quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Que é amizade?

My dear don't leave me now
Close at the edge of my end
All this time you have been my friend
Don't go stay for a while
My dear you're losing me now
This will be my last hour
hear my voice, see my face
See how sick I am
How I long for your embrace

Meu querido(a), não me deixe agora
Perto da ponto do meu fim
Todo esse tempo você foi meu amigo(a)
Não vá, fique um tempinho
Meu querido(a), você está me perdendo agora
Essa será minha última hora
Ouça minha voz, veja minha face
Veja quão doente estou
Quanto anseio pelo seu abraço

(The
Gathering
- Sand and Mercury)
Tradução: Robson Lima






O que é amizade?

Os limites entre a coerção e a liberalidade, entre deixar acontecer e prevenir acidentes, entre o amor e a morte; lições corporificadas e lições idealizadas - onde está o marco delimitador, a via de mão única, o trajeto no mapa, a carta astral, a luz do fim do túnel? Onde? No Absoluto? E como algo poderia estar lá, sendo que tudo debaixo desse sol parece tão... relativo?

Relativo a isto, relativo a aquilo: fé, amizade, amor, sofrimento, a subjetividade humana em si, sua totalidade mesma. Guiada pelas leis relativizantes do devir biopsicossocialhistórico (hífens não são necessários) ela existe há tempos, desde antes de sabermos que o Sol não era o centro do Universo, que estamos um pouco acima dos primatas e que nossa religião não é a única no mundo, nem a mais "correta". A Modernidade, vilã do pensamento mágico e religioso, trouxe essas certezas, escassas porém contundentes, com tantas provas cabais que tudo que poderíamos fazer era, como mortais ignorantes, nos curvar perante a Ciência Positiva - esclarecimento que tudo abrange porque nada enxerga (Adorno).

Que isso tem a ver com amizade? Tudo, eu acho. Penso em "amor líquido" (Bauman), em "declínio das grandes narrativas metassociais" (Lyotard), no individualismo exarcebado de Hall e Giddens - nos tempos atuais e na resposta do Cristianismo a tudo isso, seja como sistema integrado de axiomas, dogmas e cosmovisões razoavelmente concordes entre si ou como, e isto é mais importante pra mim, como disposição íntima de um ser humano que professa crença em suas doutrinas e pressupostos.

O amor torna-se ação no mundo e nas pessoas diante do prisma cristão (do Cristianismo de púlpitos ao menos) e por isso não fazer nada a alguém próximo é tão doloroso, especialmente quando este alguém não é cristão. Nossa amizade com ele/ela, ao menos deveria ser assim (é o que dizem), deveria se resumir num relacionamento desinteressado sexualmente, com um vínculo profundo o suficiente para haver confiança entre ele/ela e você, mas não o bastante para desestabilizar suas crenças (superficiais) pois "a luz não se mistura com as trevas" (onde isso tá escrito que eu quero saber). Já falei sobre isso antes mas agora circunstâncias não-virtuais me impelem de volta a este tema.

Uma "amizade" dessa é verdadeira amizade cristã? Não somos nós que deveríamos ser sinceros, puros, bons em tudo e nunca, nunca, NUNCA negar nada disso para "os outros"? Porque é nisto que o "testemunho cristão" foi transformado, numa capa esfarrapada de fios dourados falsificados, coisa digna de pena o que fizeram com esta Verdade!

Recuso a ser desta forma. Continuarei a ser amigo, vou criar um outro caminho nesse deserto, e que Deus me ajude!


Robson Lima


PS: Sim, isso foi um desabafo.
PS²: Minha palavrinha sobre a corte tá chegando! Perdi a postagem então estou reescrevendo tudo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Cortes e Recortes: Discussão Preliminar

Este é um texto dirigido especificamente para qualquer eventual não-cristão e/ou qualquer um que não esteja familiarizado com a discussão recente em algumas congregações cristãs evangélicas sobre um modo diferente de namoro entre casais heterossexuais (sempre se referirá a casais heterossexuais neste assunto. Aposto que vocês sabem as posições da Igreja Cristã sobre esse assunto). Este modo diferente é convencionalmente chamado de "corte". Estou ciente que para um não-cristão a idéia de um namoro em moldes mais tradicionais, mesmo de maneira não tão radical quanto a proposta pela "corte", no qual, por exemplo, não há sexo entre o casal, é extremamente diferente.

Porém, a "corte" é diferente mesmo deste modelo tradicional de namoro cristão que basicamente relegava a delimitação dos "limites" ao próprio casal, ambos cônscios da moral e ética cristã sobre o assunto. A "corte" propõe, por exemplo, a restrição do contato físico do casal (há casos que nem pegar na mão é permitido) entre outras proibições. Voltaremos a isto em outro momento.

Portanto, este é um texto direcionado. Fique avisado.

O que é a "corte"?
É um sistema de relacionamento sexual pré-nupcial que procura ser uma resposta às freqüentes situações problemáticas que muitos casais cristãos expõem em aconselhamento pastoral. Estas dificuldades dizem respeito aos limites eróticos do namoro cristão.
Suas justificativas e bases teológicas/metodológicas/práticas podem ser encontrados nos livros Eu Disse Adeus ao Namoro, Sua Perfeita Fidelidade e Romance à Maneira de Deus. Existem outros livros, porém é destes três que acredito poder se rastrear toda a discussão sobre a "corte".
Contextualizando as obras:

Eu Disse Adeus ao Namoro é um livro escrito por um Joshua Harris, jovem cristão norte-americano (na época) solteiro. Dos três livros, é o único que procura delinear com maior precisão e clareza as bases teológicas da "corte". O autor usa suas experiências pessoais anteriores para, juntamente com a opinião de autores diversos, mostrar ao leitor que a "corte" possui uma série de vantagens sobre o namoro cristão tradicional. Destaca dentre estas a fuga da lascívia, da promiscuidade e dos demais pecados sexuais aos quais o casal cristão está sujeito nesta situação. Embora conte com passagens autobiográficas, grande parte da argumentação vai ao encontro à Bíblia e uma exegese desta.

Romance à Maneira de Deus é a narração da história de Eric e Leslie Ludy, de como se conheceram e como chegaram ao matrimônio. Da história, vale a pena frisar neste primeiro momento o sonho que Eric alega ter tido, no qual teria lhe sido revelado o rosto de Leslie e o fato de que ela seria sua esposa - antes de tê-la conhecido.

Sua Perfeita Fidelidade é um livro, escrito pelo casal Ludy, que tece comentários bíblicos sobre a história narrada em Romance à Maneira de Deus e acrescenta novos insights e faz uma ou duas correções/esclarecimentos sobre o livro anterior, dentre os quais considero o mais importante o reconhecimento do casal Ludy que a história narrada e vivida por eles não pode ser importada para a vida de todos os cristãos da face da Terra.

Embora os três livros façam apologia à "corte" (mesmo que somente Harris utilize o termo, a biografia do casal Ludy é tomada como exemplo por ele) uma leitura atenta verifica que esta defesa é sutil e por vezes tímida. Talvez por cautela os autores se resguardem de serem defensores extremados de suas posições teológicas. De qualquer modo, é na boca e discurso dos pastores das congregações que encontramos a defesa apaixonada da "corte", muitas vezes, devidamente remodelada para os padrões locais.

É preferencialmente desta segunda acepção da "corte", a local, que nos preocuparemos no artigo a seguir. Porém, como esta depende daquela em todos os seus pressupostos, vimos a necessidade de esclarecer alguns pontos.