terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Formas de vida cibernéticas analógicas e outras coisas importantes (ou não)

Em primeiro lugar, desculpem pela ausência tão prolongada. Parte dela foi devido à minha conhecida relutância em fazer o que me proponho a fazer. E grande parte deve-se ao final de semestre da minha faculdade. Dito isso, vamos ao post.


Os que acompanham meu twitter sabem que estou envolvido com 3 atividades no momento.

1) #borntobe: Uma campanha para arrecadar o máximo de votos para a banda de uns amigos meus, chamada Born to be. As votações se encerram hoje.
2) #palavrantiga: Para ser específico, divulgar e patrocinar a vinda do Marcos Almeida (vocalista do Palavrantiga) para Belém no próximo fim de semana. Calma, provavelmente sairá um outro post somente pra esse assunto depois.
3) #savecaprica: Uma campanha online que se dispõe mobilizar a atenção da NBC para que revisem o cancelamento da série de TV "Caprica" - um spin-off (ou seja, uma série que deriva de outra, mas sem a necessidade de ver a anterior para entender o roteiro) do agora clássico moderno de ficção científica Battlestar Galactica.

Sobre o ponto três: E aqui vai um resuminho sobre a série e suas linhas principais de enredo. Caprica é ambientada em uma sociedade muito similar à nossa, exceto em alguns pontos, dos quais destacam-se o fato que eles são politeístas. Sim, esta é uma sociedade onde os deuses gregos não morreram e onde os humanos habitam 12 planetas diferentes, unidos federativamente. O enredo todo se passa no planeta Caprica (Capricórnio, dã!) onde o grande CEO endinheirado-feito-semideus Daniel Graystone vive bem com a mulher e a filha, Zoe Graystone. O problema é que a filha morre em um atentado a bomba no primeiro episódio. O namorado dela se explodiu levando-a junto com centenas de pessoas "em nome do único e verdadeiro deus" ("the one true god" é uma expressão recorrente dos monoteístas da série).
Cybernetic Lifeform = Cylon

Como toda série de ficção científica que se preze, Caprica traz questões importantes no seu bojo, no caso dela, a essência do que é ser humano, terrorismo com raízes religiosas, intolerância étnica entre outros assuntos (um sujeito no twitter me relembrou que existe um personagem gay e eu o relembrei que uma das monoteístas da série tem vários maridos/esposas). E isso não foi muito bem recebido nos EUA. Mas esse post não é sobre as péssimas técnicas de marketing empregadas pela rede de televisão NBC (através do canal SyFy) ou mesmo sobre o embate politeísmo e monoteísmo. Na verdade, nem é sobre a série em si - já me basto com a indicação que faço pra vocês: baixem e vejam. E revejam. Ok, querem um link? Toma!
A comunidade do Orkut da série também tem ótimos links com os 18 episódios completos e bem legendados. O sub é de qualidade.

Sobre o que é esse post então? Não sobre Caprica em si, garanto. É sobre repercussões.

Talvez seja por isso que custei tanto a escrever algo aqui. E ainda custo. Mesmo com tudo digital e sabendo que alguns botões apagariam tudo o que eu disse, essa máquina parece tão analógica. Tão única. Isso é uma das coisas que realmente me cativou no Caprica. Toda essa abordagem existencialista sobre o que nos torna humanos me fascina muito - pô, o título desse blog é uma referência ao Kierkegaard, o PAI DO EXISTENCIALISMO. ó tio Kierkegaard aí em cima!

A vinda do Marcos Almeida também abriu umas gestalts que não fecharam. Mas isso é um assunto mais... interno. Por aqui, eu solto que vou retomar minha busca do equilíbrio, pois me fizeram repensar toda a "questão púrpura" da minha vida (devo pra mim/vocês um post explicando o que raios é "púrpura").

A vida não é uma canção de amor. Se a vida for alguma música, ela seria uma ópera rock progressiva ou uma elegia cantada em élfico ou na'vi.

Retornando ao Caprica: A questão é: o que é o ser humano? Não se trata de questionar a soteriologia ortodoxa, algo como "Jesus morreu mesmo na cruz por mim?"; não, esse blog (raramente, se o foi e será) não é sobre questionamentos tão fáceis de formular/responder. Há algo em mim que não entendo. Não me apresso em chamá-lo de pecado. Pecado é outra coisa, é o ruim, o mau e o feio. A transgressão da Lei. É algo meu, não Dele, mas não necessariamente pecaminoso. É o que me faz ser eu. A alma analógica. Não reproduzível por meios industriais sem aura.
Até que ponto podemos ter as rédeas em nossas mãos? E por que deveríamos confiar em mais alguém pra nos dizer o limite além de nós, ou melhor, Daquela centelha de vida em nós? Não digo ignorar ética e valores, morais e cânones. Digo não à zumbizada gospel. Sério. Qual a revolta de Zoe Graystone, que a faz refazer um mundo inteiro? É a libertinagem, a relativização extremada, o politeísmo de valores!

Não me levem a mal. Vocês que me leem com frequência sabem que sou "pós-moderno" (de que forma específica é outra história - agora que escrevi isso, será que sou pós-moderno mesmo?) e que certa fluidez é aceitável sim. Gosto da ideia de saber que existem outras coisas além de mim que são interessantes. Isso não quer dizer que eu vá abraçar o mundo todo acriticamente, porém não quero deixar de ter a possibilidade de fazê-lo, a não ser que isto conflite com alguma regra basilar que eu esteja criando para situação X ou Y (faço isso com frequência alta).

O ponto, as usual, são os limites, as barreiras, onde levantar os campos AT. E sabem duma coisa?

Eu descubro isso com o tempo.

So say we all.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Palavrantiga - Pensei (clipe) OU Prólogo de outro post

Gente.

Eu sei que isso tá às traças, mas eu prometo que volto com gás!

O Marcos Almeida, da banda de rock brasileira Palavrantiga esteve aqui em Belém nesse fim de semana que passou e pude passar bons momentos com ele e, no meio de conversas densas (e ourtas nem tanto rs), tem um ou dois brotos de posts crescendo no meu cérebro.

Isso aqui é um "I'm stiiiill aliveeeee" da minha parte. Me cobrem, leitores poucos e fiéis (será?), um post sobre afinal o que é "púrpura", um sobre #savecaprica e o que isso tem a ver com a vinda do Marcos e com a maneira que vivemos hoje, e outro sobre o Rookmaaker (ou qualquer coisa parecida/derivada).

