segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal




Lá vamos nós. É época de Natal e nos vemos invadidos por essa profusão de imagens nevadas, renas e duendes, todos mostrados com orgulho por patrocinadores ávidos pela intensificação do tal "espírito natalino" (afinal, doações têm que vir de algum lugar. Alguém compra o que se doa não é?). Daí vem toda aquela denúncia da mídia alternativa, da esquerda e qualquer outro setor dessa sociedade que tenha consciência mínima de sua real situação frente ao capital. Consumismo, eles dizem, tudo é consumismo.

Mas sabem de uma coisa? Há uma outra denúncia, esta até mais destrutiva, que parte de um setor totalmente oposto aos citados acima, se igualando neles talvez só pelo fervor com o qual denuncia o que sente que deve denunciar. São aqueles historiadores de enciclopédia Barsa, os que se comprazem em vasculhar a Internet atrás de mais esta evidência da infestação da Igreja por "costumes mundanos" e da proximidade do "fim dos tempos" - como se o Jornal Nacional não fizesse esse papel de maneira excelente.

O Natal é pagão? Claro! Como a Páscoa, como a divisão do ano em 4 estações, como o calendário que usamos todos os dias, como (originalmente) a noção do Sol como centro do nosso sistema solar, como o próprio Cristianismo institucionalizado é. Tudo é paganismo! Tudo nesse sistema de coisas, como gostam de dizer os Testemunhas de Jeová, "perece no Maligno", esqueceram ó néscios, iletrados da Verdade?

Eu pergunto: e daí ?

Dane-se se o Natal é pagão. As calças jeans que uso foram criadas por um judeu, devo então deixar de usá-las? Só sei que no Julgamento vai me ser cobrado outra coisa, e não quais datas comemorei ou deixei de comemorar.

Palhaçada neopentecostal, retorno do medievalismo/sectarismo disfarçado de purificação da Noiva.

E tenho dito.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

É proibido pensar




É proibido Pensar
de João Alexandre


Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições

A extravagâncias vem de todos os lados
E faz chover profetas apaixonados
Morrendo em pé rompendo a fé dos cansados
Com suas canções

Estar de bem com vida é muito mais que renascer
Deus já me deu sua palavra
E é por ela que ainda guio o meu viver

Reconstruindo o que Jesus derrubou
Re-costurando o véu que a cruz já rasgou
Ressuscitando a lei pisando na graça
Negociando com Deus

No show da fé milagre é tão natural
Que até pregar com a mesma voz é normal
Nesse evangeliquês universal
Se apossando do céus

Estão distantes do trono, caçadores de deus
Ao som de um shofar
E mais um ídolo importado dita as regras
Pra nos escravizar.

É proibido pensar (5x)

Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições

Meras repetições
É proibido pensar
















ENTÃO PENSEM, MEUS QUERIDOS... POR FAVOR. DISCORDEM DE MIM. FAÇAM ISSO COM GOSTO, COM FUNDAMENTO, COM A PAIXÃO DOS DISCÍPULOS REBELDES, COM A FRANQUEZA DOS GRANDES AMIGOS E A BRUTALIDADE DOS ARQUIINIMIGOS. DISCORDEM, DIGO OUTRA VEZ, ATÉ QUE SUA VOZ SEJA OUVIDA DOS MONTES. ATÉ QUE OUTRO APAREÇA E DISCORDE DE VOCÊ.

AÍ O INVERNO QUEIMARÁ NOSSAS FLORES DE NOVO.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Que é amizade?

My dear don't leave me now
Close at the edge of my end
All this time you have been my friend
Don't go stay for a while
My dear you're losing me now
This will be my last hour
hear my voice, see my face
See how sick I am
How I long for your embrace

Meu querido(a), não me deixe agora
Perto da ponto do meu fim
Todo esse tempo você foi meu amigo(a)
Não vá, fique um tempinho
Meu querido(a), você está me perdendo agora
Essa será minha última hora
Ouça minha voz, veja minha face
Veja quão doente estou
Quanto anseio pelo seu abraço

(The
Gathering
- Sand and Mercury)
Tradução: Robson Lima






O que é amizade?

Os limites entre a coerção e a liberalidade, entre deixar acontecer e prevenir acidentes, entre o amor e a morte; lições corporificadas e lições idealizadas - onde está o marco delimitador, a via de mão única, o trajeto no mapa, a carta astral, a luz do fim do túnel? Onde? No Absoluto? E como algo poderia estar lá, sendo que tudo debaixo desse sol parece tão... relativo?

Relativo a isto, relativo a aquilo: fé, amizade, amor, sofrimento, a subjetividade humana em si, sua totalidade mesma. Guiada pelas leis relativizantes do devir biopsicossocialhistórico (hífens não são necessários) ela existe há tempos, desde antes de sabermos que o Sol não era o centro do Universo, que estamos um pouco acima dos primatas e que nossa religião não é a única no mundo, nem a mais "correta". A Modernidade, vilã do pensamento mágico e religioso, trouxe essas certezas, escassas porém contundentes, com tantas provas cabais que tudo que poderíamos fazer era, como mortais ignorantes, nos curvar perante a Ciência Positiva - esclarecimento que tudo abrange porque nada enxerga (Adorno).

Que isso tem a ver com amizade? Tudo, eu acho. Penso em "amor líquido" (Bauman), em "declínio das grandes narrativas metassociais" (Lyotard), no individualismo exarcebado de Hall e Giddens - nos tempos atuais e na resposta do Cristianismo a tudo isso, seja como sistema integrado de axiomas, dogmas e cosmovisões razoavelmente concordes entre si ou como, e isto é mais importante pra mim, como disposição íntima de um ser humano que professa crença em suas doutrinas e pressupostos.

O amor torna-se ação no mundo e nas pessoas diante do prisma cristão (do Cristianismo de púlpitos ao menos) e por isso não fazer nada a alguém próximo é tão doloroso, especialmente quando este alguém não é cristão. Nossa amizade com ele/ela, ao menos deveria ser assim (é o que dizem), deveria se resumir num relacionamento desinteressado sexualmente, com um vínculo profundo o suficiente para haver confiança entre ele/ela e você, mas não o bastante para desestabilizar suas crenças (superficiais) pois "a luz não se mistura com as trevas" (onde isso tá escrito que eu quero saber). Já falei sobre isso antes mas agora circunstâncias não-virtuais me impelem de volta a este tema.

Uma "amizade" dessa é verdadeira amizade cristã? Não somos nós que deveríamos ser sinceros, puros, bons em tudo e nunca, nunca, NUNCA negar nada disso para "os outros"? Porque é nisto que o "testemunho cristão" foi transformado, numa capa esfarrapada de fios dourados falsificados, coisa digna de pena o que fizeram com esta Verdade!

Recuso a ser desta forma. Continuarei a ser amigo, vou criar um outro caminho nesse deserto, e que Deus me ajude!


Robson Lima


PS: Sim, isso foi um desabafo.
PS²: Minha palavrinha sobre a corte tá chegando! Perdi a postagem então estou reescrevendo tudo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Cortes e Recortes: Discussão Preliminar

Este é um texto dirigido especificamente para qualquer eventual não-cristão e/ou qualquer um que não esteja familiarizado com a discussão recente em algumas congregações cristãs evangélicas sobre um modo diferente de namoro entre casais heterossexuais (sempre se referirá a casais heterossexuais neste assunto. Aposto que vocês sabem as posições da Igreja Cristã sobre esse assunto). Este modo diferente é convencionalmente chamado de "corte". Estou ciente que para um não-cristão a idéia de um namoro em moldes mais tradicionais, mesmo de maneira não tão radical quanto a proposta pela "corte", no qual, por exemplo, não há sexo entre o casal, é extremamente diferente.

