E lá estava eu, no culto de domingo à tarde na minha igreja (que aliás é televisionado, querendo assistir pela curiosidade de o que alguém como eu faz ali, clique aqui - propaganda mode OFF), com uma amiga que não vejo com muita frequência. Estávamos ali há horas, com reuniões e coisas assim pra fazer, e outras ainda para se estar após aquele culto, quando nós dois fomos surpreendidos pela frase bombástica:
"Precisamos transformar regras e normas em relacionamentos".
Pasmado procurei a partir daí prestar bastante atenção no que era dito pelo pastor - já que o que ele diz se tornou progressivamente (muito) mais importante do que a Bíblia diz. Melhor ainda, no que a ortodoxia diz que ela diz. Ou dizia, porque a ortodoxia perdeu muito da sua proeminência nestes tempos pós-modernos lyotardianos onde a performance e a rapidez da informação que passa entre o input e output é a verdadeira estrela do conhecimento ético, moral e estético.
O importante é que uma mensagem que prometia muito entregou momentos marcantes, permeados naquela cobertura de palavras de sempre. Entretanto, foi mais do que muito que eu esperava, e isso já é muita coisa. Falou comigo. Basta.
Penso que esse discurso subversivo de hierarquia eclesiástica (não necessariamente pastor-membros, antes todas as relações de autoridade dentro de uma igreja "M12") está fadado a permanecer isto: um discurso. Por razões que ainda não sou capaz de formular inteiramente, acredito que a decadência e a "mornidão espiritual" sejam absolutamente consequências necessárias da Igreja atual, com causas provindas dela mesma. Somos nosso próprio diabo, por assim dizer. O Avivamento (com maiúscula mesmo) é necessariamente interior e subjetivo e daí se manifesta no exterior, e é necessário que seja desta forma (como efetivamente foi no evento prototípico de Atos 2), afinal, o Absurdo não é em si algo totalmente outro?
A discrepância, a contradição, o conflito entre o sagrado e o profano, esses dois titãs aparentes criadores e destruidores da vida humana! Não é por nada que Shiva e o maniqueísmo (aqui tem um estudo psicanalítico interessante, ainda nisso) surgiram. Não parece ao humano moderno por estar imerso em desencantamento e racionalidade instrumental, mas a vida É terrivel, fascinante e suplantadora de nós. Daí o temor ao Divino, não a barganha que se institui no arraial evangélico.
O "Antigo Testamento", tão venerado nesses tempos de M12 e profecias mais abundantes que brigadeiro em festa de criança, aponta claramente esse caráter outro e por isso horrible (como Calvino diria acerca da predestinação - links contra e a favor) do Divino usando o simbolismo da época - fumaça, fogo, luz cegante... Ele recorreu a estes símbolos na sua "conversa infantil" (Calvino) pra que nós entendéssemos este fundamento: Ele é além de nós.
Por isso Jesus se torna o Mediador, o que liga lá e cá, que junta este mundo e o porvir em Si mesmo e todas as coisas reúne em Si mesmo. Não há "mundo exterior", um "mundo" na acepção comum do crente, esse lugar onde Deus ou Sua influência não está. Existem locais na rede social que a Igreja não atua de forma proeminente. A prática cristã (e SEMPRE é ela a culpada!) nega este postulado, mesmo intelectualmente concordando com ele, ao prescrever o tabu, a proibição, o maldito "não toques, não proves, não manuseies" que Paulo tanto falou contra (cl 2:16-23)! Pois é isto, o tabu com aparência de santidade, que nega o poder do querigma de Cristo - sois livres.
Não é isto o gospel? O esforço de criar uma bolha cultural para que todos vejam como somos diferentes? Não é posar para as fotos do "mundo" (argh!) com um sorriso largo e artificial nos lábios? Afinal, todos somos poderosos e capazes não é? Todos temos todo o controle e coisas como crises existenciais, depressões e problemas afins não nos afetam! Pois temos Deus em nosso coração! Bendita panacéia contra todo o mal! E isso nos basta.
I wonder... will that be?
O gospel mascara, melhor, cimenta a máscara social que chamamos "testemunho cristão" (pontuei isso uma vez) e massacra nossa individualidade dada por Ele (veja aqui). Violenta-nos e gostamos disso, pois achamos que esta dor é cura para os ossos. Dançando condenados, alegremente condenados.
Cesso o mindstorming por aqui.