Alegria sempre!

E com musiquinha! Curtam!


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ashton Nyte - Sick of This

i'm sick of desperation
the same old trip i've walked one thousand times
i'm sick of aggravation
yet i thought i'd give it a little time
but i feel a whole lot weaker
i'm sick of what you gave me
a borrowed gift to practice those misty eyes
i'm sick of what you made me
sick of all the twisted thoughts inside
you couldn't leave the 'getting closer' - no
and now i feel a whole lot weaker

i'm tired of disillusion
i'm tired of all the insults under breath
i'm tired of the rainfall
i'm sick to death of being sick to death
holding on to your future
being strong but oh - forget it
i'm tired of this - place
you lay your head when i am trying to sleep
i'm sick of all this the kiss
against my naked neck and my cheek
you couldn't leave the 'getting closer'and now i feel a whole lot weaker

(Ashton Nyte - Sick of This)


E como usualmente, cito algo que é alternoide e, por incompetência minha ou do autor do conteúdo original (ou de seus outros fãs), não tenho como postar junto um vídeo. Mas recomendo muito Ashton Nyte. De verdade. É um som bem.... amplo.

E, também, porque hoje em particular era um dia de atualizar e nada de mais original me veio do que postar essa letra que estava com vontade há tempo.

"Essa não é mais uma canção de amor" - Palavrantiga

sábado, 16 de outubro de 2010

O que é o Reino de Deus?

Então lá estou eu no meio de pessoas diferentes, em um prédio diferente, localizado em um bairro fora das minhas rotas usuais de passagem nesta Belém que aprendi a tolerar. Como agora as coisas estão mais certas, eu digo abertamente: o Marcos Almeida, da banda brasileira de rock Palavrantiga, vem aqui em Belém pra fazer merchan e abrir caminho pra banda toda ano que vem.

E como a proposta é fazer ele circular, lá fui eu me meter pra uma Igreja Presbiteriana Unida. E não é que achei gente estranhamente familiar?

A discussão sobre o que é o Reino de Deus veio à tona. Alguém lembrou que tolerância e caridade poderiam ser os valores de base da "cultura do Reino". O reverendo, que apareceu por lá bem depois de iniciada a reunião, lembrou que o Reino "está em nós" (Lc 17:20-21). Claro que estou sumarizando bastante a discussão inteira, que teve exemplos retirados de Foucault e uma boa leva de antropologia cultural(ista - aliás, o culturalismo é uma comum entre cristãos querendo estudar fenômenos religiosos, não sei por quê. Quer dizer, eles nunca levam a coisa à sua última consequência lógica) e teologia existencialista e "liberal".

Sério gente, eu me senti em casa.

Como há muito tempo eu não me sentia.

A questão aqui é: isso é valendo? Ou somente a excitação do novo que anda me acometendo nesses tempos e pedindo passagem? E quando eu me cansar desse brinquedo, eu vou jogá-lo fora? Claro, considerando que é um brinquedo a coisa toda - é como eu disse pro reverendo: eu tenho a resposta "sim" e a resposta "não" pra quase todas as grandes perguntas de fé e teologia prática/teórica. Meu problema é decidir em qual deles eu acredito. Ou, e agora é adendo deste exato momento, se eu acredito na alteridade e pronto.

Durmam com essa.

domingo, 26 de setembro de 2010

Mea Culpa

- Ando afastado.
- Percebi.
- Daqui também.
- Também.
- É. Na verdade andei pensando sobre o significado de se afastar. Como ele é mal utilizado. Quer dizer, dizemos que nos afastamos quando realmente não queremos fazer isso. Afastar-se significa ampliar fronteiras para delimitar territórios emocionais. Significa dar nomes desagradáveis às pessoas e situações que rotineiramente se avolumam em grandes...
- Verborrágico.
- Ei, eu tava falando! Escuta...
- Sério, eu tô ficando chateado com isso. Cada idiotice que acontece você entra nessas esfirais de atuo-comiseração. Eu acho, quero dizer, REALMENTE acho que você poderia se dar mais valor agora. Mas sabe de outra coisa? Eu acho que você GOSTA.
- O quê?
- É isso que você ouviu. Você se diz incapaz de construir vínculos, de ter sentimentos adequados às situações e de cultivar um desprezo sistemático por tudo que outros considerem essencial para o desenvolvimento do ser humano. Cinismo, hipocrisia e outras palavras são levianamente invocadas por você para justificar o fato que, no fundo, tudo o que você quer é atenção dos outros. Você quer ser visto e ouvido. Você quer ser sentido e valorizado. Existem tantos outros...
- Cala a boca!
- ... existem tantos outros como você não é? Por isso a diferença é tão necessária. É fundamental, na verdade, que exista a diferença entre você e qualquer outro. Daí...
- Tá, eu já entendi. Sou um neurótico obsessivo com tendências sociopatas?
- Não ia chegar a tanto. Mas já que você começou eu deixo você terminar.
- Sério?
- Sim.
- Agora eu também não quero continuar.
- O que só prova o meu ponto mais ainda. E voltamos ao ponto do afastamento como paradigma da existência pessoal.
- Outro dia?
- Outro dia. Vamos ver Simpsons agora?
- Tá certo. Mas só se depois vermos Family Guy.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sentir pra quê?

E eis-me aqui, tentando não sentir. Por que as pessoas valorizam tanto o sentimento nesses tempos modernos? Eles são fluidos, enganadores, confundem os sentidos e tornam-nos animais. Por que eu deveria confiar em algo tão descontrolado quanto o sentimento - e aqui falo do sentimento em direção a outrem, o tal amor; ele também, contudo não somente o amor. Afinal, o que é o amor? Sentimento estúpido que prega peças e ri de nossas mãos tateando no labirinto do não-saber. Não saber se ela "gosta de mim". Não saber se "ele é o cara certo". Qualquer coisa assim, desse nível generalizante e moderninho que dita suas regras entupindo nossos ouvidos com seus sonhos de papel.

Sentir é ser levado pela correnteza, nu com os braços dormentes. Não há saída. Alguém me diz aí porque eu iria querer uma coisa dessa?

Isso te torna humano. Certo. E isso é uma coisa boa? Pois eu prefiro ter meu cérebro transferido pra uma máquina e ver o fim do mundo com meus olhos cibernéticos e processar as luzes da Nova Jerusalém com meu cérebro positrônico. Ainda me pergunto: por que as pessoas querem tanto sentir? Pois eu não. Não gostaria.

