É a sua afirmação, negar o outro). Não é "tudo culpa de Lutero", como digo de brincadeira, mas suas ações tiveram essa consequência, ele querendo ou não. Acontece, ora essa. As coisas saem do controle.
Jesus, por outro lado, dizia "ouviste o que disseram os antigos (...) mas Eu vos digo", em um claro discurso de superioridade e controle sobre suas palavras e ações, aliás, Ele é o único que poderia afirmar tais coisas (Ele podia tornar cabelos brancos e pretos...) e ainda ser inculpável. Jesus era ascético, não nos enganemos nisso, mas não na forma exterior, limpando copos por fora e evitando membros de outra etnia. Ele o era enquanto verdadeiro asceta, pregando Sua supremacia interior, a supremacia de Suas palavras, sobre qualquer outra coisa/pessoa/tempo que existiu ou viesse a existir. O tal do querigma suprahistórico de Rudolph Bultmann(em inglês) poderia até se aplicar nisso, eu acho. Mas o ponto ainda não é esse.
Então temos que a divisão sagrado/profano é um fato histórico e social recorrente nas sociedades humanas (e talvez inscrito na própria estrutura do mundo) e vamos tomá-la por certo. Jesus reforça essa concepção, mas diz ao mesmo tempo que certas coisas consideradas santas em seu tempo não eram tão santas assim. Certo. E agora?
A questão que a Alynne não levanta, acho que por falta de espaço mesmo, é justamente essa: Jesus é o exemplo de vida para o cristão. Logo, se Ele não separava em compartimentos estanques as áreas de sua vida (trabalho| igreja| faculdade| família | etc.) por que fazermos isso? Alynne diz para não o fazermos, e aponta para Jesus como representante desse caminho melhor, da devoção total e completa (os "100% em tudo" do texto), algo bem pietista mesmo. Mas o por quê de não conseguirmos seguir o exemplo do Mestre nesse particular fica intocado. É tudo correto, porém incompleto (crítica construtiva tá legal amiga?). Se tenho algumas teorias a respeito? Ei, você não lê o blog? Convido você a fazer isso...
Tô lendo um livro, A Igreja na Cultura Emergente, uma coletânea de artigos reunidos por Leonard Sweet sobre justamente as repercussões da nossa tal cultura pós-moderna (ou ultramoderna, ou supermoderna, ou contemporânea...) no Evangelho, ou melhor, no modo como a Igreja tem vivido e apresentado o Evangelho às pessoas - meio que o assunto deste blog também, só que eu faço isso de um prisma pessoal e propositalmente não-institucional. As novas tecnologias de informação (vídeo-conferências, disseminação da Internet, datashows substituindo retroprojetores, carros/motos/trens/aviões supervelozes e por aí vai) são apontadas por alguns dos escritores como umas das grandes responsáveis pelo emburrecimento do povo cristão na atualidade e a consequente falta de discernimento da relação sagrado/profano.
Não sei se concordo 100% com essas afirmações (um dia vou falar mais sobre esse ponto; a tecnologia no culto e serviço cristão e possíveis implicações disso, mas talvez demore um pouco. Teria que terminar Pierre Lévy, esse livro do Sweet e outras 3 ou 5 leituras), assim como não sei como concordo 100% com coisa alguma a não ser o "Siga-Me" que uma vez me foi sussurado em ouvidos pré-adolescentes.
O fato permanece contudo: somos um bando de emburrados e embrutecidos pela falta de percepção da sutileza da vida atual e cegos para as consequências da decisão consciente por Cristo, portanto incapazes de dizermos a diferença entre o sagrado e o profano, o puro e impuro, o Deus e o anti-Deus. Talvez não em nível pessoal, seja pela inconsciência ou pelo seu extremo oposto, porém em nível institucional/relacional, isto é, nós enquanto "classe", "clã", "tribo", escolha sua metáfora.
Este é todo o problema né? O Homem lato sensu, o cristão pós-moderno dançando em meio á guerra... ou será que essa guerra existe somente na minha cabeça?
Go figure it out.
sábado, 11 de julho de 2009
Monumentos no deserto
"Aos teus servos apareçam as tuas obras, e a seus filhos, a tua glória. Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos".
(Salmos 90.16,17)
Desde a primeira vez que ouvi falar destes versos na Bíblia, fiquei intrigado. Devia ter meus 13 ou 14 anos, talvez até menos, e desde aquela época a parte final destaca-se para mim. Confirma a obra das nossas mãos. Não é estranho? Quero dizer, tomando por pressupostos que:
a) Moisés escreveu este salmo;
b) Ele o fez enquanto estava no deserto com aquele bando de gente;
c) construir monumentos não é lá uma coisa muito comum na sociedade hebraica antiga e
d) porque uma obra de um ser humano precisaria ser confirmada pelo Eterno?