Porém, a "corte" é diferente mesmo deste modelo tradicional de namoro cristão que basicamente relegava a delimitação dos "limites" ao próprio casal, ambos cônscios da moral e ética cristã sobre o assunto. A "corte" propõe, por exemplo, a restrição do contato físico do casal (há casos que nem pegar na mão é permitido) entre outras proibições. Voltaremos a isto em outro momento.

Portanto, este é um texto direcionado. Fique avisado.

O que é a "corte"?
É um sistema de relacionamento sexual pré-nupcial que procura ser uma resposta às freqüentes situações problemáticas que muitos casais cristãos expõem em aconselhamento pastoral. Estas dificuldades dizem respeito aos limites eróticos do namoro cristão.
Suas justificativas e bases teológicas/metodológicas/práticas podem ser encontrados nos livros Eu Disse Adeus ao Namoro, Sua Perfeita Fidelidade e Romance à Maneira de Deus. Existem outros livros, porém é destes três que acredito poder se rastrear toda a discussão sobre a "corte".
Contextualizando as obras:

Eu Disse Adeus ao Namoro é um livro escrito por um Joshua Harris, jovem cristão norte-americano (na época) solteiro. Dos três livros, é o único que procura delinear com maior precisão e clareza as bases teológicas da "corte". O autor usa suas experiências pessoais anteriores para, juntamente com a opinião de autores diversos, mostrar ao leitor que a "corte" possui uma série de vantagens sobre o namoro cristão tradicional. Destaca dentre estas a fuga da lascívia, da promiscuidade e dos demais pecados sexuais aos quais o casal cristão está sujeito nesta situação. Embora conte com passagens autobiográficas, grande parte da argumentação vai ao encontro à Bíblia e uma exegese desta.

Romance à Maneira de Deus é a narração da história de Eric e Leslie Ludy, de como se conheceram e como chegaram ao matrimônio. Da história, vale a pena frisar neste primeiro momento o sonho que Eric alega ter tido, no qual teria lhe sido revelado o rosto de Leslie e o fato de que ela seria sua esposa - antes de tê-la conhecido.

Sua Perfeita Fidelidade é um livro, escrito pelo casal Ludy, que tece comentários bíblicos sobre a história narrada em Romance à Maneira de Deus e acrescenta novos insights e faz uma ou duas correções/esclarecimentos sobre o livro anterior, dentre os quais considero o mais importante o reconhecimento do casal Ludy que a história narrada e vivida por eles não pode ser importada para a vida de todos os cristãos da face da Terra.

Embora os três livros façam apologia à "corte" (mesmo que somente Harris utilize o termo, a biografia do casal Ludy é tomada como exemplo por ele) uma leitura atenta verifica que esta defesa é sutil e por vezes tímida. Talvez por cautela os autores se resguardem de serem defensores extremados de suas posições teológicas. De qualquer modo, é na boca e discurso dos pastores das congregações que encontramos a defesa apaixonada da "corte", muitas vezes, devidamente remodelada para os padrões locais.

É preferencialmente desta segunda acepção da "corte", a local, que nos preocuparemos no artigo a seguir. Porém, como esta depende daquela em todos os seus pressupostos, vimos a necessidade de esclarecer alguns pontos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ser diferente: Prólogo de outro post

Devido a algumas circunstâncias na minha vida material (i.e., fora daqui desse Blog), me vejo forçado a escrever sobre coisas mais particulares neste blog. Não que eu ache isso ruim, somente gostaria que fosse de outra forma, e não debaixo de tempestades de incredulidade e zombaria como agora.

Ser diferente, ignorando a extensão dessa possibilidade e admitindo que realmente podemos ser diferentes, no que quer que seja; ser diferente cobra um alto preço dos que se aventuram a palmilhar essa estrada. Ser diferente, seja "do mundo" ou entre os seus irmãos, não é uma estradinha de tijolos amarelos. É um caminho árido, penoso e por vezes solitário.

As coisas se tornam ainda piores quando nos vemos sós no meio de nossos irmãos.

Quer ver?

Acredite em coisas que somente você acredita. Defenda-as de maneira clara e embasada, veementemente, contra todos que se mostrarem ávidos a derrubá-las. Não importa se é o pastor ou o zelador da igreja. Se é o professor universitário ou um amigo próximo. Faça isso, atenha-se ao que você acredita, bata o pé mesmo - depois venha me dizer se foi fácil. Se foi, bem, terei que perguntar por onde você anda, que esses valores não causam divisão (as palavras do Mestre são claras: "penseis que vim trazer paz à terra? Vim trazer espada").

Em breve postarei um grande texto.

Ele pretende ser uma resposta bíblica contundente à "polêmica da corte", na qual me vejo mergulhado. Se você não é evangélico, postarei logo após um post somente delineando o significado do termo e seu embasamento simbólico etc. Se você é, poderá passar direto para a argumentação em si.

Não farei isso por maldade, vanglória, "porra-louquice" (como diz o excelentíssimo Ministro da Justiça, recentemente grampeado por arapongas), ou qualquer outro motivo que não seja esclarecer o Corpo e expor minha opinião - por bem desse mesmo Corpo. Diversidade existe e merece ser preservada. Temos o direito perante Deus de discordarmos uns dos outros.

Graças a Deus.

R. Lima

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Extratos da rede

Achei esse artigo neste blog, muito interessante, e reproduzo o bichinho abaixo na íntegra.
è um ótimo texto sobre a Igreja Emergente/Igreja Simples, um "novo" modo de ser Igreja que já se delineia no horizonte do pensamento cristão ocidental. Graças a Deus.

Diagramação e grifos meus.

eis o blog original e abaixo tomem o texto:



Eu vim para que a igreja tenha vida em abundância

"Um sermão baseado em Atos 2.42-47 e João 10.1-10

Don Friesen13 de Abril de 2008

Igreja Menonita de Ottawa

Count Lev Nikolayevich Tolstoy (1828-1910), mais comumente conhecido como Leon Tolstoy, o novelista Russo, ensaísta, dramaturgo, filósofo, pacifista, e reformador educacional, escreveu o conhecido "Guerra e Paz". Menos conhecidas são suas idéias sobre resistência não-violenta através de obras como "O Reino de Deus Está em Você", que influenciou Mohandas Gandhi e Martin Luther King, Jr.

Tolstoy foi um grande homem com grandes influências literária e moral, mas ele também escreveu histórias simples para livros de crianças camponesas, e histórias curtas com lições morais. Uma dessas histórias diz respeito a um homem chamado Pahóm que estava dissatisfeito com sua existência pobre e pensou que se ele tivesse mais terra sua vida melhoraria muito (Leo Tolstoy, A História das Lendas, 1946; "A Terra que Precisa de um Homem" escrita em 1886) Se ele tivesse terra o suficiente, pensou consigo, ele não temeria nem o próprio Diabo! Ao que o Diabo, sendo Diabo, aceitou como um desafio!