Mas é inevitável.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Chuva Invisível

É como se um cenário se organizasse diante de nossos olhos. Como se a ascensão de um líder evangélico X, o patriarcado de certo “chão recente”, redes de televisão contratando evangélicos no seu cast. Quando se fala de avivamento, pensa-se em muitas coisas. Pensa-se na chuva. Mas o que desce pela barba de Arão é o orvalho (Salmos 133). É a chuva invisível.

Qual é a idéia? Unidade.

Dissensões e porfias entopem as artérias do coração da Igreja. Aí ficamos esperando a chuva do avivamento e perdemos o orvalho. Queremos as grandes coisas, os grandes problemas resolvidos e desaparecendo nas sombras. Queremos os templos cheios. Queremos amores correspondidos a qualquer custo. O orvalho nasce e nós pisamos em cima dele.

As maiores obras de Deus são invisíveis. Átomos, células, bósons de Higgs, oxigênio. Amor, compreensão e paz de espírito. Espírito Santo, revestimento de poder e curas milagrosas. A suspensão das leis da natureza. Quem sabe haja mesmo um cenário. O que vocês que me lêem acham?

Será que isso tudo, todo esse contexto sócio-histórico cultural político e whatever; será que tudo isso não é um masterplan do Alto? Bate o “desespero” e a esperança. E as várias faces de mim lutam aqui, apresentam moções na assembléia mental, discordam e concordam disto e daquilo. Apresentar Salmo 133 e patriarcados ilegítimos como evidência de algo novo e terrível no horizonte. Terrível como o poder do Alto. Assombro e fumaça em cima de um monte no deserto.

E sim, isso foi um brainstorming.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Apogeu da Transgressão ou James Dean morreu?

E lá estávamos nós cinco, após algum tempo de separação forçada, conversando e discutindo como sempre, com sutis diferenças na perspectiva, com todo o tempo do mundo para concordar e discordar. Pulando de Lady Gaga para a construção histórica do " rebelde" (daí o Sr. Dean do título) e daí para o cavaleiro da fé kierkegaardiano; mais uma reunião espontaneamente séria e sarcasticamente comentada em notas de rodapé improvisadas em conversas pararelas.

O que norteou a confusão (eu sei, é uma aparente contradição em termos) foi a palavra "transgressão" e os significados que ela poderia assumir para alguém que queira ter uma coerência interna mínima.

No fazer artístico, significa procurar chocar, quebrar padrões, (tentar) ser autêntico. Tudo muito altamente discutível, questionável e que repugna certa parte de mim (se majoritária ou não, é outra história) por pressupor qualquer-coisa-que-ainda-não-consigo-frasear. Talvez seja simplesmente porque supõe o artista enquanto Outro Além, médium entre esferas de existência ou qualquer coisa do tipo. É, talvez seja isso. E tenho problemas com quimeras ingênuas.

Na história. Ah, pensem aí: James Dean enquanto mito, brand cultural e símbolo que liga com a ascenção/criação/reprodução da cultura jovem no pós-guerra, o rock como música transgressora e imoral, a publicidade entrando nos seus moldes atuais de atuação no mercado (Mad Men!), indústria automobilística reerguendo-se, dissolvição das estruturas de classes pré-II Guerra e muitos outros nexos causais que estou com preguiça de pontuar (sintam-se à vontade para retificar isso tá?).

No viver cristão.

No viver cristão...

No viver cristão chegou-se a conclusão... qual?

É possível ser transgressor (passar para outro lado. Vá ler o Aurélio!) com outros? Ou é tudo sempre individual, dependente do "carismático", do "iluminado", do "ungido" fulan@? E se é tudo uma e outra coisa, como sempre digo, onde se traçam as linhas? Se vejo algo torto quero consertar. Mas vale a pena consertar a Igreja? E não me venham com essa de "é só Jesus/Espírito Santo/Deus que conserta a Igreja". CLARO QUE SIM. Mas você, piedosos, acham que Ele usa o quê? O anjo descerá do céu no último dia, tocando a trombeta. Não é interessante que o Novo Testamento delegue para o último dia feitos fantásticos como esses? Mesmo os sinais e maravilhas prometidos aos santos após a Ascenção do Cristo são sobre o corpo mortal e sobre as leis naturais. São distorções, passsagens alternativas no código da programação, digamos assim. A Ele ficam reservados, por ora, coisas como atravessar paredes.

Vale a pena transgredir? Vale a pena passar por esse deserto solitariamente? Viver do que os corvos trazem? Teríamos CORAGEM para isso? E mais importante: (realmente) achamos necessário mudar as coisas? Não mudar para permanecer. Mudar para modificar e seja-o-que-Ele-quiser.

Será?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sinal de Vida

Olá pessoas!

Bem, a verdade é com com Copa do Mundo, final de semestre, TCC às portas, novas pessoas orbitando ao meu redor, redefinições dos círculos concêntricos do meu espaço social, abandono de disciplinas acadêmicas, abraço de outras disciplinas acadêmicas, livros comprados e permutados, teorias incipientes, discussões de beira-de-rio (a UFPa é na beira de um rio tá?), grupos de estudo interdisciplinares, Copa do Mundo, TCC, amizades consolidadas meio esquisitas pra cima de mim...

Enfim, o ponto é que tem muita coisa acontecendo agora. Se vocês quiserem, podem deixar aí nos comentários sugestões de assuntos que voces gostariam que eu abordasse, ou me avacalhar ou qualquer interação que seja.

Também escrevo devocionais para o blog da Conexão Jovem da minha congregação. Eu os assino com "Soli Deo Gloria", caso você tenha o nervo de lê-los para distinguir tais de quais.

E é isso. Vou indo.

Auf wiedersehen

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sabes que isso é algo que eu "me bato" algumas vezes? Nao necessariamente pelos motivos disso - eu até tenho uma ou duas teorias do por quê - ou se é necessário (no sentido de não arranhar a doutrina) fazer esse tipo de coisa - eu realmente voto SIM a isso - mas porque eu penso: COMO FAZER.
COMO FAZER com que os outros, de fora do nosso "grupo de elite",i.e., entrem nessa vibe com a gente?
COMO FAZER com que nossos dignissimos lideres entendam e comprem nosso sonho - se a natureza do pensamento religioso e da estruturação hierarquica é a mudança mínima?
E outros COMO FAZER ainda...
Obrigado gente. Acabei de me inspirar pra um post no meu blog. Claro que cito voces.
Abs!

