quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Resenhando uma amiga...

...espero que ela não se importe. =]

Como já disse antes, agora sou editor de um outro blog, mais voltado para um Cristianismo mais "institucional" ou o quanto isso é possível tendo alguém como eu na frente disso. Não estou sozinho nessa, tem pessoas maravilhosas andando comigo e Deus queira que haja muitas outras. Mas não é sobre isso que quero falar agora.

Uma dessas pessoas, a Alynne, escreveu um texto neste blog, no qual ela fala contra a nossa tendência de separar vida espiritual de vida secular (uma diferença apenas didática que, como tantas outras didaquês, acabamos tomando como "a" regra), coisa que eu também tenho levantado minha pena virtual e minha língua (às vezes) ferina.

A divisão entre sagrado e profano é MUITO antiga, talvez inscrita mesmo na própria ordem das coisas (penso em Is 45:7 e Gn 1:4), mas não é por isso que devo achar que tudo está ótimo do jeito que está e que toda essa neve em Nárnia é uma coisa natural. Quero dizer, sagrado é uma coisa e o profano é sua negação, tudo bem, mas quem diz o que é isto e aquilo? A Bíblia, correto? Mas ela precisa ser interpretada pelo sujeito e esse axioma que é a base de toda a merda que se conhece - ouça-se a multiplicidade de denominações cristãs, cada uma dizendo-se "a" igreja (e não me venham com besteira e dizer que elas não o fazem. É a sua afirmação, negar o outro). Não é "tudo culpa de Lutero", como digo de brincadeira, mas suas ações tiveram essa consequência, ele querendo ou não. Acontece, ora essa. As coisas saem do controle.

Jesus, por outro lado, dizia "ouviste o que disseram os antigos (...) mas Eu vos digo", em um claro discurso de superioridade e controle sobre suas palavras e ações, aliás, Ele é o único que poderia afirmar tais coisas (Ele podia tornar cabelos brancos e pretos...) e ainda ser inculpável. Jesus era ascético, não nos enganemos nisso, mas não na forma exterior, limpando copos por fora e evitando membros de outra etnia. Ele o era enquanto verdadeiro asceta, pregando Sua supremacia interior, a supremacia de Suas palavras, sobre qualquer outra coisa/pessoa/tempo que existiu ou viesse a existir. O tal do querigma suprahistórico de Rudolph Bultmann(em inglês) poderia até se aplicar nisso, eu acho. Mas o ponto ainda não é esse.

Então temos que a divisão sagrado/profano é um fato histórico e social recorrente nas sociedades humanas (e talvez inscrito na própria estrutura do mundo) e vamos tomá-la por certo. Jesus reforça essa concepção, mas diz ao mesmo tempo que certas coisas consideradas santas em seu tempo não eram tão santas assim. Certo. E agora?

A questão que a Alynne não levanta, acho que por falta de espaço mesmo, é justamente essa: Jesus é o exemplo de vida para o cristão. Logo, se Ele não separava em compartimentos estanques as áreas de sua vida (trabalho| igreja| faculdade| família | etc.) por que fazermos isso? Alynne diz para não o fazermos, e aponta para Jesus como representante desse caminho melhor, da devoção total e completa (os "100% em tudo" do texto), algo bem pietista mesmo. Mas o por quê de não conseguirmos seguir o exemplo do Mestre nesse particular fica intocado. É tudo correto, porém incompleto (crítica construtiva tá legal amiga?). Se tenho algumas teorias a respeito? Ei, você não lê o blog? Convido você a fazer isso...

Tô lendo um livro, A Igreja na Cultura Emergente, uma coletânea de artigos reunidos por Leonard Sweet sobre justamente as repercussões da nossa tal cultura pós-moderna (ou ultramoderna, ou supermoderna, ou contemporânea...) no Evangelho, ou melhor, no modo como a Igreja tem vivido e apresentado o Evangelho às pessoas - meio que o assunto deste blog também, só que eu faço isso de um prisma pessoal e propositalmente não-institucional. As novas tecnologias de informação (vídeo-conferências, disseminação da Internet, datashows substituindo retroprojetores, carros/motos/trens/aviões supervelozes e por aí vai) são apontadas por alguns dos escritores como umas das grandes responsáveis pelo emburrecimento do povo cristão na atualidade e a consequente falta de discernimento da relação sagrado/profano.

Não sei se concordo 100% com essas afirmações (um dia vou falar mais sobre esse ponto; a tecnologia no culto e serviço cristão e possíveis implicações disso, mas talvez demore um pouco. Teria que terminar Pierre Lévy, esse livro do Sweet e outras 3 ou 5 leituras), assim como não sei como concordo 100% com coisa alguma a não ser o "Siga-Me" que uma vez me foi sussurado em ouvidos pré-adolescentes.

O fato permanece contudo: somos um bando de emburrados e embrutecidos pela falta de percepção da sutileza da vida atual e cegos para as consequências da decisão consciente por Cristo, portanto incapazes de dizermos a diferença entre o sagrado e o profano, o puro e impuro, o Deus e o anti-Deus. Talvez não em nível pessoal, seja pela inconsciência ou pelo seu extremo oposto, porém em nível institucional/relacional, isto é, nós enquanto "classe", "clã", "tribo", escolha sua metáfora.

Este é todo o problema né? O Homem lato sensu, o cristão pós-moderno dançando em meio á guerra... ou será que essa guerra existe somente na minha cabeça?

Go figure it out.

3 comentários:

Alynne Sipaúba disse...

Amigo,obrigada pela crítica!
e..gostei do seu ponto de vista.
Na verdade o texto é mais reflexivo.
A pessoa lê e tira suas conclusões do que deve fazer...acho que citar sobre o q a pessoa deve ou não fazer fica cansativo.
E p/ finalizar...fica a questão: A bíblia diz para seguirmos o exemplo de Jesus. Mas será que realmente conseguimos ser pelo menos 50% do que ele foi?

Alynne Sipaúba disse...

amigo..quando falo que o texto é reflexivo, estou falando do meu texto....só p/ não confundir!

.vox clamantis in deserto. disse...

Fala Rob, é a cris! Ops! A karla.

Me adiciona.

Abraçowwwwww