A história acompanha a aquisição de terra pelo homem, começando com um lote de quarenta acres, que ele financiou vendendo um potro, metade da sua colônia de abelhas, arrendando o trabalho de um de seus filhos e pegando emprestado o resto do seu cunhado. Funcionou bem, e graças a uma boa colheita sua vida melhorou consideravelmente. Problemas com seus vizinhos, contudo, tornaram-no inquieto, e quando ele ouviu falar de terra além do Volga à venda por um preço bom ele vendeu a sua terra e comprou mais terra lá do que jamais imaginou possuir. Ele estava quase fechando o negócio de um outro terreno quando ele ouviu falar de outras terras que ele podia conseguir por quase nada! Ele foi conferir, e descobriu que as condições de compra eram incomuns. A terra não estava sendo vendida pelo acre. Ofereceram-lhe tanta terra quanto conseguisse andar em um dia por mil rublos, mas se ele não voltasse para o ponto de partida antes do pôr-do-sol, ele perderia tanto o dinheiro quanto a terra.Pahóm ficou tão animado que mal conseguiu dormir naquela noite. Ele levantou cedo, foi acordar o vendedor, marcou o ponto de partida e começou. Ele andou quilômetro após quilômetro, marcando seu caminho ao caminhar, e cada vez que ele pensava em voltar a terra parecia boa demais para perder, então ele continuava. Ele fez a curva lá pelas tantas, mas postergou a segunda curva até depois do almoço. Naquela altura ele já tinha ficado cansado e caminhar tinha ficado difícil. Pahóm começou a ficar ansioso ao ver o pôr-do-sol, e temeroso de perder tudo ele começou a correr, e então a correr mais rápido, apesar da dor nas suas pernas e peito. Logo antes do pôr-do-sol, contudo, ele correu para o ponto de partida, com suas pernas o levando ao alcançá-lo."Uma boa pessoa", comentou o vendedor com uma risada diabólica, "Ele ganhou bastante terra!"Que pena, Pahóm deu o último suspiro com o esforço. Seu servo pegou uma pá e cavou uma sepultura para Pahóm. À pergunta "De quanta terra um homem precisa?" Tolstoy responde com a célebre frase "Um metro e oitenta, da cabeça aos pés, era toda a terra de que necessitava" .


Suficiente, Mais que Suficiente, e Abundância


Quando o suficiente se torna mais que suficiente? Quando a necessidade de adquirir bens, propriedade e avanços culturais se torna cobiça? Uma década atrás o Wall Street Journal mostrou uma reportagem sobre um novo tipo de médicos jovens que estavam atônitos porque seus salários estavam começando a cair abaixo da média nacional de US$250,000 anuais. Cerca de sessenta deles se inscreveram em um programa de MBA da Universidade da Califórnia, esperando que um diploma de negócios melhorasse funanceiramente suas carreiras. Esta é a nova realidade da saúde "de mercado", afirmou um de seus professores (Wall Street Journal, 13 de Maio de 1998).Eu consideraria um salário anual de US$250,000 muito mais que suficiente, mesmo se decaísse para meros US$150,000.

Esses médicos, contudo, parecem peixes pequenos quando postos lado à lado com a lista da revista Forbes dos bilionários mais ricos do mundo. A uma certa altura a Forbes decidiu limitar sua lista de bilionários em um número arbitrário - os top 200, por exemplo - porque existem pelo menos três milhões de milionários trabalhando duro para entrar na lista de bilionários!Quando o sufiente é mais que suficiente? Ou, considerando as lições da Bíblia de hoje, poderíamos perguntar: "O que é o suficiente, e o que é mais que suficiente, e o que é abundância?" As leituras Bíblicas de hoje abordam todas a abundância. Nossa leitura dos Evangelhos promete vida em abundância. "Eu vim", disse Jesus, "para que (meus seguidores) tenham vida, e a tenham em abundância" (João 10.10). Ou, como diz uma outra tradução "mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa" (NTLH).

Quero voltar a esse texto depois, mas vejam o tema da abundância nos outros textos. Atos 2 demonstra uma vida comunitária que é ainda a inveja de muitos! Lucas nos diz que "todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. [Eles] vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um. " (Atos 2.44,45). Lucas está descrevendo uma abundância completa, compartilhada por todos, e até mesmo uma abundância de números, pois "cada dia", diz Lucas, "o Senhor juntava ao grupo as pessoas que iam sendo salvas" (2.47).Tem também o Salmo 23, começando com a declaração de que já que o Senhor é o meu Pastor, "nada me faltará" (Salmo 23.1) A abundância é expressa vivamente na imagem de comida: "Preparas um banquete para mim[...]. Tu me recebes como convidado de honra e enches o meu copo até derramar" Isto é muita hospitalidade generosa! O professor Walter Brueggemann diz "Não há um gesto tão expressivo de extremo bem-estar quanto o esbanje de comida..." A mesa no Salmo 23 é um símbolo de todas as boas mesas nas quais você já sentou e a alegria que você sentiu ao redor da mesa.

As leituras Bíblicas de hoje não são únicas. As Escrituras contêm um grande leque de imagens de abundância. O Velho Testamento diz "que os montes antigos produzam ricas colheitas" (Deuteronômio 33.15), de "chuva em abundância" (Salmo 68.9), "mantimento em abundância" (Jó 36.31). Fala da "riqueza da misericórdia [de Deus]" (Salmo 5.7) e fala freqüentemente sobre isso. Diz que "Deus [...] é rico em perdoar" (Isaías 55.7). Fala de "abundância de salvação, sabedoria e conhecimento" (Isaías 33.6), da abundância da "bondade" de Deus (Salmo 31.19) - e também da "abundância de paz e segurança" (Jeremias 33.6). Deuteronômio promete que "o SENHOR, teu Deus, te dará abundância em toda obra das tuas mãos..." (Deuteronômio 30.9) Deus, é claro, é reconhecido como a fonte dessa abundância, com o Salmo 147 declarando: "Deus, o Senhor nosso, é grande e poderoso; a sua sabedoria não pode ser medida" (Salmo 147.5)O Novo Testamento adiciona ainda a essa cornucópia de abundância, falando sobre a"abundância da graça" (Romanos 5.17), a abundância de "consolação" (II Coríntios 1.5), a "alegria abundante" (II Coríntios 8.2), de "fé ... crescendo sobremaneira" (II Tessalonicenses 1.3), de "abundar em toda graça" ( II Coríntios 9.8) e "paz multiplicada" (I Pedro 1.2, II Pedro 1.2).


O Maior Milagre de Todos os Tempos!


Abundância, sob o ponto de vista norte-americano, é muitas vezes definido em termos materiais e individualistas. Não precisa ser um grande estudioso das Escrituras para entender que a noção de abundância é um conceito mais amplo, como alguns dos trechos que acabei de ler claramente mostram. Inclui bem-estar material, com a Bíblia tendo uma noção holística do bem-estar do ser humano, mas você precisa mais que contadores no seu pessoal para contabilizar a abundância que a Bíblia deseja para nós. É uma abundância completa.

Nós também tendemos a ver as coisas de uma forma individualista, e não há falta de igrejas da "Vida Abundante" oferecendo abundância ao indivíduo. Você pode ter vida abundante se você crer nas coisas certas, as coisas nas quais nós acreditamos. Você pode ter vida abundante se você observar essas quatro leis espirituais. Você pode ter vida abundante se você seguir o nosso programa de 12 passos. Você pode ter vida abundante se você não beber, não fumar, não dançar e não jogar.

Você pode ter vida abundante se você conseguir espremer as boas novas em um código legal estreito e restrito. A vida abundante é sua se você tiver uma certa visão e experiência do Espírito Santo, ou se você vir meu programa de TV,... e se você puser a sua mão sobre a televisão, você... bem, já deu pra entender a idéia. Faça isso ou aquilo e mais aquilo e você - você individualmente - vai receber bênçãos materiais em abundância. A nossa lição dos Evangelhos, contudo, está falando de ovelhas. Não uma ovelha, mas muitas ovelhas, um rebanho de ovelhas! Jesus está falando aos seus seguidores, um grupo de seguidores, e sua promessa é endereçada ao grupo. Quando João deu forma ao seu evangelho, ele o fez para a Igreja, então quando Jesus diz "Eu vim para que (vocês) tenham vida, e a tenham em abundância", e está falando à Igreja! "Eu vim para que a Igreja tenha vida em abundância."Como seria uma igreja experimentando vida em abundância? Bem, temos uma boa descrição na nossa leitura do livro de Atos: "E todos continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão, partindo o pão juntos e fazendo orações. Os apóstolos faziam muitos milagres e maravilhas, e por isso todas as pessoas estavam cheias de temor. Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um. Todos os dias, unidos, se reuniam no pátio do Templo. E nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade. Louvavam a Deus por tudo e eram estimados por todos. E cada dia o Senhor juntava ao grupo as pessoas que iam sendo salvas. " (Atos 2.42-47).Que bela descrição da Igreja! E que transformação maravilhosa! Depois da crucificação os discípulos mal se qualificavam ainda como um grupo, com seu "agrupamento" fraturado por negação, traição, confusão e muitas outras coisas que inibem se não destróem a vida comunitária. E aqui, chegando em Atos capítulo 2, eles se unem! São um grupo! São um grupo espetacular. São uma igreja! É um milagre!