E isso foi o que eu comentei em uma breve postagem que a galera do Altar Jovem fez. Eu os conheço de anos, e tenho eles em alta estima. Sobre o que era? Bem, voces podem clicar aí no link. xD

Basicamente se fala sobre a mania da igreja brasileira de importar o "jeito americano". O comentário reabre minha querela com a instituição Igreja, dessa vez sob a perspectiva da conscientização. Ao contrário de alguns amigos meus, eu não me considero tão fora-da-Igreja assim - ao menos fisicamente - mas eu realmente dou certo crédito pra eles porque é difícil às vezes equilibrar suas crenças pessoais sobre Deus e Sua Palavra com as coisas que se ouve/vê por aí.

Quanto à mania de imitar o EUA em tudo, isso não é lá muito exclusivo dos evangélicos. Mas nesse caso, o problema é muito mais pela comodidade de manter algo que está "funcionando" (ei, as pessoas estão indo lá nos cultos ora!).

E aí? Como fazer? Mudar? Pra quê? Pra quem? Por onde?

Fé não é certeza absoluta, é ter certeza absoluta do valor da dúvida.

Resistir ao poder só é possível onde há liberdade. Ou, pra citar um filósofo (por que eu "nunca"faço isso) alemão, Heidegger, "Pequena distância não é proximidade. Grande distância não é distanciamento".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre o homem "3 em 1" e seus Louboutin

Já pararam pra pensar na tricotomia do ser humano?

Claro que não - eu duvido MUITO! - Não desse jeito, mas... vamos por partes?

Os cristãos (com notáveis exceções, mas aqui eu me refiro especificamente aos pentecostais e neopentecostais em geral) acreditam que o ser humano possui alma, corpo e espírito. Ou como se diz por aí, "somos espírito que possui uma alma e habita em um corpo". Certo. O discurso de santificação prega que devemos alimentar o espírito e mortificar o corpo e (no mínimo) ignorar a alma.

Permissão pra ser (levemente) didático?

O corpo corresponde não somente à carnalidade (e daí aos pecados de natureza sexual; lascívia, adultérios e outros), mas também às coisas mundanas e/ou seculares. A esta vida, portanto, em sua acepção mais material (portanto vil) possível. Isso é a pincelada, desde a Idade Média muita coisa mudou sim, apesar das críticas externas dos ateístas pitbulls de Dawkins e outros detratores dos quais não me ocuparei agora.

A alma corresponde às emoções e sentimentos, sejam eles bons ou ruins. A alma não é considerada pecaminosa em si, ao contrário do corpo no cristianismo do período medieval (e até hoje na mentalidade católica popular de inspiração monástica - reportem-se às representações e imagens populares do "santo" popular católico), porém é coisa humana e como coisa humana deve ser tratada com cuidado - isso é coisa "recente", talvez (ei, não sou tão bom de teologia assim!) a coisa comece com Scheleimacher e sua teologia do sentimento. O que importa é que o evangelicalismo do pós-guerra nos EUA é o apogeu desse ponto, do hedonismo cristão; antes era moer a alma e dane-se. Portanto, a alma é nossa humanidade.

O espírito é a "parte" de nós (uso aspas porque nessas coisas sempre usa-se figuras de linguagem e coisas assim. Não somos armários nem temos closets cheios de sapatos Louboutin dentro da gente né?) que está em maior contato com Deus e as coisas da esfera espiritual - eu sei, há quem diga que enxergar o Universo dividido entre matéria e espírito é uma tremenda afronta à cosmovisão hebraica e à própria doutrina cristã. Por enquanto vamos botar o parêntesis nisso, apesar dessa discussão ser FUNDAMENTAL pra montar um "mapa cartográfico" pras coisas que digo aqui e ali.

E aí? Qual é a da aulinha? Bom, o que acontece é que atualmente na igreja evangélica busca-se a santidade (ou a santificação, depende como você enxerga o processo, ou se é um processo pra você) pelo silenciamento da alma. Quê?

Explico, ou melhor, vou tentar fazer isso: Acredita-se que seguir cegamente as orientações e os hábitos dos seguidores que estão lá antes de seu ingresso na religião cristã vai tornar você mais santo. Não porque se acredite que a santidade se pegue como gripe, mas porque acredita-se na "força da comunhão" como fator socializante e normativo sobre comportamentos específicos. E olha, isso até que é bom - POR UM TEMPO.

****SEGURA QUE AGORA COMEÇOU!!!****

Contudo esquecemos que a obra de Cristo objetiva reconciliar-nos com o Pai e conosco - "para que todos sejam um", "pois tendes o ministério da reconciliação", lembra? Tal obra não devia alienar-nos de nós ou do Outro (a pessoa, o irmão, o necessitado, o pecador lato sensu - e o stricto sensu também, leia-se drogados, prostitutas baratas, mendigos etc), antes reunir-nos Nele e nesta união mudarmos o mundo ao nosso redor?

Iniciativas existem? Claro! Elas são disseminadas? NEM PODERIAM SER! Como seriam se o evangélico não quer sofrer - mesmo que o sofrimento seja uma excelente escola, pra dizer o mínimo -, se o cristão mediano desconhece o REAL significado do martírio (e o associa somente à morte física) e o neopentecostal é educado a tratar todo infortúnio como vindo de Zoroastro/Diabo/Belzebu/Coloque-o-nome-do-deus-do-mal-genérico-aqui? Temos (percebam a ordem da pessoa que o verbo se refere! Percebam a intenção por trás disso) que ser vencedores, santos, puros, imaculados, pacientes, bondosos, planar acima de tudo isso - e de certo modo temos mesmo. Porém a Força propulsora não advém de nós! Isso é destruir a Graça! Somos santos porque somos santificados! Somos justos porque somos justificados! Nossa vida é testemunho de algo que JÁ possuímos/somos, não a fútil tentativa de comprar bilhete de metrô pro céu.

O sistema religioso não privilegia a rede social, a microssocialidade, o comunal. Ele o engole (a palavra acadêmica é subsumido, caso você esteja querendo saber) e mata. Quando não o consegue, o transforma em mecanismo de replicação do sistema, matando a principal função da vida - reprodução em seu próprio ritmo. Câncer é o nome pessoas! Câncer!

