sábado, 24 de outubro de 2009

RE: As crianças bruxas estão à solta...

Li isso no blog do pr. Márcio de Sousa
Ele leu isso no blog da Nani. E eu estou repassando.

Me reservo o direito de repassar com as palavras da Nani, blogueira que, embora eu não conheça pessoalmente, respeito muito pela opinião equilibrada e pelo domínio da Palavra. O vídeo tá aí. O texto que vem abaixo é da Nani. De mim, leiam apenas silêncio. Por enquanto.





texto retirado do blog da Nani:
"Se eu fosse um mentiroso, ele responde, você não veria tanta gente aqui. Isso prova que eu não sou um charlatão."
Se a acusação de bruxaria contra crianças está longe de nossa realidade, o argumento usado para legitimar esse fato nos é muito familiar. Infelizmente, em nosso país, muitos se dizem ungidos porque levam milhares de pessoas a uma fé não validada pela Bíblia.
Tendo em vista que alguns destes profeteiros de resultados não tem respeito pela vida, esses rituais podem chegar aqui de forma alterada. Vejamos uma possível linha de pensamento:
  1. se o líder diz que o aborto é permitido porque as crianças não são geradas pela vontade de Deus,
  2. então por que fazer com que pais sustentem crianças que não queriam ter?
  3. Vamos dar uma alternativa a esses pais para se livrarem dessas crianças que já nasceram.
  4. No Brasil, bruxaria não tem tanto efeito. Vamos amenizar a coisa... Podemos criar as "crianças encostos". Encosto todo brasileiro conhece e muitos acreditam!
Já imaginou quantas pessoas sem condições no Brasil não colocariam os filhos na rua porque acreditam que elas lhe impedem a prosperidade financeira? Algo do tipo: "você gasta muito com seu filho, ele está te tirando o dinheiro que Deus lhe deu. Seu filho é um encosto! Pague para libertá-lo ou o abandone".
Você pode dizer que estou sendo dramática, mas os filhos das trevas são bem espertos. A prática pode vir alterada, mas a justificativa da quantidade é a mesma praga que vemos tantos profeteiros e seus defensores propagando em blogs, no Youtube e na televisão.
Devemos matar o mal pela raiz: precisamos parar com a teologia do cristianismo de popularidade! Aprovação popular não quer dizer conformidade com a vontade de Deus. Precisamos parar com a mentalidade do "Se eu engano muita gente, então eu sou cristão".
Devemos combater o que acontece na África e tentar ajudar essas crianças. Devemos também estar atentos para que isso não aconteça de forma velada ou similar em nosso país.

sábado, 17 de outubro de 2009

"Para que todos sejam um"

Essa foi, como se diz, a oração do Senhor que ainda não foi cumprida - agradeça a Tommy Tenney e seu God's Dreamteam por essa exegese não-tão-ortodoxa-assim. Aqui tem alguns livros pra download.

E se o sonho Dele for nos transformar em parte de Sua inteligência coletiva?

Por que não? Não deveríamos colaborar mais com os nossos, construir conhecimento, vida, propósito e ideias próprias e locais, gerando soluções nossas para os nossos problemas? As igrejas na África possuem um auto-governo invejável pra nós das Américas e Europa. Tão perdidos estamos, sem pai nem mãe, enquanto eles se viram sozinhos, mesmo órfãos. Mas nosso gosto pela hierarquia, autoritarismo e outras doenças como essas - esse BDSM do espírito - nos inclinam pra baixo.

Não temos nós mestres? Não temos nós pastores? Não há óleo aqui em Gileade? Por que recorrer ao outrem para resolver nossos problemas?


PS: Mais um artigo da Série Tirando Leite da Pedra tá chegando. O outro foi aqui.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cortes e Recortes - ULTIMATE VERSION

Esse texto já teve um prólogo e uma introdução (para os desinformados sobre o que raios é a corte).

Acredito que essa seja minha terceira versão deste texto. Ele já foi uma carta aberta, um manifesto, um desabafo. Só não foi um poema porque não sou tão bom assim. Pois bem, argumentemos então. Só quero lembrar que vou transitar entre um panorama geral e o caso específico da IBMA. Ah, Aline, li os seus textos sobre corte, e me ajudaram bastante!




Qual é meu problema com a corte? É o fato de ela ser uma regra. Não só uma regra na IBMA, mas ela em si é regra, norma, mandamento. Para mim, por mais que bem intencionada, ela desrespeita a individualidade do ser humano que crê em Deus e conta com Ele para regular a sua ética e moral.

Na IBMA pratica-se o "beijo só no altar". Tenho ENORMES problemas com isso (e não pensem que é porque eu tenha um desejo oculto, luxúria indomada ardendo no meu espírito). Quero dizer, não há verdadeiro fundamento bíblico para a proibição do beijo na boca. Todas as argumentações que ouço trabalham com apriorismos extra-bíblicos (como o fato que o beijo na boca é sexo oral - RIDÍCULO! Por definição, o sexo oral é a estimulação da zona erógena masculina ou feminina. E não tem essa de "meu corpo todo é erógeno". Zona erógena é aonde está seus órgãos genitais. Acabou. Você pode sentir prazer em ser tocada(o) em outras partes do corpo, mas zona erógena só tem uma) ou puro senso-comum - geralmente negando ao rapaz/moça qualquer controle sobre suas pulsões sexuais. Por favor, se fôssemos tão descontrolados assim, ninguém chegaria aos 12 anos virgem.