Um colega (D. Drake) diz que quando era criança ele ficava impressionado com os milagres na Bíblia. Histórias como a abertura do Mar Vermelho atiçavam sua imaginação. Ele podia ver a coluna de fogo refletindo nos rostos dos escravos fugindo do Egito. Ele podia sentir o pó da demolição dos muros de Jericó! Ele várias vezes pensava qual milagre na Bíblia tinha sido o mais difícil para Deus fazer. Abrir o Mar Vermelho deve ter requerido muita força, mas andar sobre as águas deve ter requerido muita concentração. Como adulto, no entanto, ele concluiu que o milagre mais difícil deve ter sido o de Atos capítulo 2. "Todos os que criam [...] repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um. " Esse tem que ter sido o milagre mais difícil na Bíblia, fazer com que pessoas repartam seu dinheiro e posses! Você mal consegue fazer crentes falarem sobre dinheiro, especialmente se for o dinheiro deles. Eles falarão sobre sexo, mesmo se eles se sentirem incômodos com o assunto, mas eles se sentirão ainda mais incômodos com a idéia de se abrir com os assuntos financeiros. Precisou um milagre de Deus para isso acontecer.


Os Sinais de uma Igreja Abundante


A igreja demonstrada em Atos 2 é uma criação milagrosa. O que Deus fez com essas pessoas? Como uma forma de refletir sobre a qualidade e a fidelidade da nossa própria vida juntos, eu identificaria vários elementos de uma vida congregacional abundante que surgem dessa passagem. O primeiro elemento é a proximidade dessa comunidade. Ele estavam freqüentemente juntos. Os membros dessa congregação gastavam tempo juntos. Eles se encontravam; eles cultuavam juntos; eles estudavam e oravam e comiam juntos, e evidentemente gostavam de estar juntos.Este é o ideal do Novo Testamento.

Quando Paulo, por exemplo, usa a imagem de corpo sendo "ajustado e ligado" (Efésios 4.16), ele está falando de uma qualidade especial de estar junto. A imagem é de tecido, de pôr juntos vários fios, de amarrar, unir aquilo que, se fosse deixado sozinho, desunido, nunca seria um tecido por si só. A igreja tem uma oportunidade incrível de fazer visível pela qualidade das suas vidas juntas a intenção de Deus para toda a humanidade de viver junto em harmonia.

Em segundo lugar, a congregação de Atos 2 parece ser uma comunidade inquisitiva. Lucas nos diz que eles "continuavam firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos". Eles queriam conhecer o que Jesus tinha ensinado. Eles ouviam os apóstolos porque eles queriam aprender tudo o que pudessem daqueles que tinham estado com Jesus. O que Jesus disse sobre isso? O que Jesus disse sobre aquilo? O que ele ia querer que nós fizéssemos nessa situação?Acho que nossa congregação interroga bem. Temos curiosidade com várias coisas. Pode dizer um assunto, nós queremos ler a respeito. Qual é o último livro citado no New York Times? A gente quer lê-lo. Qual é a última peça teatral comentada? Nós queremos assisti-la. Direcionar essa mesma inquisição para a nossa herança bíblica e história cristã ajuda a Igreja. Uma igreja fiel é uma igreja que é ávida por moldar seus conhecimentos e sua vida conforme os ensinamentos de Jesus.

Em terceiro lugar, a congregação em Atos 2 é uma comunidade alegre. Lucas diz que tinham "alegria" (Atos 2.46). Eles se encontravam com "alegria e humildade". A palavra para "alegria" em Grego quer dizer exultação, expressando muita alegria. Eles louvavam a Deus, evidentemente porque eles tinham vontade! Uma congregação tem uma oportunidade de tornar visível a intenção de Jesus: que a sua alegria esteja em (nós) e que (nossa) alegria seja completa (João 15.11).

Em quarto lugar, a congregação descrita em Atos 2 é uma comunidade compassiva. Nós lemos que os membros dessa congregação tinham "tudo em comum", e que "eram estimados por todos" (Atos 2.47) E a qualidade das suas vidas juntas parece ter feito outros quererem se tornarem cristãos e se juntarem à comunidade cristã. (2.48) Se as marcas de uma vida em congregação abundante fossem somente inquisição, comunhão e alegria, poderia ser uma vida abundante para seus membros, mas não para ninguém mais! A palavra "koinonia" é uma das palavras que o Novo Testamento usa para descrever a Igreja, e traz o significado não só do que nós compartilhamos entre nós, mas também o que compartilhamos além de nós - o que damos de nós mesmos além do nosso círculo de comunhão. Os cristãos primitivos, por exemplo, se importavam profundamente com os pobres no seu meio, e compartilhavam a sua abundância com eles.

Em 1988 um amigo meu estava entre os onze líderes de igrejas canadenses visitando Cuba. Tiveram uma oportunidade incomum de visitar Fidel Castro no seu escritório. Ficaram com ele por três horas, das 23 horas até as 2 da manhã! Castro queria a visita do pessoal das igrejas do Canadá, e eles conversaram sobre várias coisas. Meu amigo fala Espanhol fluente e sem dúvida ajudou com a conversa. Fidel perguntou as impressões deles sobre Cuba e falou sobre sua paixão em fornecer serviços de saúde e educação aos cubanos. Falou sobre fornecer abrigo aos sem-teto e fornecer mais igualdade aos pobres. Ele comparou as condições àquelas dos tempos da pré-revolução com Batista.

Em seguida Fidel começou a falar sobre a Igreja, disse meu amigo, e sobre a fé cristã. Ele brincou com eles, dizendo que eles certamente estavam preocupados em ir para o céu, e disse "Sabem de uma coisa? Eu acho que eu também devo ir para o céu. Com o que vocês viram sobre como ajudamos os pobres, vocês acham que tem lugar pra mim no céu?" Ele tinha consigo uma cópia de uma nova biografia dele que tinha acabado de sair naquela semana, e abriu em uma página específica, e disse "Esse biógrafo diz aqui que a revolução Cubana foi inspirada em Karl Marx e o Manifesto Comunista. Sabem de uma coisa? Isto está errado. Não foi inspirada em Marx. A revolução Cubana foi inspirada em um carpinteiro de Nazaré que subiu uma montanha para ensinar. E foi inspirada no sermão daquela montanha."

