A cada vez que me encontro agarrando um rochedo; abrigo natural em tempestades no mar, penso em muitas coisas, talvez nem todas relacionadas diretamente com o ocorrido imediatamente antes quando caí do navio (ou helicóptero, vai depender de quanto dinheiro tenho disponível). Aquela briga com o capitão. Com o cozinheiro. Servente duma figa que não limpou o piso! Piloto incompetente que me deixou nessa situação! E a lista de pensamentos nada lisonjeiros prossegue. Entretanto também se pode pensar em várias outras situações que não teriam ligação direta com o episódio, mas que, em decorrência, aumentam em importância e urgência. A carta que não enviei. O e-mail de corrente chatíssimo que não respondi — mesmo sendo de um amigo de infância —, o abraço que não retribuí de maneira apropriada, o “eu te amo” que nunca disse…
Talvez devêssemos viver como em iminência de morte certa e terrível. Talvez assim valorizássemos mais a vida e as coisas debaixo do sol que trazem alegria e conforto para os cansados de espírito. Ou então isso só aumentaria o hedonismo de nossos tempos. Bem, apesar dessa possibilidade alarmar os moralistas, ao menos teríamos mais “liberdade” e maior “certeza” — quero dizer que o dualismo Bem-Mal ficaria nítido o suficiente para toda essa ortodoxia do “pode-não-pode” ser legítima.
Viver entre seres humanos é complicado. A legião de psicólogos está aí como evidência disso. Viver entre seres humanos em constante negação da sua humanidade (e da dos outros ao seu redor) é pior ainda. E sabe o que é pior ainda? É ser cônscio dessa situação e mesmo assim cair nela, uma e outra vez.
O “evangelho gospel” dominante na nação brasileira fez, e continua fazendo, mais estragos do que comumente se pensa. Não foram somente as doutrinas históricas que foram perturbadas ou as formas de liturgia clássica abolidas. Mentes e espíritos também foram enfeitiçados pela macumba gospel de nossos dias. Como? Desrespeitando as individualidades e forçando todos em um esquema homogeneizante apropriadamente concebido por meia-dúzia de mentes detentoras de capital simbólico — ou “unção”.
Ignora-se que o Corpo de Cristo é corpo e por isso especializado.
É por isso que dou graças a Deus por ter rochedos à minha disposição. Sejam amigos, conhecidos, blogs, sites ou revistas quaisquer. Sempre há um rochedo para o náufrago de espírito aqui. Graças ao Senhor dos Mares.
Nele, o Alto Refúgio
Robson Lima