Vamos parar um pouco nessa de não conseguir se controlar. Alguém acha realmente que proibir o casal de se beijar vai bastar pra mitigar o desejo sexual? Pensei que DEUS tivesse dado isso pro homem e pra mulher. Como outros dons Dele, precisa ser administrado, mas não suprimido. Isso porque existem cortes mais radicais, onde até pegar na mão é proibido (ou fortemente desestimulado). Da maneira que vejo, esquece-se o papel do Espírito Santo como agente vivo e eficaz que opera nossa salvação. Sem Ele pra nos santificar, não vale de nada qualquer coisa que façamos... imagina a corte!

Embora eu compreenda os pressupostos e as boas intenções dos propagadores da corte, eu realmente não consigo engolir isso tudo. Entendo que a relativização e subjetivação da ética e moral aparece de maneira assustadora para olhos tradicionais (resisto em dizer "modernos", em referência às coisas que escrevo aqui; a dicotomia moderno/pós-moderno que celebro e ataco na mesma frase) e esse tipo de resposta bem "volta às origens" - lembro de Fredric Jameson e suas palavras sobre o presente perpétuo do sujeito contemporâneo - é totalmente compreensível, embora eu a reprove.

Calma. Respire e, se precisar, releia o último parágrafo (acho que eu mesmo vou fazer isso). Vamos voltar? O presente perpétuo, ou a minha leitura dele, é essa vontade de voltar aos "antigos fundamentos", à "antiga forma", baseados nessa crença estúpida que antigamente as coisas eram melhores... como se a tendência do ser humano não fosse a decadência e a podridão - apesar dos chamados avanços e progressos em várias áreas do conhecimento; tudo às expensas de exploração e destruição de si e do Outro.

A imaginação, o abraçar com todas as nossas forças a subjetividade[1], configuram-se para mim nas grandes armas contra o-que-quer-que-seja-que-estejamos-lutando-contra. Não se pode quebrar escudos de ferros com lanças de madeira e pedra. Não podemos achar que Deus se prenderá numa cultura que não é a nossa por qualquer motivo que seja.

Agora, se com "corte", se quer dizer "relacionamento amoroso com ausência de intercurso sexual e carícias pré-coito (as chamadas preliminares) entre dois cristãos compromissados entre si e sua comunidade de fé com vistas a casarem-se"; bem, não é isso que "namoro cristão", uma expressão bem mais conhecida e antiga, que dizer disso? Por que mudar as palavras em primeiro lugar? Porque acharam que elas não traduziam a força de um compromisso diante da maré pós-moderna? Acharam que mudando o nome iria-se magicamente mudar o pensamento de todos e torná-los subitamente mais parecidos com o modelo de hombridade/feminilidade que se queria[2]? Pois pra mim a falácia desse esforço fica evidente.

Meu ponto: A imposição da corte como "A" alternativa a toda a carnalidade e todo mal é mentirosa. Não é a corte. É o Espírito. Sim, agora vocês concordam comigo. Mas me digam se, lá no fundo, não existe uma confiança no sistema religioso que construiu a noção da corte? Vocês também se sentem atraídos pelo medievalismo, pelo aparente cavalherismo disso tudo? Não se enganem, TUDO que a corte alega inaugurar já existia. Ela é pastiche, decaupagé, papéis-machê colados para formar uma estátua gigantesca. Ela própria é sintoma desses tempos sem Pai e sem Mãe.
A solução não é o resgate de um pretenso modelo cultural e historicamente condicionado, nem o falar com outra linguagem as mesmas palavras, nem normatizar a conduta dos cristãos sob o jugo da nova "Lei Mosaica". A solução é tornar cada um responsável por sua própria vida perante o Eterno e pararmos de jogar a culpa por nossos erros no diabo, no sistema ou no Outro.

Não sou eu que vou dizer a quem quer que me leia o que fazer. Sou um ser humano. Posso até recorrer à ética, à tal "Lei natural" do século XVII-XIX, aos imperativos categóricos kantianos. Mas não posso condicionar ninguém à Palavra. Ao que Ela significa para o que a ouve. Todo o foco é o Indivíduo. É Deus, o Absoluto, o Absurdo (porque não-racionalizável), em relação dialética com o Indivíduo[3]. Não sou legitimado como autoridade eclesiástica, não possuo o corpus doutrinário apropriado, não sou velho o suficiente pra apelar para a sabedoria das cãs, nem sou novo o suficiente para ser desculpado de possíveis heresias. Em resumo, tô ferrado!

Agora, eu sei que vai chover pedra após este texto, e quero mais jogar beisebol com elas!

Por favor, critiquem, analisem, concordem, discordem...

E eu sei, tá confuso pra caramba. Desculpem por isso.

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[1] Subjetivo, aqui, é o oposto ao objetivo, isto é, relativo ao sujeito, à pessoa e não no sentido comum e incorreto de "relativo" (as oposições são relativo/absoluto e subjetivo/objetivo e não, elas não são a mesma coisa).
[2]Que é um modelo medievalista e conservador dos papéis de gênero consagrados no Ocidente, homem dominador e mulher dominada.
[3] Vide Kierkegaard em Temor e Tremor para a noção de Absurdo, Rudolph Otto sobre a irracionalidade do Sagrado (que ele chamava de caráter numinoso) e Karl Barth em Church Dogmatics sobre a dialética entre Deus e o homem. Ou você pode buscar na Wikipedia, eles tem boas introduções sobre esses autores. Se você colocar em inglês, acho até melhor, mesmo que os artigos em português não sejam tão maus assim.