Que cruz é essa que aponta morte e não vida? Que "ministério da reconciliação" é esse que só traz sofrimento, desespero e alienação? Responder algo como "mas esse NÃO é o Evangelho!" é só o começo do problema. Qual é então esse Evangelho? Qual o(s) caminho(s) a seguir (nein! Eu SEI que Jesus é o caminho. Eu tô falando de prática de vida! Caráter! Atitudes concretas e reais!)? A resposta passa, em minha concepção, pelo despir-se dessa linguagem gospelizada que obscurece e escamoteia nossas falhas em viver a Vida. Não podemos confundir aceitação pelo meio social com santificação pessoal (e nem o oposto: nem todo outsider é profeta, nem todo bom orador é um evangelista).

Respostas definitivas não me cabem. Somente pontos-de-vista. Se eles estão corretos ou não, cabe a você me dizer (preferencialmente por quê). Certo?

Boa matutada nesse calhamaço agora!
Até!

sábado, 20 de março de 2010

#Sorry

Como começar isso...?

Desculpe por não corresponder às suas noções. É sério. Alguma coisa me impele a ser mais como você gostaria, ou melhor, como eu acredito que você gostaria que eu fosse (ou seria como as pessoas acreditam que você gostaria que eu fosse?). Mas, e você sabe disso muito bem, tenho problemas em corresponder às expectativas dos outros. Ultimamente tenho tentado me conformar, e até convenci alguns (quem sabe, até eu mesmo!) de que AGORA eu estava correspondendo àquele modelo. Agora SIM seria aceito e tratado como igual.

Por você? Não, não acredito que seja por você que fiz/faço isso. Ao menos em grande parte. Acho que é pelos outros.

Por quê? Eu sei lá; a opinião alheia parece importar pra maioria da humanidade e eu, infelizmente, não constituo exceção. Já externei pra outros(as) meus desejos de extirpar minha humanidade de mim. Arrancar os afetos, as emoções, hesitações carnais e sentimentais que só fazem me atrapalhar. Sim, eu sei. O preço. Sempre o preço. Sei que é alto. E sei que não estou disposto a pagar. Desculpa por querer fantasiar !?

Desculpe. Outro hábito que adquiri nesses últimos tempos. Defensiva. Andar com a guarda alta. Punhos na altura do queixo. Pensar no que dizer duas vezes. Três vezes. Manipular conversas, falas, gestos. Cultivar a imagem. Pra um e pra outro lado de mim, cultivo imagens. Dualidade. Visto-me em púrpura. Eu sei. Hipócrita. Acho que é um modo de ver a questão. Outro poderia argumentar que é assim que se vive debaixo do sol. Eu lá tenho culpa? Eu lá fiz as regras do mundo?

Não! Não questiono a obra que você fez. Mas olha, venhamos e convenhamos, eles são estranhos! Sério! Olha: todos alegres dançando em meio a guerra, apegando-se às suas verdades medonhas ou gloriosas, ignorando o CAOS que ruge lá fora. Acham que esse CAOS é desordem, morte, antítese de suas sínteses. Não. CAOS é ordem. Ordem desconhecida, assim me foi dito (ou eu tive essa epifania sozinho? Nem lembro). Daí vem as noções de Absurdo e coisas derivadas que escrevo aqui de quando em quando.

Se te ofendo... bem, faça algo a respeito, porque Eu não consigo mudar agora. Sério. Não sozinho, não isso; tão profundo quanto o Sheol e tão duro quanto o ciúme. Esse amor... por quem? por quê? Por mim, pela dualidade, por Ele...? Ainda não decidi e talvez nem decida. O quê!?!?!?? Ah, como vou saber? Eu lá mando em mim? Gostaria, acredite, eu GOSTARIA de mandar em mim de quando em vez.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não consigo escrever coisas bacanas e novas. Não por falta de assunto ou capacidade intelectual. Acho que é falta de ânimo mesmo.

Não me levem a mal. Eu gosto disso daqui. E gosto dos comentários. Gosto da catarse que escrever aqui proporciona, gosto de navegar pela blogosfera e descobrir que não estou epistemicamente só no Universo e acima disso, gosto mesmo do senso de durabilidade (até eternidade) que palavras lançadas numa nuvem digital tem sobre meu espírito.

"Deus colocou a eternidade no coração dos homens", diz o Pregador.

O que estaria por trás do inconformismo, da não-anuência a este ou aquele ditame neopentecostal, do recusar-se a dobrar os joelhos perante qualquer coisa/pessoa/ideia além das Antigas (e mesmo perante elas, percebe-se relutância)?

"Eu sou eu mesmo. Eu sou a soma dos objetos que ligo pela minha vontade. Eu sou moldado pelos outros. Eu descubro minha forma pela forma dos outros." (Ayanami Rei in N.G.Evangelion ep.26) então o que me sobrará, se eu me emancipar de todo?

O Gil compara a Igreja ao BBB. Eu comparo a vida cristã ao Absurdo. Um amigo meu é contra retiros de igrejas até a morte. Por motivos piedosos. Outro amigo meu saiu da igreja institucionalizada. Outros motivos perfeitamente piedosos. Outros ainda, esses então mais ainda, vivem entre nós com as cabeças abaixadas - beduínos no deserto, fontes de vida e paz pra quem tiver o nervo de conversar com eles.


No fim das contas só queremos sobreviver acompanhados.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Devocional I:I

"Eles perguntaram: Mulher, por que você chora? E ela respondeu: Eles levaram meu Senhor embora" (Jo 20:13)



Para a maior parte do povo naquele domingo, era um dia como outro. Talvez tenha havido comoção por causa daquele malfeitor que foi crucificado... sim, aquele que fazia milagres, que ia derrubar o Templo e que mandou a gente amar os outros pra variar um pouco. Como sabemos, a comoção pelo pária social é fugaz. Não havia um grande grupo disposto a publicamente assumir-se como os sucessores do Nazareno. Quem ia querer ter o nome associado à desgraça social e espiritual?

Bom. Havia uma mulher. Como Ele, também havia sofrido o apontar de dedos julgadores e olhares enviesados. Ela teve motivos pra isso e atraiu com razão essa atenção indesejada. Ela saiu do caminho em que estava - não que alguém tenha lá notado isso, além de um pequeno grupo que naquela altura do campeonato estava fragmentado e virtualmente inexistia.