Esse trecho é estranho, muito estranho mesmo. Atípico. Humano demais. Vejo nele um desejo de permanência da parte de Moisés, uma vontade de querer resistir, sobreviver; ter um nome entre os homens! É um grito de desespero, um lapso de humanidade num livro tão focado no Eterno! Quantas vezes eu mesmo não o fiz? Quantas vezes eu não olhei para mim enquanto buscava olhar para Ele (ou olhei para Ele em mim, ou olhei para mim para não olhar para Ele, ou...) e senti esse mesmo despreparo, essa incapacidade de permanecer, de obrar a Sua obra, ser MAIS e MAIS para Ele (ou para mim, ou para os outros...)?
Ah, simplesmente busco algo que contemple os dois lados deste rio, o "sagrado" e o "profano", pois um não tem sentido sem o outro, e sem um deles o outro também pereceria. Afinal, Deus criou o bem e o mal (Is 45.7) e tal e tal...
Entenderam a ideia? A dualidade? To meio apressado, sinto muito pelo nível, mas é isso.
To de volta.
Também escrevo coisas aqui agora! Procurem pelas tags com meu nome!
(Salmos 90.16,17)
Desde a primeira vez que ouvi falar destes versos na Bíblia, fiquei intrigado. Devia ter meus 13 ou 14 anos, talvez até menos, e desde aquela época a parte final destaca-se para mim. Confirma a obra das nossas mãos. Não é estranho? Quero dizer, tomando por pressupostos que:
a) Moisés escreveu este salmo;
b) Ele o fez enquanto estava no deserto com aquele bando de gente;
c) construir monumentos não é lá uma coisa muito comum na sociedade hebraica antiga e
d) porque uma obra de um ser humano precisaria ser confirmada pelo Eterno?
Esse trecho é estranho, muito estranho mesmo. Atípico. Humano demais. Vejo nele um desejo de permanência da parte de Moisés, uma vontade de querer resistir, sobreviver; ter um nome entre os homens! É um grito de desespero, um lapso de humanidade num livro tão focado no Eterno! Quantas vezes eu mesmo não o fiz? Quantas vezes eu não olhei para mim enquanto buscava olhar para Ele (ou olhei para Ele em mim, ou olhei para mim para não olhar para Ele, ou...) e senti esse mesmo despreparo, essa incapacidade de permanecer, de obrar a Sua obra, ser MAIS e MAIS para Ele (ou para mim, ou para os outros...)?
Ah, simplesmente busco algo que contemple os dois lados deste rio, o "sagrado" e o "profano", pois um não tem sentido sem o outro, e sem um deles o outro também pereceria. Afinal, Deus criou o bem e o mal (Is 45.7) e tal e tal...
Entenderam a ideia? A dualidade? To meio apressado, sinto muito pelo nível, mas é isso.
To de volta.
Também escrevo coisas aqui agora! Procurem pelas tags com meu nome!
terça-feira, 24 de março de 2009
Justificativa
"De quê?", você pergunta.
Este "lugar" está às traças desde... credo, nem lembro desde quando!
A verdade é que simplesmente não sei tornar esse lugar interessante pra alguém (e me incluo nisso) e já que é pra desabafar e não obter um feedback decente prefiro ficar com meu diário old school.
Até minhas reflexões sobre o Cristianismo murcharam, (supostamente) o propósito maior deste blog, não por culpa do objeto; digamos apenas que circunstâncias não-virtuais me impeliram em outras análises e acabei deixando meio de lado essa coisa toda de pensar o Cristianismo, não por considerar inutilidade ou qualquer outro adjetivo neste nível, antes porque simplesmente não consigo ser "apologético" em relação a um determinado ponto de vista e por isso minhas reflexões acabam caindo em caos epistêmico e existencialismo exagerado (nossa, que drama!).
Tá certo, a verdade mesmo é que não tenho saco de escrever sobre temas específicos sabendo que os bytes são minha companhia aqui.
Ou refaço isso tudo, ou deleto e faço outro blog.
Este "lugar" está às traças desde... credo, nem lembro desde quando!
A verdade é que simplesmente não sei tornar esse lugar interessante pra alguém (e me incluo nisso) e já que é pra desabafar e não obter um feedback decente prefiro ficar com meu diário old school.
Até minhas reflexões sobre o Cristianismo murcharam, (supostamente) o propósito maior deste blog, não por culpa do objeto; digamos apenas que circunstâncias não-virtuais me impeliram em outras análises e acabei deixando meio de lado essa coisa toda de pensar o Cristianismo, não por considerar inutilidade ou qualquer outro adjetivo neste nível, antes porque simplesmente não consigo ser "apologético" em relação a um determinado ponto de vista e por isso minhas reflexões acabam caindo em caos epistêmico e existencialismo exagerado (nossa, que drama!).
Tá certo, a verdade mesmo é que não tenho saco de escrever sobre temas específicos sabendo que os bytes são minha companhia aqui.
Ou refaço isso tudo, ou deleto e faço outro blog.
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