Fidel conversou com eles sobre sua educação nas escolas Jesuítas e sobre como ele ficava animado em aprender sobre Jesus e seus ensinamentos, algo que ele nunca havia ouvido na igreja! Ele tinha perguntado seus professores por que não ensinavam aos estudantes o que Jesus ensinou e como ele viveu. Ele falou sobre como queria ardentemente conhecer melhor esse Jesus, e quão animado ele estava com o que estava disponível para ele. E então ele fez o comentário mais impressionante. Balançando seu dedo na sua forma característica, ele disse "Lembrem que a revolução Cubana aconteceu em 1959; três anos antes do começo do [Concílio do] Vaticano II. Se a Igreja Católica em Cuba em 1959 tivesse sido como a Igreja Católica na Nicarágua em 1980, não teria nunca acontecido a revolução Cubana do tipo que conhecemos. Mas a Igreja não estava fazendo o que foi criada para fazer, e então alguém tinha que fazê-lo" (Robert J. Suderman. "Líderes formando Líderes: a Tarefa Crítica da Identidade", apresentado em Ralph and Eileen Lebold: Banquete do Fundo de Desenvolvimento de Liderança, Conrad Grebel university College, 19 de Junho de 2007)

Uma Igreja que falha em fazer o que foi criada para fazer não é uma igreja abundante. Uma Igreja que falha em compartilhar o evangelho com aqueles que procuram passionalmente identidade, visão e propósito não é uma igreja abundante. Uma igreja que estripa a sua mensagem restringindo-a a problemas da classe média e a ansiedades não chega a ser a Igreja prevista pelo Novo Testamento!A quinta característica de uma igreja abundante é que seu alicerce é firmado em Jesus. A igreja não é um mero experimento sociológico. É a Igreja de Jesus Cristo. O Novo Testamento nos diz que uma congregação pode ter todo tipo de coisas maravilhosas, mas se nós não tivermos o amor de Jesus, não somos nada! (I Coríntios 13.2) Podemos ter todo tipo de pessoas maravilhosas, mas se não tivermos o amor de Jesus, não somos nada! Nossa congregação pode ter muitas características e programas atrativos - podemos ter os melhores cantores, os instrumentos musicais mais caros - mas se nós não tivermos o amor de Jesus, nós soamos como unhas arranhando um quadro-negro (13.1, minha paráfrase) Nós podemos atrair o pregador mais eloqüente de todos, ministrar os seminários mais profundos, e implantar a última moda, mas se nós não tivermos amor uns pelos outros - pode esquecer!

Uma vez fiz um curso com um perito em renovação de igrejas que teve uma ótima oportunidade de pôr seus princípios sobre renovação de igrejas em prática. Ele estava animado, e a sua estrela começou a brilhar. E então, depois de um tempo, seu mundo desmoronou. Ele confessou: "Eu fiquei impressionado ao me dar conta que no final de toda a retórica sobre renovação, nós ainda lidamos com seres humanos" (Robert Roxburg)

Ele pediu demissão, gastou a maior parte daquele ano repensando igreja, seu próprio ministério, e se deu conta de que as pessoas têm que ser amadas, não ludibriadas nem manipuladas nem intimidadas a adotarem novas formas de pensar. Ele diz que ele "desistiu de procurar a comunidade ideal e aprendeu a amar aqueles que Deus colocou em nosso meio." Ele aprendeu aquilo que Dietrich Bonhoeffer havia escrito, que "Aquele que ama seu sonho de comunidade mais que as pessoas na comunidade vão em última instância ser destruidores da (comunidade)."Jesus nos deixou um mandamento muito simples, que amemos uns aos outros. "Amem uns aos outros", disse, "como eu amo vocês" (João 15.12) Que nós cresçamos na abundância do nosso amor uns pelos outros, e em nossa obediência àquele que veio entre nós para levarnos a níveis mais profundos de compaixão e partilha, e a quem pode fazer muito mais do que nós pedimos ou até pensamos."

Fonte: http://www.ottawamennonite.ca/sermons/abundant.htm
Tradução: Fé Natábua (Oráculo)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Interstício [outro]





"Não é a criança que vem ao mundo, é o mundo que vem para a criança"
(Jostein Gaarder - Através do Espelho)

Pois somos todos crianças, e vemos tudo como num espelho, num enigma.

Termino com musiquinha:


The Awakening - Harmony of Imperfection

Oh angel break this lucid strand
I´m shaking like a hologram
Just need me like you held me once before

I feel the fibres of your dreams
They shimmer sidewards and in between
the hurting hours I´m right back at the door

it´s insane

But Walls come down
I´m here waiting for my resurrection
You´re so clean yet so grey

Walls come down
like the Harmony of Imperfection
Breathe the moonlight in and pray

They chase me down the mountain face
with sabres drawn and eyes ablaze
Awake again? but the night has lost it´s glow

It´s constant delibertaion
Is emotion mutilation?
The scalped falls, the only words are "No!"

But Walls come down
I´m here contemplating all creation
You´re so clean yet so grey

All I need
is a little more than confirmation
that "everything is better in the day"

Oh angel we could steal the morning
Keep it bound and gagged from
calling out the insults in it´s muted score

Is this only desperation?
to want to share this deprivation
What am I waiting for?

But Walls come down
I´m here waiting for my resurrection
You´re so clean yet so grey

I believe
in the Trinity and the great commission
Walk that rocky narrow way

Walls come down
like the Harmony of Imperfection
Breathe the moonlight and pray

All I need
is a little more than confirmation
that "everything is better in the day"

sábado, 21 de junho de 2008

Sobre testemunhos


Que bobagem!


Isso tudo de "testemunho cristão" enquanto regulações morais e éticas de um indivíduo que professa determinada fé — melhor dizendo, até porque "fé" é MUITO mais profundo que isso — indivíduo (talvez não no meu sentido da palavra) que aceita pautar sua vida pública e privada por um compêndio de regras e normas morais e éticas que nunca lhe são formalmente ensinadas, porém são constantemente sussurradas, lentamente injetadas na sua mente até formarem um edifício regrado e maciço de puro farisaísmo. E o pior, será um farisaísmo inconsciente, alienado, pois ignorará a grande Verdade da Graça Imerecida, o inelutável fato que Deus nos ama e toda a história da Redenção é uma narrativa de amor imerecido, de verdadeira, sublime graça; "pela graça sois salvos" e completo: é pela graça que viveis ainda.


Quero então dizer que o cristão não deve "dar testemunho", isto é, viver de forma que outros o reconheçam como cristão? Claro que não. Na realidade, o viver cristão é diferente por definição e qualquer um que resolva viver desta forma chamará a atenção dos que estão ao seu redor[1]. A questão toda começa a se tornar problemática quando este testemunho é reduzido a um simples “faça-não-faça”, transformando tudo num imenso jogo de aparências (principalmente para si mesmo), o popular “baile de máscaras” que as igrejas se tornaram, mesmo que eles o façam com boas intenções: “vigiar”, ter “prudência”, ter um “direcionamento” para se fazer (ou não) tal e qual coisa… por trás das palavras tão belamente dispostas e utilizadas está um desejo inconsciente de não ir longe demais, de permanecer onde se está, de puro e simples medo.

De boas intenções o inferno está cheio


Sobre as causas deste comportamento, vou me limitar a dar alguns rumos e lançar alguns apontamentos. Acredito que uma boa parte disso vem do desejo de pertencer a uma “galera”, a velha busca de aceitação do ser humano pelos seus pares (talvez ainda não tenha dito aqui, porém alguns vínculos com nosso “método” de tratar novos convertidos são vistos aqui); a falta de instrução dos fiéis nas colunas da doutrina (sim, elas são importantes… não como novo Pentateuco, mas são responsáveis por grande parte da coesão interna da igreja local), o que leva a essa atitude de “andar em roda” buscando a última novidade gospel[2]; a pura falta de auto-conhecimento que também tem suas raízes fora da igreja local, penso aqui de novo em Walter Benjamin e sua noção de relações “eu-coisa” ou em Guy Débord e sua sociedade do espetáculo mediadora dos homens através das imagens; outros fatores podem até ser pensados, mas por enquanto deixo isso aí pra pensar(mos).