Se você se der ao trabalho de ler o capítulo todo, você vai perceber que a primeira pessoa que é mostrada com algum destaque na narrativa após a morte do Cristo é essa mulher. Maria Madalena é como nós a conhecemos. Ela é a que primeiro visita o túmulo. Ela percebe algo errado e vai contar a quem de direito. Os discípulos, aqueles homens que andavam com Ele o tempo todo. Eles vão, vêm o túmulo vazio e voltam meio desnorteados, apesar de crentes. Maria ficara para prantear.

Aparentemente não rolou muita comunicação nessa hora, pois Maria fica lá chorando e os discípulos vão embora e "esquecem" de dizer pra'quela mulher que o Mestre tinha voltado dos mortos e aquelas lágrimas não seriam, em tese, necessárias. Eles se vão e a deixam com seu desespero, agarrando-se à única coisa que poderia fazer naquele momento: cuidar do corpo do homem que tanto havia feito por ela. Que tanto (por que não? Não é como se existisse somente um tipo!) amara. Quando lhe foi tirada a oportunidade de fazer tudo o que ela poderia fazer naquele momento, ela desmorona. Chora compulsivamente. Levanta os olhos e não percebe que os dois homens na sua frente não estavam ali segundos antes. Não importa. Importa o que ela sentia e o sentia era a necessidade de prestar suas homenagens. Enlutar. Se entregar. Se limpar.

"Levaram meu Senhor embora", ela diz. Eles levaram o meu Senhor embora. Ela é a única que diz em voz alta que considerava aquele criminoso seu Senhor. Seu Dominador. Ela declarou que era possuída por outrem, não como fora no passado possuída por outros - objeto de satisfação, de prazer fátuo, escape da pressão social para uns que, quem sabe, nem sabiam seu nome - mas era possuída no seu espírito por Alguém que prestava. Um Alguém que não a trataria como objeto, como pária social, como sexo fraco, como simples mulher. Ele via além disso, e era Senhor do que estava além disso - sua alma e seu espírito.

Maria, ao se deparar com a perda, buscou abrigo no que lhe era familiar - o rito fúnebre, os discípulos, até mesmo no corpo morto do Mestre. O que os discípulos, os anjos e depois o próprio Mestre lhe mostraram? Que a fonte pra qual se deve beber quando em desespero é o Absurdo - a coisa "que olhos ainda não viram, nem ouvidos ouviram", a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus", que NUNCA poderá ser reduzida a simples benesses nesta vida ou na próxima. Estar com Ele é mais do que ter uma vida tranquila (coisa aliás que Ele mesmo não prometeu: "No mundo tereis aflições..."), é ter vida. Completa, total, singular, inominável.

Todos desesperamos. Se não o fizemos ainda, o faremos. Isso é humano. Maria desesperou. Os discípulos desesperaram. Não permaneceram nele. E não saíram dele porque quiseram assim. Saíram apesar de sua vontade de nele permanecer. Os homens tomaram a iniciativa de perguntar a mulher o por quê do seu choro. O Homem que primeiro lhe dirigiu a palavra. Entendem?

Todos desesperamos. Todos somos Maria. E todos precisamos do Homem de Branco.


Soli Deo gloria


PS: Este post se chama "Devocional I:I" porque o "prólogo" desta seção está aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

VÁRIOS passarinhos me contaram...

Há uns dias atrás estava eu no meu twitter, fazendo nada, e daí me deu um estalo: vou postar algo sobre cultura cristã. Afinal, estava na hora de fazer algo útil com o twitter certo? E posto os seguintes 280 caracteres:

Crente é contra casas monitoradas,fazendas fake e dramalhões televisionados.
Mas e aí?A solução é o quê? Entupir a tv de prog evangelistico?
Entendam: crentes se afirmam como grupo à parte, porém ñ produz cultura
própria em qte e qualidade a ponto d efetivarem essa "separação".


Rapidamente obtive a resposta de duas pessoas amigas, conhecidas de fora da rede, Katherine e Karla. (Não só delas…) Não chegamos a realmente nos alongar porque postei os 280 caracteres da discórdia e fui dormir, vendo o resultado só no outro dia. Aliás, cheguei a twittar algo sobre isso, do gênero “não bote fogo no circo e vá dormir”.


O que eu quis dizer afinal de contas?


Eu respondo essa pergunta, de uma forma ou de outra, em todos os posts daqui e em outros lugares também. Vou tentar explicar o que estava na minha cabeça naquele momento. Esclarecimento, a cultura é, grosso modo, o conjunto de práticas, modos de agir, pensar e sentir de um povo ou de uma comunidade de pessoas. Essas pessoas dão sentido a tudo que lhes cerca utilizando as ferramentas oferecidas pela cultura. Você só sabe que o sinal vermelho significa PARE porque alguém lhe disse. Sacou? É por aí.


Como um grupo social que se propõe ser separado do convívio social comum, um grupo santificado, os crentes geram essas ferramentas de formas diferentes das outras pessoas. Isso possibilita que os crentes (seu tipo ideal, ou seja, o “estereótipo” do crente, seja o “assembleiano”, seja o “gospel”) sejam identificados como tal por qualquer um da sociedade na qual estão inseridos, inclusive outros crentes (essa é a explicação sociológica, digamos assim, para a história do “crente conhece crente”). É claro, portanto, que os crentes produzem cultura própria, como qualquer outro grupo social.


O que eu disse naqueles infames 280 caracteres trabalhava com o seguinte raciocínio: SE o grupo social “crentes” intitula-se separado da sociedade (chamada de “mundo”) porque apropriarem-se dos veículos culturais deste mesmo “mundo” para seus próprios fins? Fazendo isto o que se terá é uma dissolução progressiva da “barreira cultural” entre crentes e não-crentes. O “nós e eles”, esse mundinho preto-e-branco que o religioso/gospel tipo puro adora, se autodestrói.


O ponto aqui não é o que penso disso. O ponto é a contradição.


A cultura cristã, na verdade, a cultura gospel, tem tentado resolver essa tensão que é própria do pensamento religioso com vários expedientes, entre eles a teologia do domínio e a quebra do ascetismo cultural do pentecostal clássico (agradeça a Renascer por agora todos podermos louvar a Deus com rock! Yeah!). Esses esforços têm trazido mais membros para as igrejas, porém cristãos mais tradicionais, além da intelligentsia pentecostal, se mostram apreensivos e críticos a tudo isso. A maneira como se processa a conversão e manutenção do fiel é vista ora como positiva, ora como negativa. Contradição.


