sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páscoa em púrpura

No exato momento que escrevo isto é Sábado de Aleluia. Estou ouvindo Kiss Me do Sixpence None the Richer cantado pelo Catedral após me divertir horrores fazendo nada de muito produtivo.



Falando em música - Rude Cruz por Kevin Max


Eu deveria ter passado este... tempo de outra forma. Ia digitar "feriado" mas graças a um post do Genizah no meu Google Reader fui relembrado que este não é um feriado.

Sabem? Nestas horas é ruim ser protestante iconoclasta pós-moderno. Uma data tão importante do ponto de vista cristão, melhor, a trinca de datas (Quaresma, Paixão e Páscoa) que define nossa religião oposta ao judaísmo e que grita aos nossos ouvidos que as palavras pelas quais devemos guiar nossas vidas não foram proferidas por um louco barbudo com pretensos poderes místicos, mas pelo Filho de Deus Encarnado, O DEUS DESCONHECIDO dos gregos andando com o pé empoeirado no sol da Galiléia.

Individualmente posso reverter esse quadro. Faço "um propósito", como se diz, e busco experimentar tanto a mortificação da carne na Quaresma quanto a celebração do espírito na Ressurreição. Talvez até ceda à tradição de não comer carne por 40 dias ou aproveite os cachos compridos que Deus me deu e faça o papel de Jesus na peça de Páscoa de minha congregação. Eu estaria sendo um cristão melhor. Se eu fizesse essas coisas com a glória Dele em vista.

Porém, de um ponto de vista cristão, não sou um indivíduo. Sou Igreja, a ecclesia santa e universal composta por todos os santos em todos os tempos. A saúde deste Corpo deve ser uma preocupação minha, certo? Ora, eu olho pro lado e SEI que MUITOS estão passando esta Páscoa de uma maneira similar à minha. Não digo que não estamos cultuando a Deus ou sendo depravados. Não. Mas é fato que esta data não é celebrada em nossas igrejas como deveria ser. Com contrição, arrependimento seguidos de festa e koinonia (uso o grego de propósito).

E o problema é meu e seu. De toda a Igreja.

domingo, 27 de março de 2011

Excurso Poético

tudo que peço é força pra continuar
pra lutar a batalha alheia
pra sofrer a dor inteira
e depois me levantar
abre a porta para mim
quero entrar e ficar
fora das crianças armadas
fora das cantigas entoadas
por secos tenores bebendo horrores
divino saber que tudo tem
nada jamais te escapa
por favor faça parar de girar
a roda que sempre rodou
que pare de rodar pra mim

(Robson Lima)



Há anos escrevi isso. E como não tenho mais nada pra postar aqui, vai isso aí mesmo.
Pensando se eu deveria reformular isto. Não uma exclusão como disse antes, longe disso, mas uma reformulação; tornar este blog mais abrangente, fazê-lo falar a mais gente e coisa e tal. Manter esse espaço "eu e o Absurdo" mas criar outros nichos, pra outros textos e (quem sabe) até outros autores.

Pensemos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Outro Lado de "Conquistar a Terra"

Isso aí, nada de mulatonas rebolando. Vá ligar a TV se você fizer questão de ver isso.


Sim, ainda estou vivo e pensando o meu Cristianismo, obrigado. Ando (absurdamente até, há quem diga) ativo no meu perfil do Twitter e pronto pra falar com qualquer um que me dê um reply *carência digital ON

Agora falando (um pouco) mais sério. Estou lá no twitter de um colega meu de lá e vejo um post no blog dele sobre uma agremiação do Carnaval de São Paulo que decidiu falar de Abraão no seu samba-enredo (uma fonte oficial pra vocês não acharem que estou inventando/kibando isso).
"O quê?"
Sim, você leu certo. E não é bloco "gospel" ou coisa parecida. Aparentemente o cara que trouxe a idéia é JUDEU.



Se você tiver nervos de aço, dê o play aí.


Eu me pergunto: Onde estão os porta-vozes do Divino, estes que nos empurram a "conquistar a terra" para D(d?)eus e para seus ministérios. Qualquer mudança social no Brasil atual está sendo acompanhada por eles e a qualquer sinal de "melhora" em indicadores sociais ou na derrocada da "concorrente" (insira o nome da denominação/religião adversária ali) é anunciado como uma nova era de prosperidade e riquezas mil para os fiéis seguidores do ministério Tal e Qual. É sério. até resultado bom do PIB já basta para dizerem que o Brasil será "o celeiro das nações" (se será ou não, pouco importa pro meu argumento). Não importa que o PIB é trimestral, que exportar bens primários não tá com nada na geopolítica atual.

Já disse em outro lugar que o sistema religioso tudo consome e para fazer isso ele generaliza. E que esta generalização TEM que se apoiar em casos específicos e eventos pontuais que são transformados em "espetáculos de fé". Ok. É por isso mesmo que estou estranhando o atual silêncio dos líderes evangélicos nessa questão de Abraão cair no samba.

Nem um pio.

Nem pra condenar.

Nem pra dizer que é um sinal profético.

Interessante né?

"Onde está aquele povo barulhento..."?


Paz do Alto pra todos
@robpurpura

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aforismos II

Já fiz aforismos antes e nada me impede de fazê-los outra e outra vez. São aforismos. Não é necessário ler os anteriores para entender esse. Porém, se você o fizer, provavelmente terá outra percepção da coisa toda.
Ou não.
Please, read it. Thx.


I

"O Reino de Deus está em vós", portanto o Reino, o que quer que seja, é da ordem subjetiva e incapaz de ser totalmente apreendido por palavras. Uma generalização de sua essência mutilará sua Verdade. Repito: a verdade é Deus na carne.

II

A religião funda, assenta, constrói e mantêm a segurança da casa pela morte de todos os seus moradores. Ninguém entrará em uma casa de mortos e feridos. É por isso que ela dá a sensação de paz e calma extremas. Mortos não vão perturbar. De fato, caso o morador esqueça (ou pior, se acostume) com o cheiro, pode até declarar "jamais vi casa tão organizada, quieta, fácil de manter e bem localizada como esta". E aí estará tão morto quanto a casa.

III

O eterno não deriva da finitude. Não choremos pelo amanhã que hoje mesmo se torna ontem. "Eis que faço novas todas as coisas" é a declaração derradeira que reverberará pela Eternidade. A Verdade, que é subjetiva, chama à mudança e à este Amanhã no hoje que logo será ontem. Mas lembre-se: anjos somente são lindos voando pelo céu. Na terra, eles são terríveis, irritantes e, se possível for, até apedrejados e mortos. O finito não aprecia ser relembrado de sua essência. É por isto que o repensar-se indigna tanto o religioso seguro de si. Isto o força a relembrar que não vive no eterno, antes é finito e tal coisa o angustia e destrói-o. Daí mata o eterno na história e no humano.

IV

A incredulidade travestida de crença é a pior das mentiras religiosas. Reconhece o Absoluto, contudo mantém esta crença amarrada por laços de "ciência" e "doutrina". A relativização do Absoluto em qualquer coisa terrena, a compartimentação de Deus (seja qual Deus for este) e a dedução de uma moral e ética desta caixa cósmica - eis aí uma trama fundamental do tecido da religião. A noção que o Absoluto pode devidamente ser agarrado ou entendido pela razão ou pelo ritual - eis aí um engano tão fundamental quanto aquele.