Os evangélicos não gostam de admitir o quanto são influenciados pela sociedade, por acreditarem neste entendimento torto do que significa ser “luz do mundo”, que seja essa qualidade de ficarem socialmente separados do “mundo” (erroneamente identificado com a sociedade) — herança de um ascetismo puritano equivocado — que seja tudo para eles! Se tanto querem ser diferentes, que vão, run to the hills, pois heaven can wait, afinal, the evil that men do goes on and on… sem trocadilhos agora, pois realmente o tema é grave.

Pensar desta forma é um verdadeiro aleijamento do Cristianismo. Meu ataque contra esse falso ascetismo não é meu, é bíblico: “Comei de tudo que se vende no açougue”, pois “do Senhor é a terra e sua plenitude”, ou ainda “Não é o que entra, mas o que sai, isto é o que contamina o homem”, penso ainda na defesa da Graça que Paulo faz repetidas vezes (Efésios, Gálatas, Colossenses…) e na própria epístola de Hebreus que mostra Jesus como o “Mediador de um novo pacto” onde o domínio da Lei para o pecado não mais existe.

A questão da motivação do coração, ou seja, a disposição interior do homem ao faze/pensar qualquer coisa, caracterizando-a como pecado ou não, mostra-se claramente aqui. Quando tornamos o testemunho cristão uma questão de normas e regras éticas, esquecemos a dimensão da Graça neste processo. Mais importante do que o que consideramos certo, importa perguntar(mos) — sem esquecer o, como diz na Ética dos Pais, “volta e volta à Lei Divina” — o que é certo.



[1] “Amaras a Deus acima de todas as coisas” e “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, entendendo-se “amor” no sentido paulino de caritas, caridade (1 Co 13), isto é, prática bondosa de um indivíduo para outro e deste indivíduo para com o Absurdo que é o Eterno.

[2] Fico devendo uma postagem sobre a “gospelização” do Evangelho brasileiro, ou belenense.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Entre Pecadores - interstício

http://www.universodorock.com/entrevistas/entre_pecadores.asp

Link para uma banda brasileira de Industrial que tomei contato faz tempo. O link é pra entrevista cedida ao Universodorock.com, site conceituado de rock nacional.

O interessante é que a banda foi formada após seus membros fundadores se decepcionarem com a igreja. As letras falam em tom de denúncia contra toda a forma de igreja institucionalizada, apontando sua hipocrisia e incoerências.

A entrevista vale a pena ser lida na íntegra e saio deixando esse pensamento: nós criamos nossos próprios críticos ao nos portarmos de maneira indigna.

domingo, 13 de abril de 2008

Série: Tirando Leite da Pedra [1]

"A bondade num estilo absoluto, em contraposição à "utilidade" ou à "excelência" na antigüidade greco-romana, tornou-se conhecida em nossa civilização somente com o advento do cristianismo. Desde então, sabemos que as boas obras são uma importante variedade entre as ações humanas possíveis. O notório antagonismo entre o cristianismo e a res publica (...) é, de modo geral o correto, visto como conseqüência de antigas expectativas escatológicas (...).

Contudo, o caráter extraterreno do cristianismo tem ainda outra raiz, talvez ainda mais intimamente relacionada com os ensinamentos de Jesus de Nazaré (...). A única atividade que Jesus ensinou, por palavras e atos, foi a atividade da bondade; e a bondade contém, obviamente, certa tendência de evitar ser vista e ouvida. A hostilidade cristã em relação à esfera pública, a tendência que tinham pelo menos os primeiros cristãos de levar uma vida o mais possível afastada da esfera pública, pode também ser entendida como conseqüência evidente da devoção às boas obras, independentemente de qualquer crença ou expectativa. Pois é claro que, no instante em que uma boa obra se torna pública e conhecida, perde o seu caráter específico de bondade, de não ter sido feita por outro motivo além do amor à bondade".

(ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10ª ed. Forense Universitária, 2007 - grifos meus)


Estou lendo A Condição Humana de Hannah Arendt já há umas duas semanas. Peguei emprestado na Biblioteca Central da UFPa e pretendo renovar o empréstimo. Interessante como em uma discussão altamente política a autora resolve colocar, como exemplo contrastante, a bondade cristã.

Não é de hoje que tomo contato com "as coisas que os primeiros cristãos faziam" e agora não fazemos mais. Os cristãos (talvez aqui caiba a palavra "crentes") sofrem dessa síndrome saudosista que os força a voltar a qualquer-lugar que estes não sabem onde fica exatamente. Quem sabe que eles soubessem pra onde voltar esse suposto retorno seria mais fácil, ou até mesmo desejável.

"O reino dos céus é semelhante a um homem que retira de seu tesouro coisas novas e coisas velhas".

A questão que se põe então não é normativa (fazer ou não fazer), mas reflexiva (fazer ou não fazer por quê?), visto que a própria importância do testemunho público se coloca aqui - tanto no nível institucional quanto no pessoal. Traduzindo: pode-se falar de bondade nas igrejas e nos seus membros? Bondade como a do Mestre? As instituições transformaram a prática do testemunho público em uma chamariz publicitário e os "indivíduos" (não sei se são dignos da minha acepção desta palavra) que as compõem são atraídos por esta propaganda espiritualista e reduzem, no seu vocabulário diário, a grandiosidade da ação Divina em... e os que lêem este blog com mais freqüência sabem o que direi depois.

É a espetacularização da nossa sociedade que alcançou o domínio da religião (o fez há tempos atrás, na realidade) e que, de certa forma, nos torna incapazes de fazer o bem — no sentido “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” da coisa — ou pelo menos de fazê-lo constantemente ou de forma regular e dentro da estrutura eclesiástica que gostamos de chamar “igreja”. Até o “ministério de misericórdia” carrega no seus uniformes (aliás, pra quê uniformes?) o logotipo (e pra quê um logotipo?) da “igreja” que pertence. O “mundo” já está na “igreja” e isso faz MUITO tempo. A grande ironia é que procuramos “o mundo” justamente onde ele não se importa de estar: na doutrina, nos usos e costumes etc — essa frase precisa de outro post, mas não será hoje!

“Porque me chamas bom? Bom é somente Um”.

Esquecemos rápido certas palavras do Mestre…

terça-feira, 25 de março de 2008

Sobre a ascese cristã

Vou confessar algo. Anseio encontrar cristãos.

Ah sim, eu os encontro. Conheço algumas cavernas, alguns cemitérios, algumas grutas e até mesmo alguns parques aonde posso encontrar esses "hereges". Hereges deste cristianismo apóstata e desvirtuador da Cruz que assombra com seu terrível espectro verde a vida dos que querem ser mártires da Causa. "Venha, siga-me e voe", ele diz. Mal sabem que ele quer dizer "sigam-me e morram". Morte!

Sim, morte! "Aos hereges!" Não! Morte aos "cristãos"!

"Cristãos" que fingem marchar conosco, sabem nosso linguajar, nossa estratégia, "têm aparência de piedade, porém negam o poder". Estes sim que são hereges. E aqueles outros, que andam pelos ermos da vida, fugindo do mundo e correndo para Deus, quem são? Estes sim, são os cristãos. Aqueles que vagam pelas trevas carregando uma tocha. E nela, arde um Fogo inextinguível. Eles sim mantém acesa a chama do verdadeiro Cristianismo.
(retirado de minha página no Orkut em 25.03.08)


"Morte", portanto, à forma e "vida" à essência. Não é por acaso que o Livro diz: "Filho, dá-me o teu coração, pois é dele que procedem as fontes da vida". A vida só pode ser vivida unicamente pelo Indivíduo que, despido de outros elos com esta realidade, família, amigos, posição social etc., pode mergulhar em si mesmo e, quem sabe, de lá retornar vivo. O pensamento judaico tinha razão ao temer a um Deus cuja onisciência alcançava mesmo a matéria informe no útero da mãe. É ali que a condição de Indivíduo pode ser tipificada, onde a falta de interferências externas e internas permite a ascese (elevação) do homem em direção ao Sagrado.