O “problema” não é a contradição. A contradição é parte da “solução”; considerando que haja um problema solucionável aqui e se adotarmos a lógica aristotélica do terceiro excluído (ou é isto, ou é aquilo). O “problema” é o não-reconhecimento da contradição inerente à vida do ser humano e à vida do cristão. Deus não pode e não vai dar todas as respostas ou todas as bênçãos que pedimos/ordenamos/reivindicamos, Deus não pode e não vai ser explicado totalmente por pastor/apóstolo/bispo/leigo/semideus nenhum! Simplesmente não entendo porque o gospel/religioso/fariseu não consegue entender isso - mentira, eu sei, mas não vou dizer.


A “solução” também não é “se assentar na roda dos escarnecedores”[1]. Afinal, se ainda se pretende professar uma religião que não é a da maioria, viva-se com isso ou larga isso duma vez! Como cheguei a responder no outro dia, isso não é sobre testemunho cristão (já pontuei umas coisinhas aqui e aqui, pretendo voltar a isso em outra oportunidade), isso é “entender” a contradição e fazer algo sobre isso; não simplesmente reproduzir o sistema religioso, saber que a Verdade não pode ser contida com nossas mãos e que no espaço não há dia nem noite, apenas o espaço que rasgamos com luz… Claro que isso reflete em toda a vida de uma pessoa, saber que o fato de eu ter “Jesus no coração” não me torna melhor que ninguém, (muitíssimo) grosso modo, que eu sou humano como qualquer um e tudo que posso dizer de outras religiões podem dizer da minha — e daí decidir o que fazer com isso, permanecer ou pular no oceano da fé, etc e tal.


O salmista disse que era bem-aventurado o homem que não se assentava na roda dos escarnecedores. Mas Jesus comia com publicanos e pecadores… e aí? Contradição. A "harmonia da imperfeição".


Bem… chega por enquanto!


Condensar vários pensamentos em 280 caracteres dá nisso: dezenas de twetts de pessoas tentando entender o que você disse (ou pior: achando que entenderam e falando em cima desse entendimento) e um post de — até agora — 954 palavras, ops, 955 palavras, ops…(Já parei de contar, alterei muita coisa depois de tirei ele do Word)

Espero pelo menos ter começado a explicar. Ou melhor, construir algo junto.

___________________

[1] No sentido do ascetismo gospel, o "eu sou melhor que vocês" e coisas correlatas.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aforismos I

I

A verdade é relativa ao individuo. A verdade é individual. A verdade é Deus na carne.

II

A pedra é mentira, coisa morta e incapaz de ser vivificada. A pedra funda pois não se move. A pedra não se move porque é morta.

III

O que se edifica na pedra está morto. Para viver, é necessário ter vida em si. Uma casa em cima da pedra não é melhor que a pedra em si. Um casebre é diferente de um casarão somente diante de nossos olhos. A casa não tem vida. A pedra não tem vida. A pessoa que fez a casa e a pessoa que viverá na casa, essas tem vida.

IV

Água benta, óleo consagrado, redes midiáticas "convertidas" em instrumento de "pregação do Evangelho", programas de alcance de fatias específicas da população local. Pedra. Pedra. Morta.

V

"Eu vim para que tenhais vida, e vida em abundância", disse a Verdade certa vez.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Excurso: Sobre o Haiti

Soube ontem do juízo que o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson emitiu sobre a situação no Haiti.

É tão típico né?

Ai, posso não falar muito? Esse tipo de coisa me exaspera. Ver que existem tantos de nós que ainda nutrem tanto medievalismo, tanto não-amor, tanta falta de foco... será que acreditam que fazem um serviço ao Reino pregando esse Jesus de faca em punho, pronto a esbaldar-Se no sangue de Seus opositores - será que merece essas maiúsculas que acabei de ceder?

Não entendo. Realmente. Tanto "flerte com o mundo" e no fim a mesma coisa.

Minha opinião? Vejam os dois links para terem uma ideia:

Igrejas Alternativas

Ricardo Gondim

Tem também esse aqui, curto e um tanto mais apaziguador: Solomon1

Té.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mas o que é pós-modernidade mesmo?

Percebi que pouco falo sobre o pós-modernismo (ou pós-modernidade, ou modernidade tardia, ou...) aqui neste blog, mesmo sendo fundamental uma familiaridade com esse conceito, ou melhor, com o que ele significa pra pessoa em si que professa uma espiritualidade cristã. Então, resolvi repassar algo que vi no blog Pão e Vinho sobre o assunto. Dá uma boa introdução a tudo isso.

Minha crítica é à primeira concepção de pós-modernidade que o autor apresenta. O relativismo que paira sobre a Bíblia e a fé cristã é geral e não restrito à pós-modernidade. De fato, desde o século XIX já se vêem rumores de anjos (pra citar Peter Berger) sendo silenciados - primeiro na Academia, depois na rua. Acredito que vivemos uma época turbulenta que propricia essa reação de relativismo exagerado, digamos assim, porque realmente é mais fácil acreditar em tudo (e em nada) do que acreditar numa coisa só. O preço de ser uma minoria cognitiva é alto! Mas depois eu entro (mais ainda - esse blog todo é sobre isso) nessas querelas psicológicas/culturais/subjetivas.
E também tenho um problema com a nota 2: os riscos são esses mesmos que o autor apontou, realmente o "povo sem igreja" corre sim o risco de cair em outra forma de alienação religiosa, um farisaísmo com outra máscara, sentindo-se melhores por não estarem inseridos na instituição Igreja e esquecendo-se de ser Igreja. Mas o risco não tira o mérito desta escolha. De fato, toda escolha no Caminho comporta risco, perigo e possibilidade de queda. É por isso que crer é lançar-se num mar sem saber como nadar (lembrando Kierkegaard). De quê adiantaria crermos em algo tão... firme?
Ok, já comecei a me empolgar. Fiquem com o texto. Até.


Peregrinos da Pós-Modernidade

A estiagem pós-moderna e seus efeitos …

Um dos fenômenos que testemunharemos mais e mais nos dias atuais é aquilo que particularmente chamo de “peregrinos pós-modernos”.

Algumas características do pós-modernismo são a rejeição ao cristianismo institucionalizado, suas hierarquias eclesiásticas e seu formalismo religioso; um interesse na vida comunitária, na justiça social e em uma “espiritualidade não religiosa”. Como resultado, há hoje um discreto êxodo de pessoas da Igreja tradicional que estão partindo em busca de uma expressão de fé mais genuína e autêntica que, supostamente, não pode mais ser encontrada em meio aos emaranhados institucionais.

