sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aforismos II

Já fiz aforismos antes e nada me impede de fazê-los outra e outra vez. São aforismos. Não é necessário ler os anteriores para entender esse. Porém, se você o fizer, provavelmente terá outra percepção da coisa toda.
Ou não.
Please, read it. Thx.


I

"O Reino de Deus está em vós", portanto o Reino, o que quer que seja, é da ordem subjetiva e incapaz de ser totalmente apreendido por palavras. Uma generalização de sua essência mutilará sua Verdade. Repito: a verdade é Deus na carne.

II

A religião funda, assenta, constrói e mantêm a segurança da casa pela morte de todos os seus moradores. Ninguém entrará em uma casa de mortos e feridos. É por isso que ela dá a sensação de paz e calma extremas. Mortos não vão perturbar. De fato, caso o morador esqueça (ou pior, se acostume) com o cheiro, pode até declarar "jamais vi casa tão organizada, quieta, fácil de manter e bem localizada como esta". E aí estará tão morto quanto a casa.

III

O eterno não deriva da finitude. Não choremos pelo amanhã que hoje mesmo se torna ontem. "Eis que faço novas todas as coisas" é a declaração derradeira que reverberará pela Eternidade. A Verdade, que é subjetiva, chama à mudança e à este Amanhã no hoje que logo será ontem. Mas lembre-se: anjos somente são lindos voando pelo céu. Na terra, eles são terríveis, irritantes e, se possível for, até apedrejados e mortos. O finito não aprecia ser relembrado de sua essência. É por isto que o repensar-se indigna tanto o religioso seguro de si. Isto o força a relembrar que não vive no eterno, antes é finito e tal coisa o angustia e destrói-o. Daí mata o eterno na história e no humano.

IV

A incredulidade travestida de crença é a pior das mentiras religiosas. Reconhece o Absoluto, contudo mantém esta crença amarrada por laços de "ciência" e "doutrina". A relativização do Absoluto em qualquer coisa terrena, a compartimentação de Deus (seja qual Deus for este) e a dedução de uma moral e ética desta caixa cósmica - eis aí uma trama fundamental do tecido da religião. A noção que o Absoluto pode devidamente ser agarrado ou entendido pela razão ou pelo ritual - eis aí um engano tão fundamental quanto aquele.