Porém o Cristianismo rapidamente acrescenta que esta ascese não é simplesmente a anulação da consciência. Na realidade, ele exalta a consciência humana como veículo criador e diferenciador do Homem do resto da Criação, visto que o homem é posto no Éden "para o guardar e cuidar". Desde a Reforma (e antes até, dependendo com que óculos você lê o Livro...rs) essa pregação contra-o-monge é um dos pilares da ética e moral cristã - quer algo mais evidente que "você tem que fazer diferença onde quer que você vá"?

É assim que somos ensinados. O ponto não é esse.

O ponto é quando nos desvirtuamos disso.

O desejo de "voltar" ao místico, melhor dizendo, o desejo de experimentar a dimensão mística que muitos adeptos de outras religiões dizem experimentar (claro que aqui também tem fatores sociais, porém não vou pesar mais o texto já pesado), leva muitos cristãos a buscarem essa fonte espiritual dentro do Cristianismo institucionalizado. Daí vem aquelas coisas que os tradicionais tanto se alegram em denunciar como, no mínimo, doidice: unções disso e daquilo, treme-treme etc.

O problema não é nem a manifestação em si mas o que vem depois dela.

A ascese que o Cristianismo protestante prega é a ascese intramundana, ou seja, o "fazer diferença" nesta terra. Cristo ensina que uma vida piedosa pode e deve ser vivida na sociedade com resultados práticos para esta mesma sociedade que não O aceita. Esta noção de ascese intramundana, como outras noções e conceitos cristãos, é constantemente bombardeada na sociedade atual enlatadora do Sagrado. Colocando em termos simples: ser cristão piedoso como antigamente simplesmente não tem mais graça. Agora a onda é "Jesus na veia", alienação gospel que pincelei aqui.

O homem busca o espiritual para satisfazer sua necessidade de algo transcendente, ele busca um sentido para sua vida, já que todos os sentidos que existiam, todas aquelas verdades eternas foram assopradas para longe pela Modernidade. E vemos a multiplicação de seitas e o retorno das religiões nórdicas, da wicca, de cultos orientais etc. E os cristãos também tem seu misticismo a ser explorado e vivenciado. Se isto é bom ou não, me reservo o direito de não opinar agora.

Entretanto mesmo que haja bem nisso ele está sendo ofuscado por tanto espetáculo carnal. Se há carne, há espírito, dirão alguns. E talvez haja.

terça-feira, 18 de março de 2008

Da rotina e seu trabalho [1]

Gosto muito de escrever.
É verdade.
Porém muitas vezes mesmo o que se gosta, mesmo o familiar pode ser exaustivo, danoso ou simplesmente desinteressante para nós. Com o tempo, fazer o que se gosta vira rotina e a rotina tem essa propriedade de tornar maçante qualquer atividade realizada debaixo de suas vistas.

É aí que, sob o domínio da rotina, somos escravizados. E pior, alegremente escravizados. Por tanto tempo que quando a última gota do veneno rotinizador finalmente deixa o sistema circulatório já não se sabe o que fazer ou como sair da situação de escravo. Muitos, quando defrontados com o fato de que seu conhecimento de mundo já não satisfaz sua alma, escolhem alienar-se em si ou no outro. E daí temos n atentados à vida e dignidade humanas, dos quais sempre destaco os criados pelo Cristianismo institucional.

Sim. A última frase é pra não perder o costume.

Porque no meio de tanta ênfase na alienação de todos pode se esconder a alienação de um.

Quando fazer o que se gosta torna-se rotina não há atividade que salve o sujeito dessa roda-viva de suplício do espírito. Há simplesmente uma tomada de consciência e uma decisão. Não se pode continuar a viver desta forma. Existe a possibilidade de estar errado não é mesmo? E do que estou falando? Falo da "unção"? Falo da "vida com Deus"? Falo da universidade, dos amigos, dos companheiros de trabalho, do próprio trabalho que tão duramente conseguiu esse sujeito (des)alienado? Posso estar falando de todas estas coisas e de nenhuma, e é por isto que você deve ler, enfatizo, ler estas linhas e deixar que as idéias contidas nestes signos penetrem em você - não de maneira passiva ou espiritualista! Longe de mim essas vulgaridades do espírito, essa mania do "tudo ministra" como se o ser humano não tivesse consciência!

Mas é no tornar-se leitor que o sujeito permite que as palavras do autor sejam também as suas, após devidamente organizadas.

Trabalhar é bom. Ou assim nos diz a sociedade que construímos. Trabalhar "na Obra" é melhor. E por isto mesmo, "o que cuida estar em pé, olhe para que não caia", isto é, se trabalhar "na Obra" é melhor que qualquer trabalho "mundano", aquele trabalho deve ser feito em santidade - i.e., separação.

Sei por experiência que trabalhar dentro de uma estrutura hierárquica eclesiástica pode ser algo bem opressor ou bem libertador. It's up to the subjects.

Robson Lima

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"Pós-Koinonia adiantado" ou "Reflexões de uma noite de fevereiro"


Sim. Mais um Carnaval chegou e nós também temos nossa festinha. Poderia discutir a frase - contundentemente colocada pela Natália, amiga minha de faculdade - famosa, quero dizer, emblemática de uma visão compartilhada inclusive por pessoas próximas a mim, que é "vocês vão lá pra não pular carnaval é?" ou qualquer semântica equivalente.
Não. Não entrarei nesse mérito. Hoje vou dar uma pausa no ácido corrosivo dos ferrolhos humanos. Encare como um reabastecimento.
O que queremos conquistar?
Que impulso é esse? Fala-se de conquista. E toma-te unção, toma-te rodopio, choro e gargantas fumadas por alguns dias (ou semanas). Nada contra isso tudo - em princípio - porém o que importa é o depois; transpondo para linguagem meio militarista, meio gospel atual: É manter o território o alvo devido, o propósito disso tudo. Já se foi uma semana de retiro. E o que nos restou?
As conseqüências físicas supracitadas passarão. O que permanece, senão as coisas do espírito?
Amizades são cultivadas, fotografias guardadas, memórias constantemente reavivadas. Os memoriais são erigidos. Que não se esqueça do que se prometeu, do que se perdeu e do que se ganhou neste Koinonia.
Conquistamos? Com certeza. E iremos conquistar mais e mais.
Manteremos a conquista?
Esta resposta não é minha...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Rochedos para náufragos

A cada vez que me encontro agarrando um rochedo; abrigo natural em tempestades no mar, penso em muitas coisas, talvez nem todas relacionadas diretamente com o ocorrido imediatamente antes quando caí do navio (ou helicóptero, vai depender de quanto dinheiro tenho disponível). Aquela briga com o capitão. Com o cozinheiro. Servente duma figa que não limpou o piso! Piloto incompetente que me deixou nessa situação! E a lista de pensamentos nada lisonjeiros prossegue. Entretanto também se pode pensar em várias outras situações que não teriam ligação direta com o episódio, mas que, em decorrência, aumentam em importância e urgência. A carta que não enviei. O e-mail de corrente chatíssimo que não respondi — mesmo sendo de um amigo de infância —, o abraço que não retribuí de maneira apropriada, o “eu te amo” que nunca disse…

Talvez devêssemos viver como em iminência de morte certa e terrível. Talvez assim valorizássemos mais a vida e as coisas debaixo do sol que trazem alegria e conforto para os cansados de espírito. Ou então isso só aumentaria o hedonismo de nossos tempos. Bem, apesar dessa possibilidade alarmar os moralistas, ao menos teríamos mais “liberdade” e maior “certeza” — quero dizer que o dualismo Bem-Mal ficaria nítido o suficiente para toda essa ortodoxia do “pode-não-pode” ser legítima.