Entre aqueles que se identificam como cristãos, posso identificar três tipos de peregrinos pós-modernos:

1) Aqueles que, influenciados pelo relativismo da pós-modernidade, vêem o compromisso doutrinário do cristianismo ortodoxo como uma atitude beligerante e procuram se desassociar de um sistema fechado de valores absolutos (doutrina), característico da Igreja Protestante. Na opinião destes peregrinos, os dogmas do protestantismo geram uma fé exclusivista. Para eles, a Igreja se tornou ensimesmada e indiferente com as mazelas de nossa sociedade. Por estas e outras razões, estes peregrinos se denominam, entre muitas coisas, “cristãos pós-protestantes”. Eles estão em busca de uma religião mais relevante em um contexto pluralista pós-moderno, o que se traduz por uma ortodoxia mais inclusivista e igualitária, de serviço ao próximo e que promova o diálogo aberto com outros grupos religiosos. Exemplos disso são os diálogos ecumênicos, iniciativas de ação social (cuja espinha dorsal, na America Latina, é em grande parte formada por postulados da Teologia da Libertação) e, em uma atitude mais “inclusivista”, o apoio à união civil homoafetiva (casamento gay) promovidos por parte da Igreja Emergente.

2) O segundo tipo de peregrino pós-moderno é aquele que não tem pretensões tão idealistas quanto à relevância da Igreja na pós-modernidade, mas está simplesmente cansado da liturgia oca da religião institucionalizada. Este tipo de peregrino pós-moderno preferiu adotar uma expressão de fé informal e desprovida de ritualismos (espiritualidade sem religiosidade). O slogan destes peregrinhos é “onde quer que eu esteja, eu sou Igreja”. A idéia por trás desta afirmação é que as pessoas são a Igreja, e que não necessitamos fazer parte de uma congregação para estar na Ekklesia. Estes pensam que se “dois ou três estiverem reunidos” para comer na Lanchonete do Zé, aí está a Igreja. Não há um compromisso formal de congregar-se e cultua-se uma fobia a qualquer coisa que cheire “organização” ou “sistema religioso”.

3) O terceiro grupo de peregrinos é composto por aqueles que rejeitam o relativismo e o secularismo característicos na pós-modernidade, mas entendem que a Igreja está engessada em um modelo eclesiológico medieval que necessita ser reformado. Em outras palavras, estes peregrinos são essencialmente evangélicos que não propõem uma mudança nas questões doutrinárias essenciais à fé (como a soteriologia, por exemplo), mas sim uma reforma radical nos odres do institucionalismo cristão, com seus templos e castas clericais. Na concepção destes peregrinos, a Igreja moderna sofre de eclesiocentrismo, pois gira somente em torno da manutenção de sua própria estrutura (programas, cargos assalariados e manutenção de edifícios) e daí derivam todos os seus problemas: falta de comunhão entre os membros, falta de discipulado e crescimento espiritual, falta de serviço (ministério de todos os santos), etc. Há uma busca pela restauração dos dons espirituais, do dinamismo e da simplicidade que caracterizaram a Igreja Primitiva.

Os três grupos conseguem corretamente apontar os problemas da máquina eclesiástica que herdamos do catolicismo medieval. Mas o primeiro tipo de peregrino erra ao abraçar o liberalismo teológico.1 Já o segundo peregrino peca por adotar uma “espiritualidade sem religiosidade” que se traduz em uma fé sem compromisso, uma informalidade excessiva que desintegra o Corpo de Cristo em uma determinada localidade.2 O terceiro grupo, longe de estar isento de erros, é o que me parece estar caminhando em uma direção mais segura. Em minha opinião, apenas erra quando se perde ao longo da caminhada, e acaba não produzindo nada além de uma versão em miniatura, “mais enxuta”, daquilo que eles mesmos condenavam.

Nem todas as propostas da pós-modernidade são vãs ou heréticas. Devemos sair de uma postura meramente defensiva e analisar as áreas em que temos falhado como Igreja, principalmente no tocante a uma eclesiologia mais simples e mais comunitária, como veremos na segunda parte deste artigo.

Notas

[1] Esta ala da Igreja Emergente abraçou a filosofia pós-moderna na formação de seus conceitos, que prega a inexistência da verdade: o que é verdade para você, pode não ser verdade para outros. Tais patrocinam uma visão “anti-fundamentalista” que elimina todos os absolutos da fé cristã (o único absoluto é a “lei do amor”). Assim, o inferno não existe e a cruz é uma propaganda enganosa do evangelho. Nesta prática de fé universalista, o sacrifício de Cristo deixa de ser entendido como um ato expiatório em favor da humanidade, para tornar-se somente um exemplo de pacifismo e auto-negação por parte do Mestre. As Escrituras Sagradas deixam de ser vistas como a Palavra de Deus, para tornar-se um mero produto cultural de Israel da antiguidade. Seguindo a tendência pós-moderna, os emergentes liberais substituem os aspectos sobrenaturais da fé e o compromisso doutrinário pelo “evangelho social.”
[2] Toda expressão de Igreja que envolva o “congregar” requer algum tipo de “sistema”. O corpo humano é formado por diversos sistemas (nervoso, digestivo, linfático, etc) com suas diversas rotinas, o que não o torna necessariamente um robô. Todo indivíduo possui algumas rotinas básicas (escovar os dentes, tomar banho, ir ao trabalho) o que tampouco o torna um robô. A ausência total de rotinas e sistemas no universo – ou na vida de um indivíduo – resultariam em caos. O mesmo se aplica à Igreja: nosso desafio não é o de viver uma Igreja sem nenhum tipo de sistema no congregar e financiar o Reino, mas o de tornar a prática destas coisas a mais simples e orgânica possível, eliminando toda distração e burocracia religiosa de nosso meio. Infelizmente, muitos que saem do cristianismo organizado se tornam demasiadamente informais e “soltos”, isto é, sem vínculos formais com uma congregação, contrariando o mandamento apostólico em Hb 10:25. Estes praticam um tipo de igreja virtual e imaginária, perpetuando um estilo de vida solitário, indisciplinado e descomprometido que não contribue para a edificação do indivíduo, nem para a expansão do Reino na terra. É o fenômeno que particularmente chamo de pós-igrejismo.