domingo, 26 de setembro de 2010

Mea Culpa

- Ando afastado.
- Percebi.
- Daqui também.
- Também.
- É. Na verdade andei pensando sobre o significado de se afastar. Como ele é mal utilizado. Quer dizer, dizemos que nos afastamos quando realmente não queremos fazer isso. Afastar-se significa ampliar fronteiras para delimitar territórios emocionais. Significa dar nomes desagradáveis às pessoas e situações que rotineiramente se avolumam em grandes...
- Verborrágico.
- Ei, eu tava falando! Escuta...
- Sério, eu tô ficando chateado com isso. Cada idiotice que acontece você entra nessas esfirais de atuo-comiseração. Eu acho, quero dizer, REALMENTE acho que você poderia se dar mais valor agora. Mas sabe de outra coisa? Eu acho que você GOSTA.
- O quê?
- É isso que você ouviu. Você se diz incapaz de construir vínculos, de ter sentimentos adequados às situações e de cultivar um desprezo sistemático por tudo que outros considerem essencial para o desenvolvimento do ser humano. Cinismo, hipocrisia e outras palavras são levianamente invocadas por você para justificar o fato que, no fundo, tudo o que você quer é atenção dos outros. Você quer ser visto e ouvido. Você quer ser sentido e valorizado. Existem tantos outros...
- Cala a boca!
- ... existem tantos outros como você não é? Por isso a diferença é tão necessária. É fundamental, na verdade, que exista a diferença entre você e qualquer outro. Daí...
- Tá, eu já entendi. Sou um neurótico obsessivo com tendências sociopatas?
- Não ia chegar a tanto. Mas já que você começou eu deixo você terminar.
- Sério?
- Sim.
- Agora eu também não quero continuar.
- O que só prova o meu ponto mais ainda. E voltamos ao ponto do afastamento como paradigma da existência pessoal.
- Outro dia?
- Outro dia. Vamos ver Simpsons agora?
- Tá certo. Mas só se depois vermos Family Guy.