Viver entre seres humanos é complicado. A legião de psicólogos está aí como evidência disso. Viver entre seres humanos em constante negação da sua humanidade (e da dos outros ao seu redor) é pior ainda. E sabe o que é pior ainda? É ser cônscio dessa situação e mesmo assim cair nela, uma e outra vez.

O “evangelho gospel” dominante na nação brasileira fez, e continua fazendo, mais estragos do que comumente se pensa. Não foram somente as doutrinas históricas que foram perturbadas ou as formas de liturgia clássica abolidas. Mentes e espíritos também foram enfeitiçados pela macumba gospel de nossos dias. Como? Desrespeitando as individualidades e forçando todos em um esquema homogeneizante apropriadamente concebido por meia-dúzia de mentes detentoras de capital simbólico — ou “unção”.

Ignora-se que o Corpo de Cristo é corpo e por isso especializado.

É por isso que dou graças a Deus por ter rochedos à minha disposição. Sejam amigos, conhecidos, blogs, sites ou revistas quaisquer. Sempre há um rochedo para o náufrago de espírito aqui. Graças ao Senhor dos Mares.

Nele, o Alto Refúgio

Robson Lima

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Relacionamentos interpessoais: sonho humano & Divino

É verdade que nunca quis conquistar o mundo. Especialmente quando esses sonhos megalômanos, não tão obviamente formulados, ocultos em frases como "conquistaremos esta terra", tomaram conta dos arraiais, quero dizer, igrejas evangelicas belenenses.

Não sou contra sonhos grandes. O próprio Cristianismo é, de certa forma, um sonho. Pense comigo isso: somos tão além-do-mundo (ou assim deveríamos ser...) que tudo o que cremos, reformulando, pois como é necessário fazer esta constante reforma; o fundamental das nossas crenças está baseado no sonho, no não-racional, na .

O que é o sonho? O que pode ser essa manifestação do inconsciente, espreitando-nos durante todo o dia, alimentando-se dele, aguardando pacientemente até o momento do sono para então dar o ar de sua (des)graça? Uma emanação do inconsciente. Seja! O meu inconsciente, o seu inconsciente são produtores desse sonho, do pesadelo, do devaneio, da "visagem"...

Sonhos são humanos. É esta uma das lições Divinas das revelações por sonhos das Escrituras: é no seu momento de maior fragilidade e humanidade que o Eterno encontra espaço pra ser Eterno.

Porém este "sonho humano" não é o que se vê em muitos "arraiais" (ops, igrejas... 'bendito' evangeliquês!). Sonhamos com ruas, cidades, Estados e o mundo aos pés de Cristo. Claro que devemos pregar. A Grande Comissão existe até para o predestinacionista mais ferrenho. O perigo deste deslumbre gospel é esquecer o próximo, o amigo, o parente que se apresenta para nós todos os dias. Então nos apossamos apressadamente dessa verdade e viramos legalistas do espírito humano, do relacionamento interpessoal.

A verdade é que pra muitos relacionar-se com pessoas fora de sua fé somente interessa enquanto possibilidade de "conversão" destas.

Ignoramos que Deus nos fez seres humanos "dotados de valências", de capacidade de simbolizar, de capacidade semiotica... não importa que área das Humanas faça-se referência. Temos transformado nossos relacionamentos em pura "negociata gospel": só somos "amigos" (quero dizer, companheiros) dos que pretendemos converter. Só se enxerga nos "mundanos" futuros convertidos e só então eles terão valor como seres humanos.

Logicamente, formulada tão cruamente essa afirmação será veementemente negada pelo leitor (evangélico) porém pense se a prática cristã deste ser destacado realmente está longe desse "tipo ideal". Diga-me tu leitor(a)! Quem é o "evangélico" que é verdadeiramente companheiro, alegrando-se na alegria e chorando na tristeza, deste "outros" incrédulos - tadinho, nem sabe que Deus não é evangélico. Peninha - que diz amar como Jesus? Jesus pregou Suas Boas Novas, e devemos fazer o mesmo. Porém não creio que o Mestre do Amor seria tão mercantilista com Sua Mensagem, a ponto de transmiti-la somente para quem quisesse ou como Lhe aprouvesse.

Ver o "outro" como próximo pode até ser jargão humanista.
E "conquistar essa geração" também.

Uma coisa é certa dessa pequena reflexão: A conquista se faz aos poucos, a cada dia. E não no passo largo e robusto das campanhas neopentecostais. É a proximidade vencendo a distância. É Cristo refletindo no indivíduo frente a Deus. Estes sim, os que (buscam) amam o próximo como a si mesmo, são os Elias atuais.

Em Cristo
R.Lima

Excurso de pessoalidade

É verdade que nunca quis conquistar o mundo. Especialmente quando esses sonhos megalômanos, não tão obviamente formulados, ocultos em frases como "conquistaremos esta terra", tomaram conta das igrejas evangélicas belenenses.

Não sou contra sonhos grandes. O próprio Cristianismo é, de certa forma, um sonho. Pense comigo isso: somos tão além-do-mundo (ou assim deveríamos ser...) que tudo o que cremos é sonho, reformulando, pois como é necessário fazer esta constante reforma e retificação; o fundamental das nossas crenças está baseado no sonho, no não-racional, na .

Todos que têm certa afinidade com a doutrina cristã sabem disso, que Deus está "além de nós", nisto os católicos o sentem mais que os protestantes, ao menos alguns deles (isso vale pros dois lados) deduzo. O próprio "Deus é fiel", "Deus é grande" e outros bordões repetidos em tom de graça, devoção ou pura troça conotam essa qualidade transcendente Dele, como que dizendo, seja para o (nosso) bem ou mal, "ei Você que tá aí em cima, me ouve seu...".

Talvez o problema esteja no exagero. "Não sejas demasiadamente santo,nem demasiadamente sábio, porque te destruirias a ti mesmo?" (Ec 7:16), parte rejeitada de um livro esquecido. Quem sabe por que não convém a estes sonhadores enfastiados com seu banquete do espírito, quem sabe por que os tempos atuais desprezem a frugalidade ou ainda por outro fator que me escapa agora.

Ultimamente, contudo, tenho sentido uma compulsão para voltar a sonhar. Calma, nada de chavões gospéis nem esse discurso reducionista que equipara o projeto humano ao Divino - quer prova maior do que "Deus satisfará os desejos do teu coração", citando Sl 37:4-6, esquecendo-se (que conveniente!) de que é o desejo do justo que Ele satisfaz. E nada de "somos justificados por Cristo" aqui. Justiça é santidade pessoal, ética e moral cristãs aqui, não outra coisa. Sou forçado a esses excursos...

O sonho é a manifestação do inconsciente, do arquétipo primário, escolha sua escola psicológica. Mas é algo humano, um desejo de ter qualquer-coisa-que-não-seja-esta, poder entrar num prédio onde (teoricamente) todos são irmãos e sentir-se verdadeiramente assim, não apenas massa, fundo de uma figura patética que só sabe "clamar por mais" sem saber que "mais" é este, e pra quê fazer isso. Algo que não me faça sentir culpado por saber demais, por favor? Existirá outra fé que não esta, diferente não em objeto de culto, mas em prática e cosmovisão? Existirá fé como esta, que reconhece que Deus está em todos os lugares e que nós somos a esplêndida realidade?

Alguém me responde essa? Recorra à subjetividade, ao movimento da igreja emergente, à própria pós-modernidade, à tradição dos pais, a qualquer coisa, mas fale algo! Fale algo.